A Associação de Atletismo do
Algarve vai a votos, no dia 18 de dezembro, para eleger uma nova direção para
os próximos quatro anos, num momento que marca a saída de presidente de Artur
Lara Ramos. Aos 69 anos de idade, com mais de meio século dedicado à modalidade,
o antigo professor de educação física desempenhou praticamente todos os cargos
dirigentes ligados ao atletismo, deu o pontapé de saída para o mítico Cross das
Amendoeiras e viu crescer os grandes atletas e treinadores da atualidade.
Agora, porém, chegou a hora de dar lugar aos mais novos, com a confiança de que
o seu sucessor, seja ele qual for, terá capacidade para levar o barco por
adiante, assim haja coragem para lutar pelas mudanças que são necessárias
implementar.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
É no quinto andar do número 119 da Rua Ataíde de Oliveira,
em Faro, que está localizada a sede da Associação de Atletismo do Algarve, Entidade
de Utilidade Pública criada há 53 anos e da qual é indissociável o nome de
Artur Lara Ramos. Enquanto atleta, foi campeão em diversas modalidades, do
atletismo ao ténis de mesa, rugby, futebol e hóquei em patins. Depois,
terminada a carreira desportiva, foi professor de educação física, treinador,
Diretor Técnico Regional do Algarve, Diretor Técnico Nacional, Relações
Públicas da Federação Portuguesa de Atletismo, Selecionador Nacional e
presidente da Associação de Atletismo do Algarve durante vários mandatos, uma
caminhada ao alcance de muito poucos e que chegará ao fim, no dia 18 de
dezembro, quando transmitir o testemunho ao seu sucessor.
O percurso no Algarve iniciou-se em 1975, depois de concluir
a vida militar, em Tancos, numa altura em que era coordenador das pistas de
atletismo do Distrito de Santarém da então Direção Geral dos Desportos. Veio
dar aulas para a Escola Secundária de Olhão, depois, no Liceu João de Deus e na
Escola EB 2,3 D. Afonso III, em Faro, e novamente em Olhão, na Escola EB 2,3
Prof. Paula Nogueira. Em simultâneo, estava ligado à Associação de Atletismo do
Algarve como Diretor Técnico Regional e deu aulas de Educação Física na
Universidade do Algarve e no INUAF, em Loulé. “Estavam na Associação grandes
senhores como o António Noronha, o Fortes Rodrigues, o Franquelim Marques e
outros e, em 1977, deu-se, na minha opinião, o ponto mais alto da nossa
história, com a criação do Cross Internacional das Amendoeiras que, no dia 5 de
fevereiro de 2017, vai completar 40 anos de existência”, recorda.
Enquanto folheia o álbum de memórias, Artur Lara Ramos considera
que as pessoas devem sair dos seus cargos nos momentos oportunos e admite que
muito mais poderia ter feito nos seus mandatos, mas os fundos e meios sempre
foram escassos na Associação de Atletismo do Algarve. “Na época, fui treinar o
Liceu Nacional de Faro e fomos várias vezes campeões nacionais, tínhamos uma
equipa fabulosa. Na Farauto também fomos campeões nacionais da terceira e
segunda divisão e, no Imortal, passaram por lá o Carlos Lopes, Ezequiel
Canário, Rafael Marques, José Frias e Aldino Viegas, ou seja, tivemos sempre
equipas bastante fortes no corta-mato. O Benfica e o Sporting eram esteios
inultrapassáveis e nós ficamos duas vezes em terceiro lugar”, conta, lembrando
alguns dos seus triunfos enquanto treinador.
Para o desenvolvimento do atletismo no Algarve muito
contribuiu o Cross das Amendoeiras, nas Açoteias, em Albufeira, nomeado em três
ocasiões como a melhor prova do género do mundo, o que levou mesmo a pista a
receber uma edição do Campeonato do Mundo de Cross, em 2000. “A nossa associação
possui, sem sombra de dúvidas, o melhor currículo no plano nacional, pois
organizamos um Campeonato do Mundo de Cross, um Campeonato do Mundo de Estrada,
um Campeonato do Mundo Militar, um Campeonato do Mundo Trabalhador, um
Campeonato do Mundo Universitário, dois Campeonatos do Mundo Federado, um
Campeonato do Mundo para Deficientes, um Campeonato da Europa de Cross, mais de
uma vintena de Taças da Europa de Cross. Isto ajudou a crescer o atletismo, mas
também outras modalidades”, garante Artur Lara Ramos, recordando como tudo
começou, em 1977. “Fez-se um protocolo entre a Direção Geral de Desportos e a
Aldeia das Açoteias para reservar, durante cinco meses, 40 camas para atletas e
o futebol depressa seguiu o exemplo e ali começaram a realizar os seus estágios.
Foi ali que os juniores que ganharam os Campeonatos do Mundo de Futebol de
Riade e Lisboa treinaram, a par de grandes equipas do norte da Europa”.