Terminou há duas semanas a
temporada desportiva para Joana Schenker e 2016 foi, de facto, um ano de ouro
para esta atleta alemã nascida e criada em Sagres, pois revalidou o título de
campeã nacional e de campeã europeia de bodyboard. Mais do que isso, no primeiro
ano em que disputou todas as provas do Mundial da modalidade, alcançou um
prestigiante quarto lugar. Contudo, não há muito tempo para festejos e já
começaram os preparativos para a próxima época, pois a feroz concorrência quer
contrariar a hegemonia de Joana Schenker no bodyboard do velho continente.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
O Algarve é assim: meados de dezembro, o sol brilha no céu
limpo de nuvens, as temperaturas estão excelentes para a época do ano que se
atravessa. Claro que, dois dias depois, a chuva chegou finalmente, mas nesta
manhã de segunda-feira o tempo estava, de facto, fantástico e não nos admiramos
por encontrar Joana Schenker bem cedo na Praia do Tonel, em Sagres, de fato
vestido, prancha debaixo dos braços, a entrar pelo mar adentro para treinar, ou
desfrutar, das ondas da costa vicentina. É dentro de água que melhor se sente
esta alemã de 29 anos nascida em Vila do Bispo, tendo começado a praticar
bodyboard logo aos 13 anos.
Para trás estavam os festejos de mais um título de campeã
nacional e de campeã europeia, bem como a euforia de ter concluído o exigente
campeonato do mundo na quarta posição, num ano em que praticamente tudo lhe correu
bem. “No Nacional e no Europeu, o objetivo era voltar a ganhar, mas todos os
anos a tarefa está mais difícil, a concorrência anda a treinar bastante. No
Mundial, as expetativas eram mais baixas, pretendia apenas ficar no Top 10. A
primeira parte da temporada nem foi muito positiva mas, quando as provas vieram
para a Europa, consegui recuperar os pontos e até fiquei em terceiro lugar.
Depois, no desempate, terminei na quarta posição”, conta Joana Schenker,
supercontente pelos resultados alcançados.
Recuando ao passado, percebemos que a entrada da jovem para
este desporto foi previsível, depois dos pais terem escolhido o Algarve para
criar a família num ambiente mais natural e tranquilo. Isto porque, no concelho
de Vila do Bispo, o bodyboard é rei e senhor e nem se colocou a hipótese de
experimentar o surf, modalidade que atrai tantos estrangeiros ao longo de todo
o ano. “Estamos num sítio onde o mar está mesmo ao alcance da mão e qualquer
miúdo que queira praticar desporto vai para o bodyboard. Claro que, naquele
tempo, havia menos mulheres na água, mas desfizeram-se alguns preconceitos que
existiam e Vila do Bispo tem uma grande tradição nesta modalidade. Mesmo hoje
os líderes de opinião, os miúdos mais fixes da escola, fazem bodyboard, há
pouca gente no surf”, observa a entrevistada, sempre de sorriso nos lábios.
Todos praticarem não é o mesmo, claro, que todos tornarem-se
atletas profissionais, mas o sonho foi ganhando força e alicerces em Joana
Schenker à medida que ia dando passos sólidos nas camadas jovens. “Mais tarde,
na primeira vez que competi no Open, fiquei logo em segundo lugar, as coisas
foram crescendo gradualmente e, de repente, estava praticamente toda focada no
bodyboard. Mas 2016 foi o primeiro ano em que posso dizer que vivi apenas da
modalidade”, explica, acrescentando que a vertente desportiva nunca prejudicou
o percurso académico. “Só quando concluí o ensino secundário é que tive que
fazer uma opção – ir para a universidade ou seguir no bodyboard – porque era
impossível conciliar um curso superior com o calendário das provas”, reconhece.
Um percurso onde contou com o total apoio dos pais, aliás, a
mãe ia sempre levá-la e buscá-la à praia, pelo que não foi nenhuma surpresa
quando a filha fez a sua escolha. Opção da qual nunca se arrependeu, mesmo
consciente das dificuldades que é arranjar apoios financeiros para participar
nas provas. “Ninguém faz bodyboard a pensar no dinheiro que vai ganhar, temos
os pés bem assentes no chão, mas, quando gostamos a acreditamos realmente de
algo, damos o nosso melhor. Não somos o típico atleta que fica alojado num
hotel durante as competições ou que viaja de avião em primeira classe, tentamos
fazer as coisas sempre da maneira mais barata e, no meio disto tudo, fazemos
muitos amigos e vivemos experiências incríveis”, destaca Joana Schenker.