Estreou, no dia 25 de março,
a 72ª produção da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, «Um Espetáculo (Bela
e Abel), encenada por Elisabete Martins com base num texto de Robert Pinget. E
vale mesmo a pena ir ver.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
Foi com um Teatro Lethes praticamente esgotado que estreou,
no dia 25 de março, mais uma produção da ACTA – A Companhia de Teatro do
Algarve, a sua 72ª, com base num texto original de Robert Pinget e encenação de
Elisabete Martins. «Um Espetáculo (Bela e Abel) é uma peça sobre o Teatro
enquanto metáfora da vida, sobre duas visões distintas desta forma de arte e da
maneira como elas, por vezes, convivem na mesma instância unificadora da Arte
do Teatro nos tempos modernos.
Em palco temos Abel, um encenador obcecado com a
materialização do espetáculo que idealizou, e Bela, uma produtora sobretudo
preocupada em refrear os voos da imaginação alheia. “Por um lado, a visão da
ligeireza, dos «holofotes», do diletantismo, do que interessa ao público porque
o diverte; do outro, a visão da profundidade, da busca pelo rigor artístico, da
verdade dramática que perturba o público, porque o faz questionar”, explicou
Elisabete Martins, poucos minutos depois do baixar do pano. “É numa constante
tentativa/erro que eles se confrontam com a sua essência e assim é a nossa
vida, de querermos muito e, quando nos damos conta, esquecemo-nos do essencial.
Do ser. Da nossa verdade”, acrescentou a encenadora.
Nos planos temático e formal, o texto explora aspetos em que
se identificam afinidades com o universo de Samuel Beckett, mas Robert Pinget
explora e sugere outros aspetos que ultrapassam o absurdo da situação e o vazio
de comunicação becktteanos e que se projetam noutro tipo de conflitualidades. “O
espetáculo é uma procura do que é importante, do que se quer mostrar. Começamos
com o palco cheio de adereços e terminamos com a cena vazia. Nos primeiros anos
das nossas vidas queremos experimentar tudo e depois, com o decorrer do tempo,
vamos fazendo escolhas, vamos limando, vamo-nos restringindo ao que é
essencial”, compara Elisabete Martins. “Há sempre uma grande dificuldade em
falar do que nos vai na alma e costuma-se dizer que as pessoas querem ir ao
teatro para se divertirem. Mas é preciso refletir também e este texto faz-nos
ver que isto tudo, afinal, não são só luzes e gargalhadas. O Almada Negreiros
já afirmava que ‘a alegria é a coisa mais séria da vida’ e esta encenação é,
aparentemente muito leve e divertida, mas tem uma forte reflexão sobre a vida”.
Escolhido o texto por Luís Vicente, o diretor artístico da
ACTA, e entregue a encenação a Elisabete Martins, a opção por Bruno Martins e
Glória Fernandes foi instintiva, garante a entrevistada. “Foi uma decisão
imediata, uma dupla perfeita. Começamos os ensaios em final de janeiro e
trata-se de um texto bastante difícil de decorar e de trabalhar porque, nesta
linha do absurdo, os textos são normalmente «circulares» e com múltiplos
sentidos”, refere, adiantando que, depois de mais três sessões no Teatro
Lethes, «Um Espetáculo (Bela e Abel)» parte logo para a estrada. Assim sendo,
no dia 15 de abril vai a cena em Almada, seguindo-se Sevilha (21 de abril),
Cáceres (10 de junho), Braga (16 de junho), Badajoz (24 de junho), Montemuro
(19 de agosto) e Albufeira (20 de outubro).
Antes do início da tournée há, contudo, mais oportunidades
para se ver o espetáculo no Teatro Lethes, este sábado (21h30) e domingo (16h).
“A receção do público tem sido muito boa, o Bruno e a Glória fazem um trabalho
extraordinário, portanto, venham ver, que passam uma hora bastante agradável na
nossa companhia”.