«Levante-se o réu outra vez», de Rui Cardoso Martins, foi distinguido com o Grande Prémio de Literatura Associação Portuguesa de Escritores/Câmara Municipal de Loulé – Crónica e Dispersos Literários 2017, no dia 25 de maio. Depois de José Tolentino Mendonça com «Que coisa são as nuvens?», em 2016, nesta segunda edição de um prémio que começa a dar cartas no panorama nacional das Letras foi galardoada uma obra que sensibilizou o júri pela “extrema humanidade, ironia fina, sarcasmo até” com que o autor observou as causas dos juízes, réus e advogados, como referiu Carlos Albino, um dos mentores deste prémio.
Ao longo de 20 anos, Rui Cardoso Martins assistiu a mais de 700 casos de justiça em sessões públicas de tribunal. Depois, fixou-os num registo literário de efeitos ora cómicos, ora comoventes, sempre com uma capacidade notável para captar com empatia a justiça e a injustiça, o chocante e o caricato. Este segundo volume, depois de «Levante-se o réu», seleciona outras cem das melhores crónicas da saudosa rubrica do Público e que recomeçou agora, com textos novos, a ser publicada aos domingos no Jornal de Notícias.
O autor galardoado confessou a “honra em receber tão importante prémio, principalmente pela independência e qualidade do júri”. Rui Cardoso Martins falou das suas grandes influências literárias, desde logo Lídia Jorge, que o estimulou a escrever, “a influência do espírito” de outro louletano, o poeta António Aleixo, mas também António Lobo Antunes, José Cardoso Pires, Dinis Machado, Ferreira Fernandes e, no Brasil, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Paulo Mendes Campos ou Nélson Rodrigues. “Espero estar um bocado na linha de Fernão Lopes que tentava, através da voz da «arraia-miúda», apresentar a verdade sem outra mistura”, considerou o premiado, para quem o povo português é também o principal protagonista das suas crónicas. Apesar de ter exercido jornalismo, nomeadamente como repórter na fundação do Público, deixou críticas à “forma abjeta” como, por vezes, estes casos de Tribunal são tratados pelo jornalismo tabloide, “em que tudo o que é sofrimento é explorado”.


Para José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, a escolha do vencedor “só surpreenderá os mais distraídos”. “Trata-se de um grande escritor português, com uma obra que tem vindo a ser progressivamente reconhecida e mais será, sem sombra de dúvidas”, sublinhou. A segunda edição do Grande Prémio de Literatura Associação Portuguesa de Escritores/Câmara Municipal de Loulé – Crónica e Dispersos Literários analisou 31 obras saídas nos anos de 2015 e 2016. “O número e a qualidade provam que este prémio nacional de crónica tem pernas para andar, não sendo difícil prever que não tardará que o prémio passe a marcar o panorama literário, não só pelo seu prestígio, mas como sinal de referência de um género que faz uma ponte de passagem entre o jornalismo e a literatura – a crónica”, explicou Carlos Albino Guerreiro, porta-voz do júri, que juntamente com Isabel Cristina Mateus e Luísa Mellid-Franco, fez parte do júri.
Para o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, este Grande Prémio de Literatura integra-se nas políticas culturais levadas a cabo por um Município que tem o reconhecimento geral nesta matéria. O extenso programa comemorativo do 40.º aniversário do 25 de Abril, o reconhecimento do Museu Municipal de Loulé que passará a integrar a Rede de Museus Portugueses, a Exposição de Arqueologia «LOULÉ. Territórios, Memórias, Identidades», que será inaugurada no dia 21 de junho, no Museu Nacional de Arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos, e muitas outras atividades têm contribuído para a valorização cultural do Concelho. “A cultura pode elevar o Homem e é capaz de construir um mundo melhor”, concluiu o edil louletano.