Na noite de 4 de maio, meia dúzia de atrizes amadoras protagonizou, no Teatro das Figuras, em Faro, o primeiro episódio do «Pronúncias», projeto de teatro comunitário encenado por Rui Gonçalves e com apoio à dramatologia de Luís Campião. Um desejo antigo de Rui Gonçalves que foi concretizado com o apoio logístico e de comunicação do Teatro das Figuras, tendo sido feito o «calling» para participantes no final de 2016. “Apareceram muitas pessoas e a primeira fase do projeto foi constituída por uma oficina de teatro com três meses de duração, para elas aprenderem o básico. Apenas a Isabel Bento já tinha alguma experiência, fez teatro amador há 30 anos”, conta o encenador minutos depois de ter terminado a primeira apresentação do «Pronúncias».
Da oficina passou-se, depois, à criação propriamente dita do espetáculo, já em janeiro deste ano, porque um dos objetivos era mesmo ir a cena, não apenas transmitir noções básicas de representação. “E não paramos por aqui. Tanto eu como as outras pessoas querem dar continuidade ao projeto e levarmos o «Pronúncias» a algumas Instituições Particulares de Solidariedade Social de Faro, a escolas secundárias, lares de terceira idade, ao Hospital e à Biblioteca Municipal. Após esta digressão, será lançado um novo «calling», em outubro ou novembro, para se cativar gente nova”, adianta Rui Gonçalves.
Como é normal no teatro comunitário, os atores têm um papel preponderante na construção do enredo, dão sugestões, escrevem textos, desenvolvem as personagens, uma manta de retalhos que depois passou pelas mãos de Luís Campião. “Quando cheguei ao projeto já o Rui tinha algumas ideias desenhadas com as atrizes e a minha função foi tentar criar uma certa unidade, não deixar pontas soltas, «vigiar» um pouco o processo de criação do texto e contribuir para a montagem da cena. Mas grande parte dos textos foi escrita por elas e o Rui vinha com sugestões muito concretas do que pretendia para o espetáculo”, revela o premiado dramaturgo. “Alguma matéria-prima necessitou de ajustes, noutra, praticamente não se tocou, foi mesmo uma questão de fazer a ligação entre as cenas existentes e ajudar a conceber outras”, acrescenta Luís Campião.
No início de tudo estiveram conceitos como a Identidade, Solidão, Mudança e Amor Empático, as participantes do projeto responderam favoravelmente aos desafios lançados por Rui Gonçalves e o resultado final foi bastante agradável, com a plateia a reagir muito bem ao desempenho destas cinco atrizes amadoras. Aliás, quem mais sofreu ao longo da noite foram as unhas do encenador, reconhece, com um sorriso. “Estar ali atrás, sossegado, na cadeira, é estressante. Durante os ensaios podemos intervir, dizer-lhes para falarem mais alto, para terem atenção à máscara, aos movimentos corporais. Durante o espetáculo não podemos fazer nada. Ficar de fora é um grande tormento para os encenadores, temos que sofrer em silêncio”, admite.
Apesar disso, Rui Gonçalves mostrou-se contente com a postura das suas pupilas e acredita que o «Pronúncias» tem espaço para crescer ainda mais. “Queremos que as pessoas socializem através desta rádio e casa de chá. No segundo capítulo, em princípio as temáticas serão outras, mas isso também depende das pessoas que entrarem no projeto”, refere o encenador, ficando a dúvida se Luís Campião se manterá como dramaturgista. “Isto exige muita dedicação e esforço, tanto eu como o Luís estamos envolvidos em mais projetos e nem sempre é fácil conciliar as agendas. Ensaiar duas ou três vezes por semana, de outubro até ao início de maio, é duro. Todos nós trabalhamos durante o dia, daí que, por vezes, tivesse que fazer uma descompressão e um aquecimento com relaxamento e meditação, para elas deixarem o cansaço lá fora. É duro, mas vale a pena”, finaliza Rui Gonçalves.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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