O Museu do Trajo, em São Brás de Alportel, foi palco, no dia 28 de janeiro, da primeira apresentação no Algarve do livro com a série documental «O Povo que Ainda Canta», de Tiago Pereira, bem como do novo site d’«A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria». Uma tarde diferente, de recordar as nossas raízes e tradições orais, abrilhantada pelas «Moças Nagragadas».

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

O «A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria», de Tiago Pereira, comemora seis anos de intenso périplo pelo «outro» Portugal, o das músicas e tradições orais guardadas na memória dos mais idosos, de onde nasceu a série documental «O Povo que Ainda Canta», produzido para a RTP 2 em 2015. O projeto foi agora resumido num livro com 92 páginas e que inclui oito DVD’s, resultado do sistemático e abrangente trabalho que Tiago Pereira e a sua equipa têm vindo a realizar desde janeiro de 2011, registando práticas musicais de tradição oral, cantigas, rezas, paisagens sonoras, danças, mas também projetos musicais organizados de cariz urbano de vários géneros. “O Algarve sempre teve uma grande importância n’ «O Povo que Ainda Canta» porque foi o primeiro episódio a ser gravado, pela simples razão de que, quando se olhava para o mapa d’ «A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria», só apareciam quatro pontinhos e queríamos aumentar esse número”, recorda Tiago Pereira.
Num Museu do Trajo recheado de entusiastas da música portuguesa, o entrevistado contou que os primeiros registos do sítio da internet tiveram origem igualmente no Algarve, em Odeceixe, por volta dos seus 25 anos, quando andava ainda na Escola de Cinema. “De repente, por detrás duma parede, ouvi o José Fernando a trautear e a imitar o som dos acordeões. Ele viu-me com o microfone do lado de fora da janela, veio ter comigo e perguntou-me se estava a «ouver» o seu cantar. Explicou-me que ia aos bailes e, no dia seguinte, imitava as músicas exatamente como as tinha ouvido, com a mesma afinação e tudo. Era um homem incrível”, lembrou Tiago Pereira que, mal chegou a Lisboa, cruzou aquele som com a imagem de outro homem que tinha gravado, meses antes, no Carvalhal. “Daí surgiu o filme «Quem Canta Seus Males Espanta», que ganhou o Festival de Documentários da Malaposta, em 1998. Sempre me interessei bastante pela palavra e gosto de fazer cruzamentos sonoros”, reconheceu.
Em 2007/2008, Tiago Pereira foi a um baile organizado em Tavira, deparou-se com um concerto das «Moças Nagragadas» e ficou completamente boquiaberto ao ver pessoas a dizer trava línguas com tamanha rapidez. “Andei anos e anos atrás do Ruivinho Brazão até conseguir gravá-las, em 2011, para a Sinfonia Imaterial, produzido pela Fundação INATEL. Os trava línguas delas têm estruturas rítmicas que não encontramos em nenhum grupo de bongos do país e felizmente que passou para jovens da nova geração, como é o caso do André Guerreiro, de Messines”, destacou, antes de chamar, com grande satisfação, as próprias «Moças Nagragadas» para o palco.

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