Arrancou, no início de dezembro, na Eslovénia, o projeto MEDFEST, apoiado pelo programa INTERREG Mediterranean e que pretende fazer frente ao desafio da sazonalidade e da diversificação dos destinos turísticos tradicionais do «sol e mar» com produtos novos e sustentáveis baseados na herança culinária do Mediterrâneo. Em Portugal, o projeto é coordenado pela Associação In Loco e o objetivo é criar um destino de turismo gastronómico sustentável com base na Dieta Mediterrânica.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Artur Filipe Gregório

Eslovénia, Itália, França, Espanha, Portugal, Croácia, Grécia e Chipre uniram-se em torno do projeto MEDFEST, suportado pelo programa INTERREG Mediterranean, com o intuito de aproveitar a gastronomia da orla mediterrânica para criar destinos turísticos sustentáveis que não dependam exclusivamente do binómio «sol e mar». Isto porque a motivação principal de muitos turistas e visitantes deixou de resumir-se ao «ver & consumir» e evoluiu para atividades de «experienciar & vivenciar». Assim sendo, expressões intangíveis como a paisagem cultural, as comunidades, a criatividade, a música, a comida e o estilo de vida assumem um peso cada vez mais preponderante rumo ao turismo sustentável e que deixe de ser encarado como «predador» dos recursos naturais dos vários países e regiões.
Dentro desses valores, o MEDFEST incide essencialmente sobre a gastronomia e o objetivo é criar ou melhorar, no espaço mediterrânico, estratégias para o desenvolvimento do turismo gastronómico sustentável de pequena escala e desenvolver experiências culinárias sustentáveis, ligando os espaços costeiros com o interior rural. A Identidade Cultural Mediterrânica e a sua herança culinária, traduzida na forma de utilização dos produtos e ingredientes produzidos sazonalmente pelas comunidades locais, inspirada nos saberes tradicionais e desfrutada em locais plenos de conteúdo e significado, desempenha então um papel único, estimulando as ligações de cooperação entre operadores locais e a relação entre desenvolvimento territorial e turismo sustentável.
Em Portugal, o projeto vai ser coordenado pela Associação In Loco e o tema escolhido é a Dieta Mediterrânica, um estilo de vida reconhecido como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO e cujo regime alimentar associado é classificado pela Organização Mundial de Saúde como sendo de excelência. “O Algarve é um território que foi profundamente transformado pela indústria do turismo, do ponto de vista cultural, social, económico, etc, etc. No entanto, cada vez mais os agentes do setor estão a apostar num turismo que seja sustentável, que tenha uma articulação de forças que permita repercutir-se ao longo do tempo, envolvendo as comunidades e possibilitando a conservação dos recursos”, explica Artur Filipe Gregório, da In Loco, confirmando que o turismo gastronómico é um dos grandes motivadores para a deslocação de pessoas de um país para outro e para o contato com outras culturas e comunidades.
A gastronomia é, na opinião do entrevistado, um facto social total que combina, de forma bastante harmonioso, os produtos locais, a agricultura, a paisagem, o clima, a cultura e a sociedade, e que em Portugal esse fenómeno é ainda mais evidente. “A gastronomia portuguesa é extremamente rica e está cada vez mais a descobrir a sua identidade cultural, porque a Dieta Mediterrânica tem mobilizado as pessoas e as instituições de uma forma tremenda. É um estilo de vida que faz parte do mais profundo que nós temos, daquilo que somos, de como vivemos”, enfatiza o coordenador do projeto, dando o exemplo de que a Rota da Dieta Mediterrânica rapidamente ultrapassou as fronteiras do Algarve e inclui parceiros de vários pontos do país e, inclusive, do outro lado da fronteira, da vizinha Espanha. “A lógica da RDM não é focar num único território, mas sim trabalhar mais intensamente onde esses recursos e memórias estão mais presentes, e vai ser uma plataforma espetacular para, em cima dela, se abordar a questão do destino turístico gastronómico sustentável. No fundo, temos uma vantagem face aos outros países parceiros, porque já temos uma rede em funcionamento”, considera Artur Filipe Gregório.