Depois de Olhão, Loulé e
Albufeira, foi agora a vez da cidade de Lagoa receber «GOD», o espetáculo
sensação estrelado por Joaquim Monchique, no âmbito de mais uma edição do
Humorfest – Festival de Humor de Lagoa. O Algarve Informativo não faltou e
constatou, em primeira mão, que Joaquim Monchique é mesmo o Deus da comédia.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
Como é tradição de há uns anos a esta parte, março é um mês
repleto de boa disposição no concelho de Lagoa, muito por culpa do Humorfest –
Festival de Humor de Lagoa, que este ano traz ao Auditório Municipal nomes como
Bruno Nogueira, Joaquim Monchique, Ana Bola, Môce dum Cabréste e Nilton. E foi
no dia 11 de março que tivemos oportunidade de assistir, mais uma vez, a «GOD»,
de Joaquim Monchique. A oportunidade e o prazer, diga-se em abono da verdade,
porque Joaquim Monchique encarna a personagem de um Deus irreverente e sem
papas na língua que arranca gargalhadas da assistência do princípio ao fim do
espetáculo.
Depois do êxito na Broadway e em Los Angeles, «An Act of
God» chegou a Portugal simplesmente como «GOD» e o sucesso não se fez por
esperar. O original de David Javerbaum, vencedor de 13 Emmys e dois Grammys e
um dos escritores de eleição de Jon Stewart no «The Daily Show», foi transposto
para a realidade nacional, mas não deixa de responder às questões existenciais
que têm atormentado os homens desde a Criação.
A abertura é, como habitual na Broadway, cheia de glamour,
luzes e som, com Joaquim Monchique a descer uma ampla escadaria até se sentar
num confortável sofá e dali mais não sai. Nesta encenação de António Pires, o
«Deus» Monchique é acompanhado pelos «arcanjos» Diogo Mesquita e Rui Andrade,
que começam por recolher algumas perguntas que o público tem para fazer ao
«dono disto tudo», perdão, ao criador disto tudo. E depressa nos apercebemos
que, afinal, a história real da nossa existência não é bem como está retratada
na Bíblia.
Sem preconceitos ou tabus, a peça fala de questões sensíveis
que, há umas décadas, seriam impensáveis de ir a cena, dos princípios fundamentais
da fé cristã a questões mais triviais como o jardineiro Adão que tomava conta
do Jardim de Éden, e do seu companheiro, que começou por ser o Andrade, antes
de ter aparecido Eva. Histórias em que nos apercebemos de ligeiras adaptações
do texto aos locais em que cada espetáculo tem lugar, como a serpente que
convence Adão e Andrade a comerem o fruto proibido, que era de Alvor. Ou como
eles se divertiam nas festas de Verão da Praia da Rocha. Ou como iam fazer
compras ao Aldi, por não estarem devidamente «trajados» para irem aos
Supermercados Apolónia.
O sucesso prolongado deste género de comédias vive disso
mesmo, da capacidade de improvisação, no momento, dos seus protagonistas, e
nisso Joaquim Monchique é um verdadeiro mestre, mas também de ter um texto que
seja fluído e que esteja atento ao que se vai passando no país. Por isso,
quando os arcanjos Miguel e Gabriel se portam mal, logo Deus lhes promete que,
na próxima vida, vão reencarnar como bailarinos de Maria Leal. E outras piadas
mais se sucedem numa alusão à atualidade nacional, umas programadas, outras
inesperadas, de tal modo que o próprio Monchique se desmancha em risadas e se
perde, por pequenos instantes, no enredo.
O público, como se adivinha, reage entusiasticamente, não se
cansa de rir, de bater palmas, seja quando se fala dos pecados mortais ou da
«comadre Fatinha», ou quando Deus transmite, não através de Moisés, mas em
primeira pessoa, os novos 10 Mandamentos. Deus que pede, encarecidamente, que os
humanos parem de gritar por ele quando fazem sexo, ou que andem sempre em
coscuvilhices e maldizeres, ou que não vistam tudo aquilo que se mexe, como sejam
os cães e gatos. Bem-feitas as contas, é mais de hora e meia de contínua
boa-disposição, num espetáculo que está ai para dar e durar, numa eterna
tournée de norte a sul de Portugal.