A concorrência era de peso,
nada mais, nada menos, do que Aurea na Semana Académica de Faro. Apesar disso,
o Club Farense encheu, na noite de 6 de maio, para assistir à estreia, ao vivo,
de «What About Sara», projeto de originais de Sara Badalo, que teve a seu lado
Marcos Badalo e Paulo Machado. E que bem que soube escutar as canções desta
sereia da Fuzeta.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
Sara Badalo não é uma estreante em cima do palco, antes pelo
contrário, já viajou praticamente pela Europa toda a cantar com «Sam Alone
& The Gravediggers», tem a banda «Storm & The Sun» com Pedro Matos,
atuou com um trio de jazz na iniciativa «Jazz nas Adegas», do programa «365
Algarve», fez parte dos «Happy Mess» e da «Radio Royalle». Mas cantar os seus
próprios temas originais, os seus pensamentos mais íntimos, as histórias
fantásticas que lhe enchem a cabeça desde miúda, perante uma plateia de
desconhecidos, num espaço carismático como o Club Farense, na capital algarvia,
é outra coisa bem diferente. Por isso, quando conversamos com Sara, depois de
um concerto excelente, que nos fez também viajar musicalmente para um universo repleto
de piratas, sereias, monstros marinhos e heróis, ainda encontramos a cantora e
compositora com as emoções à flor da pele, a tentar normalizar o ritmo
cardíaco, com as lágrimas a espreitarem. “Os temas estão a ser compostos desde
2013 e são os meus bebés. Sou uma pessoa bastante extrovertida, mas estas
músicas são algo muito pessoal, mostram-me como eu sou na verdade. Eu vivo este
mundo fantasioso como se fosse a minha realidade e não foi fácil ganhar coragem
para as cantar em público”, reconhece.
Em boa hora Sara Badalo venceu a timidez e deitou cá fora o
que lhe ia na alma, contando com a ajuda inestimável de dois virtuosos neste
caminho. Por um lado, Paulo Machado, exímio no acordeão, piano, sintetizador,
baixo, entre outros instrumentos. Do outro, Marcos Badalo, guitarrista de
eleição, o pai que a conhece melhor do que ninguém e que já está, felizmente,
habituado ao sucesso dos filhos. “Comecei a ensaiar com eles e foi bastante
fácil explicar-lhes o que pretendia com a minha música. Fazer parte de outros
projetos deu-me muita experiência e confiança no meu trabalho, mas é diferente
criar as letras e os ambientes desta minha realidade que, para os outros, é uma
fantasia. Tenho consciência que, para algumas pessoas, sou uma coisa estranha,
não percebem bem o que eu sou, acham que tenho um parafuso a menos, mas esta é
a Sara Badalo. Não sou pretensiosa, nem quero ser alguém que não sou”,
desabafa, nos bastidores do Club Farense.
Um mundo de fantasia que, hoje, não é assim tão estranho
para o público em geral, transportado para as massas através dos filmes de
Hollywood, das séries de televisão, dos livros de culto, e que permitem
perceber que, afinal, milhões de homens e mulheres se identificam com esse
«mundo». “Sempre me fascinou a beleza das coisas sombrias, o mundo dos vampiros
e todas essas fantasias que, supostamente, são direcionadas para o mal. O
primeiro filme que me lembro de ver é o Drácula de Bram Stoker. Depois, também
sou bastante ligada ao mar, o meu pai e os meus avôs foram pescadores, e os
melhores dias da minha vida são quando começa a aparecer o sol e sinto logo
vontade de ir para a praia. São alturas em que me liberto por completo e a
minha música fala de tudo isso”, descreve, de coração nas mãos.