A «Árvore dos Sonhos» era
apenas mais uma atividade da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo para animar
o quotidiano dos seus utentes, por ocasião do Dia Mundial dos Sonhos, mas
tornou-se numa bola de neve mediática e, desde então, muitos têm sido os idosos
que viram os seus sonhos tornados realidade. E sonhos para concretizar tem
também esta Misericórdia, conforme ficamos a saber depois de uma conversa com o
Provedor Armindo Vicente, no Lar de Sagres.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Armindo Vicente
Longe vai o tempo em que as Misericórdias eram geridas pelo
padre da paróquia e viviam do voluntariado das gentes locais. Hoje, na maioria
dos casos, são verdadeiras empresas, com uma forte estrutura administrativa e
orçamentos anuais avultados e disso é exemplo a Santa Casa da Misericórdia de
Vila do Bispo, a segunda entidade com mais peso no concelho, apenas atrás da
Câmara Municipal. De facto, fruto de acordos celebrados com o Instituto da
Segurança Social, possui diversas valências, designadamente os Lares de Sagres
e Budens, o Centro de Dia e de Convívio da Raposeira, o Centro de Convívio de
Vila do Bispo e a Creche de Budens. O coração da instituição é o Lar de Sagres,
onde se localizam os serviços administrativos, mas também a cozinha de onde
partem as refeições para os restantes polos.
No quotidiano, a Misericórdia de Vila do Bispo apoia
diretamente quase 200 idosos, mas muitos mais são auxiliados através da Cantina
Social, do Banco Alimentar e da Loja Social, chegando o número de utentes,
deste modo, às quatro centenas. “Na Cantina Social, temos um acordo com o
governo para 30 refeições diárias, mas esgotamos normalmente a nossa capacidade
de 60. A nível do Banco Alimentar, estamos a ajudar 42 famílias, e à Loja
Social recorre quem necessitar de roupa, calçado, móveis, brinquedos,
cortinados, lençóis e cobertores, tudo donativo de pessoas, de empresas ou de
outras instituições similares à nossa”, explica o Provedor Armindo Vicente,
lembrando que as Misericórdias do Algarve empregam três mil pessoas e dão uma
abrangência direta a mais de 10 mil pessoas por dia. “Se as contas não me
falham, gerem entre 60 a 70 milhões de euros de orçamento e nós chegaremos
brevemente aos dois milhões”.
Este orçamento é fruto das prestações das famílias dos
utentes e de apoios concedidos pela Segurança Social e pela Câmara Municipal de
Vila do Bispo e o entrevistado confirma que as Misericórdias cada vez são
entidades mais complexas e com mais valências. “Presentemente, se estas IPSS
falhassem, seria um problema muito complicado para a sociedade, mesmo que as
pessoas nem sempre tenham a perceção dessa realidade”, avisa Armindo Vicente.
“Temos, neste momento, 92 pessoas nos Lares de Sagres e Budens e a lista de
espera ultrapassa os 200 pedidos. Os Centros de Dia têm uma tendência para
decair porque os portugueses só recorrem às instituições quando estão mesmo no
limite, e normalmente solicitam logo a valência de Lar. Os Serviços de Apoio
Domiciliário estão estáveis e, no que toca à Creche, temos um acordo para 66
crianças e provavelmente vamos ultrapassar rapidamente a meia centena. O
Berçário tem menos procura pois as mães adiam a entrada dos filhos nestes
serviços”, descreve o antigo professor.
Como a realidade atual é bem diferente daquela de há algumas
décadas, houve uma necessidade de modificar o modo como os utentes das
Misericórdias ocupam o tempo que passam nos Centros de Dia ou nos Lares,
chegando a ter agendas mais preenchidas que os filhos e netos. “Eles continuam
à mesma a jogar às cartas, a ver televisão e a fazer crochet, porque são coisas
de que gostam, mas o nosso objetivo é procurar novas atividades que quebrem a
rotinas das pessoas. Assim apareceram a «Árvore dos Sonhos» e os Jogos Olímpicos
para Seniores, mas também as idas ao cinema, à praia e parques temáticos ou os passeios
a monumentos”, aponta a animadora Cláudia Carrilho. “Ainda há quem pense que o
lar é a antecâmara da morte, nós queremos contrariar essa ideia e penso que
temos sido bem-sucedidos nesse objetivo”.