Das influências do jazz de Sara Badalo e do hardcore de Pedro Matos nasceu o projeto «Storm & The Sun» e o tema de apresentação – Moaning – já está a dar que falar nas redes sociais e no you tube. O objetivo, por isso, é avançar rapidamente para estúdio para gravar um EP, numa sonoridade que combina o folk, gospel e o blues, e com uma forte vertente visual associada. Nós, por cá, não nos cansamos de ouvir «Moaning» e esperamos ansiosamente por mais.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

O ponto de encontro foi o ambiente country do restaurante/bar do Karting de Almancil, para ficarmos a conhecer «Storm & The Sun», o novo projeto de Sara Badalo e Pedro Matos, dois músicos jovens mas que andam neste mundo há vários anos. Sara cresceu embalada pelo jazz, Pedro está mais ligado ao hardcore, conheceram-se, apaixonaram-se, beberam das influências um do outro e, de forma natural e espontânea, se começou a escutar uma nova sonoridade pelos cantos da casa. “Fomos gravando no telemóvel as músicas que iam aparecendo, mostramos a amigos, que nos incentivaram para seguir em frente porque tinha bastante qualidade. Decidimos acatar esses conselhos e fomos uma semana para Grândola, fechados numa casinha, para alinhavar as coisas”, conta Pedro Matos.
Uma espécie de retiro que não teve nada de espiritual nem foi para grandes meditações, mas para trabalho intenso. “Levamos guitarras, amplificadores, computador e teclado. A nossa intenção era tirarmos umas pequenas férias, porque eu tinha terminado a faculdade, mas montamos praticamente um estúdio”, recorda Sara Badalo. “Dava-nos prazer tocar música o dia todo, íamos para a praia com a guitarra, a meio da noite fugíamos para o cimo de um monte com a guitarra e um amplificador e tocávamos para os morcegos”, prossegue a letrista e vocalista, retratando uma imagem que estamos habituados a ver nos filmes de Hollywood mas que raramente acontece na vida real.
Num instante gravaram 10 temas, no meio do monte, perto de uma igreja, e todos os típicos sons noturnos ficaram registados no telemóvel, sons que, depois, já em estúdio, tentaram reproduzir. “Ouvem-se os grilos e o vento e gostamos imenso do efeito que deu às músicas, mas não foi uma coisa planeada”, admite Pedro Matos, com Sara Badalo a reconhecer que, à primeira vista, o jazz e o hardcore não são estilos muito compatíveis. “Contudo, ambos têm uma grande vontade de exprimir emoções. No jazz antigo, por vezes a forma não é a mais correta e os acordes não são os mais bonitos, mas isso não é o mais importante. Nós queremos que a nossa música expluda, que transmita emoções, que seja um pouco interventiva e que fale dos problemas atuais”, explica Sara.
Os dois universos musicais acabaram por se unir num ponto intermédio, com uma banda de folk/gospel/blues, um estilo que não é muito popular em Portugal, mas essas considerações comerciais ou as modas do momento não apoquentam a dupla. “Claro que queremos que a nossa música chegue ao maior número de pessoas possíveis, mas não pensámos nisso quando estávamos a compor. Seguiu um rumo diferente do que estava habituado a fazer em «Devil in Me», talvez mais parecido com «Sam Alone & The Gravediggers», mais minimalista, mas o resultado final tem sido bem aceite. Atualmente, também vemos cantoras pop com músicas folk ou country, está tudo descaracterizado, é tudo camaleão”, analisa Pedro Matos.
Natural foi igualmente a opção por cantarem em inglês, a língua que Sara Badalo está mais acostumada a usar nos projetos em que está envolvida, faz parte do seu vocabulário do dia-a-dia. “Quanto estou a cantar, também estou a pensar, no meu subconsciente, em inglês”, confirma a vocalista, embora isso não impeça que também componham na sua língua materna, esclarece Pedro Matos. “Foi-nos feito o convite para criarmos uma música para um filme, que teria que ser em português, e fizemos algo semelhante a «Storm & The Sun» e que não nos soa totalmente estranho quando ouvimos, portanto, é possível que venhamos a repetir a experiência no futuro”.