César Matoso apresentou, no dia 19 de novembro, «Saudade Singular» e o Cine-Teatro Louletano esgotou para ouvir, ao vivo, o segundo disco de originais deste jovem talento da terra. Aos 25 anos, César Matoso é já um valor confirmado da nova geração de fadistas portugueses e o objetivo, agora, é ultrapassar as fronteiras do Algarve e partir à conquista do mercado nacional e internacional.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

César Matoso mostrou ao público, na noite de 19 de novembro, no Cine-Teatro Louletano, o seu novo trabalho discográfico, intitulado «Saudade Singular», um álbum que tem na sua maioria temas originais feitos por alguns poetas convidados e por si próprio, com muito fado tradicional, mas também músicas originais e algumas homenagens. Uns dias depois, já recuperado das emoções fortes, estivemos à conversa com o louletano, não na sua cidade natal, mas em Faro, no Castelo, espaço da Cidade Velha, à beira rio, onde atua todas as segundas e quintas-feiras.
De olhar colocado na Ria Formosa, uma das sete maravilhas de Portugal, César Matoso recordou o seu primeiro disco, chamado, precisamente, «Fado Primeiro», lançado em 2011, na altura com apenas três originais, sendo os restantes temas de outros autores e que faziam parte do seu repertório do dia-a-dia. Bem diferente é «Saudade Singular», composto por 12 fados originais, uns com músicas criadas de propósito, outros recorrendo a melodias tradicionais que depois foram adaptadas aos novos poemas. A estes somam-se três homenagens, a Carlos do Carmo, António Mourão e Amália Rodrigues.
O projeto «Saudade Singular» começou a dar os primeiros passos há cerca de dois anos, num processo longo de amadurecer. “Queria perceber bem o que queria cantar e apresentar ao público nesta fase da minha carreira e o resultado final foi muito prazeroso”, explica César Matoso, que se iniciou na canção nacional há oito anos, depois de ter passado por outros géneros musicais. “Participei em vários projetos de pop/rock e estreei-me no fado a convite do Valentim Filipe, porque viu em mim qualquer coisa diferente. Aceitei o desafio para participar num concurso de fado e senti, de imediato, algo especial”, recorda.
Nascido em Alte, César Matoso estava acostumado a conviver com o fado desde tenra idade, mas só por volta dos 20 anos assumiu a música de forma mais profissional, quando terminou os estudos em Teatro e Representação. “Decidi tornar isto um projeto sólido e bem estruturado mas, no início, ainda dei aulas de Atividades Extra Curriculares na área das artes. Há três anos, dediquei-me a tempo inteiro ao fado, já não conseguia conciliar as duas facetas”, indica, entendendo que o segredo para se ser bem-sucedido na transição de amador para profissional é trabalhar imenso, mas com foco. “Desde que nasci que percebi que comunicar seria a minha vida, fosse a representar, a apresentar ou a cantar. Depois, cheguei à conclusão que cantar era, efetivamente, o que me dava mais prazer, onde encontrava aquilo que era mais verdadeiro e espontâneo em mim. Também vi que era importante criar uma imagem através da qual as pessoas me identificassem facilmente, ao invés de ser mais um fadista”, relata o entrevistado.
Nessa caminhada por criar um estilo próprio, uma imagem que o distinguisse da multidão, participou em diversos concursos de talento nos vários canais de televisão, uns correram melhor do que outros, admite, mas tudo contribuiu para o nome de César Matoso ir ganhando força. “A pouco e pouco fui traçando o meu caminho e decidindo para onde queria ir, absorvendo o que os meus colegas fadistas e os músicos me transmitiram e fazendo uma enorme pesquisa de repertório para perceber que temas me tocavam mais fundo. No início até fui bastante criticado por a minha forma de estar no fado ser diferente do habitual – melhor ou pior cabe ao público dizer – porque encaro as atuações como um espetáculo e não como uma noite de fado. E, no espetáculo, tem que haver espaço para conversar com as pessoas, para o público se divertir, bater palmas, cantar comigo, para chorar e sorrir”, descreve.