A Casa Modesta foi distinguida, no dia 11 de abril, pelo júri da plataforma online Architizer A+ na categoria de Hotéis. Depois de terem sido recebidas candidaturas de mais de 100 países, o projeto algarvio ficou no leque de finalistas com mais quatro hotéis: o Yi She Moutain Inn e o Nashare Hotel, na China, o Pumphouse Point, na Austrália, e o Hilton Amsterdam Airport Schiphol, na Holanda, mas acabou por ser o grande vencedor.
A Casa Modesta é uma casa de família transformada em unidade de turismo rural, tipologia casa de campo e turismo de natureza, localizada no Quatrim do Sul, freguesia do Moncarapacho, concelho de Olhão, em pleno Parque Natural da Ria Formosa, paisagem incomparável e considerada uma das Sete Maravilhas de Portugal. Dos seus terraços panorâmicos pode-se assistir à migração das aves e ali bem perto vislumbra-se a prática dos mariscadores e a recolha do sal, atividades tipicamente algarvias. Um espaço que alia a cultura arquitetónica com os saberes construtivos tradicionais, os materiais e as gentes de um lugar, num conceito de «Casa Chã» concebido pela PAR – Plataforma de Arquitetura, onde se interpretam os legados ancestrais com as lógicas contemporâneas, criando e alimentando dinâmicas sociais e económicas ligadas aos ofícios locais.
O espaço é gerido pelos irmãos Carlos e Vânia Fernandes e pelos pais, Modesta e Joaquim Fernandes, com a Avô Carminda ainda a dar uma ajudinha na cozinha, sendo que, ainda recentemente, foi considerado como o «Melhor Hotel Ambiental da Europa e Mediterrâneo» pelo guia Condé Nast Johansens. Antes disso, a Casa Modesta foi distinguida pela «Habitar 12-14», um concurso da Ordem dos Arquitetos que escolha os projetos mais marcantes do triénio, galardões de prestígio para uma residência construída pelos bisavós de Carlos Fernandes, que ali viveu até aos 20 anos, antes de ir estudar para fora do Algarve. “Era uma casa da qual toda a família tinha excelentes memórias, que enchia com as marés, porque o meu avô comercializava marisco. Aqui à frente, a cerca de 200 metros, há imensos viveiros de ameijoa e berbigão e era nesta casa que os mariscadores vinham vender, em primeira instância, o marisco que apanhavam da Ria Formosa”, revela, de olhos sorridentes.


Ali os homens do mar trocavam de roupa, comiam e bebiam, conversavam e discutiam, era um ponto de encontro natural das gentes de Quatrim do Sul. Todas essas memórias e saberes se quiseram reavivar, com um forte foco na arquitetura tradicional, de tal modo que apenas foram utilizados na reconversão do espaço materiais e objetos locais, do barro e cal ao latão e cortiça da zona. O projeto de arquitetura foi realizado por Vânia Fernandes, sócia do Atelier PAR, sendo a Casa Modesta um protótipo da «Casa Chã». “As primeiras ideias surgiram em 2010, estivemos dois anos e meio a fazer um levantamento de todos os edifícios que existiam ao nosso redor e das suas características, a decidir o que queríamos que a Casa Modesta fosse. Volvido um ano e meio conseguimos obter fundos comunitários através do QREN, com um investimento total na ordem dos 600 mil euros”, explica o entrevistado.
A 1 de abril de 2015 o espaço é formalmente inaugurado, com cinco quartos standard, dois quartos com terraços privados e kitchnet, um quarto maior e um quarto com vista-jardim no piso térreo, todos eles com casa de banho privada. “Como estamos no Parque Natural da Ria Formosa, não podemos aumentar nem fazer construções novas. Respeitando a área, reduzimos o espaço à casa inicial dos anos 40, com sala de jantar, cozinha e quarto dos bisavós e avós, para ampliar a partir dai. Criamos três espaços comuns – sala de estar, sala de jantar e uma sala polivalente. Esta última era o armazém onde o nosso avô tinha os materiais da pesca e da horta. Mantivemos o forno a lenha, para fazer pão e folares, e criamos uma ilha de cozinha onde os hóspedes podem aprender a fazer pratos típicos como as cataplanas ou o peixe alimado”, descreve Carlos Fernandes.
Ao lado da horta biológica, onde tudo é tratado sem produtos químicos nem sal, existe uma piscina/tanque e uma cisterna que foi transformada em garrafeira. E, para além do alojamento, há uma série de iniciativas que procuram, de facto, transmitir as tradições do concelho e da região. “Alguns workshops e show cookings são feitos por nós, outros são realizados em parceria com a «Algarve Cooking» da Sandra Patrão, que é nossa vizinha. Quando eramos miúdos costumávamos brincar juntos aos hotéis e restaurantes e, volvidos quase 20 anos, voltamos a encontrar-nos. É professora de inglês mas tem um projeto de gastronomia local”, indica o responsável, lembrando que organizam igualmente workshops de empreita, cestaria, barro, conjuntamente com o Projeto TASA.
Quanto aos hóspedes, são, como se adivinha, sobretudo estrangeiros, com alemães, franceses e espanhóis à cabeça. “Tentamos captar também os mercados do norte da Europa porque o nosso Inverno é uma verdadeira Primavera para eles, onde podem desfrutar do clima e da beleza da Ria Formosa. No futuro, queremos ter uma loja onde se possa adquirir todos os objetos que foram concebidos para a Casa Modesta e umas pequenas cabanas de birdwatching num terreno que temos mais a sul”, adianta Carlos Fernandes.