Os Vá-de-Viró assinalam, em 2017, um quarto de século de existência, 25 anos a tocar sobretudo música tradicional portuguesa mas que, com o passar do tempo, foi abraçando igualmente outras sonoridades. Uma evolução natural numa verdadeira «família» por onde têm passado quase quatro dezenas de elementos, uns músicos a tempo inteiro, outros profissionais de outras áreas, unidos pela paixão comum pela música cantada em português.

Texto: Daniel Pina

Reunir os 10 elementos dos Vá-de-Viró não é tarefa fácil, portanto, Paulo Cunha e Jorge Semião foram os representantes deste grupo, nascido em 1982, com quem estivemos à conversa na sede da Associação Cultural Música XXI, em Faro. Um quarto de século dedicado essencialmente à música tradicional portuguesa numa banda que nasceu da vontade de um grupo de professores do Conservatório Regional do Algarve em dar a conhecer este estilo aos seus alunos. “Começamos a misturar os instrumentos ditos clássicos com as harmonias e melodias tradicionais e, no início, até nos chamávamos Grupo de Música Tradicional Portuguesa do Conservatório Regional do Algarve, um nome enorme. O grupo depois evoluiu, sem renegar as suas raízes, e tocamos músicas com influências de outros países e culturas, bem como temas próprios. Os nossos compositores combinam a sua originalidade com alguma tradicionalidade, graças à vasta bagagem e experiência que possuem”, refere Paulo Cunha, um dos sobreviventes da formação original, a par de Cláudia Matias.
Sem hesitações, Paulo Cunha garante que, quando esta jornada começou, era mesmo para prosseguir por largos anos, pelo que não o admira a longevidade dos Vá-de-Viró. “Enquanto as pessoas acreditarem, os projetos continuam, e estou bastante feliz por termos chegado aos 25 anos. Neste trajeto passaram pelo grupo 38 elementos e há uma empatia e uma solidariedade muito grandes entre todos nós”, assegura o membro-fundador, com Jorge Semião a reconhecer que o cultivar de um convívio permanente entre os músicos tem sido fundamental nesta já longa caminhada. “Se calhar, outra razão para o projeto ter durado tanto tempo é não sermos um grupo estritamente profissional. Se estivéssemos todos concentrados nos Vá-de-Viró como um projeto comercial, dificilmente conseguiríamos ter tantos elementos, haveria uma maior rotatividade. As pessoas levam isto muito a sério mas, no fundo, é um hobby porque não vivemos financeiramente da banda”, considera o professor de engenharia eletrotécnica da Universidade do Algarve.
Este desprendimento, ou informalidade, como lhe queiram chamar, não significa, porém, que a exigência não seja total, nada disso, simplesmente não estão empenhados em fazer um «x» número de concertos por ano ou em lançar constantemente novos discos por precisarem desse retorno financeiro para viverem no dia-a-dia. “Mas alguns dos Vá-de-Viró vivem exclusivamente da música, uns por serem professores de música, outros por integrarem outras bandas. Aliás, houve uma altura em que um dos nossos colegas tocava em cinco projetos em simultâneo”, lembra Jorge Semião, acrescentando que a música tradicional portuguesa também não será o estilo mais indicado para se ter um enorme sucesso comercial no nosso país. “Provavelmente não existirá em Portugal nenhum grupo de música tradicional ou popular que seja 100 por cento profissional. Isso depois influencia a própria questão de produzir discos com regularidade, o que também é complicado face às nossas ocupações principais”, admite.