O Cine-Teatro Louletano
recebeu, no dia 3 de maio, o sexto capítulo do ciclo musical «O Longe é Aqui»,
desta vez com o Trio de Jazz de Loulé e Pedro Abrunhosa. O resultado foi uma
viagem fantástica pelo repertório do carismático cantor e compositor portuense,
mas também por alguns clássicos internacionais do jazz.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
O ciclo musical «O Longe é Aqui», dinamizado pela
Cine-Teatro Louletano, voltou a proporcionar mais uma noite de excelência, a 3
de maio, com Pedro Abrunhosa a aceitar o desafio lançado pelo recém-criado Trio
de Jazz de Loulé e a dar um concerto realmente extraordinário. O espetáculo
começou com a prata da casa em palco, João Pedro Coelho (piano), António
Quintino (contrabaixo) e João Pereira (bateria), que compõem o Trio de Jazz de
Loulé, uma novidade no panorama cultural algarvio que pretende cimentar o
trabalho de duas décadas desenvolvido na área do jazz em Loulé.
Após os dois temas iniciais, é chamado a cena o convidado
especial da noite, o portuense Pedro Abrunhosa, que saltou para o estrelato, em
1994, com o aclamado álbum «Viagens», na época tendo a seu lado os «Bandemónio».
Desde então, tem sido um percurso repleto de sucessos, como o atesta o disco «Contramão»,
editado em 2013, agora ao lado dos «Comité Caviar».
Foi um concerto inédito onde Pedro Abrunhosa revisitou o seu
repertório, mas com uma tonalidade mais jazzística que lhe é bem familiar. De
facto, o reconhecido intérprete e compositor chegou à música precisamente pela
via erudita, a estudar Análise, Composição e História da Música com Álvaro
Salazar e Jorge Peixinho, na Escola de Música do Porto. No Conservatório estudou
Composição com Cândido Lima, após o que integrou o Grupo de Música
Contemporânea de Madrid, do compositor Enrique X. Macias, com quem participou
em espetáculos em Espanha e Portugal. Nos anos 80 já era um exímio executante
de jazz e colaborou com grandes nomes da cena jazzística por toda a Europa,
casos de Paul Motion, Bill Frisell, Joe Lovano, David Liebman e Billy Hart.
Ensinou contrabaixo na escola do Hot Club de Lisboa e, mais tarde, fundou a
Escola de Jazz do Porto e a «Cool Jazz Orchestra», que viria a transformar-se
em «Pedro Abrunhosa e a Máquina do Som» para executar os seus temas originais.
Com esta experiência na bagagem, pode-se dizer que o álbum
«Viagens» foi uma completa surpresa para quem o conhecia. Com os «Bandemónio» a
seu lado, criou um disco de rock cheio de jazz e de vida, que atingiu a tripla platina,
com mais de 140 mil exemplares vendidos. Desde então, o rol de êxitos é
sobejamente conhecido, com os discos «Tempo», «Silêncio», «Momento», «Palco», «Intimidade».
Em 2010, nova mudança de figurino, reúne os «Comité Caviar», alia-se ao
produtor João Bessa e lança o álbum «Longe», antecessor de «Contramão», o
sétimo disco de estúdio de Pedro Abrunhosa, que viu a luz do dia em 2013.
Portanto, as expetativas eram muitas à hora de início do
concerto no Cine-Teatro Louletano e a noite foi uma verdadeira revelação para o
próprio artista. “Há uns anos, quando eu ainda tinha cabelo, era preciso viajar
muitos quilómetros para se ver músicos com a qualidade deste Trio de Jazz de
Loulé. Felizmente que esta sede de fazer, bem e diferente, e a democratização e
descentralização da cultura, têm dado resultados. A cultura é um bem precioso e
esta noite foi uma experiência muito boa, a mistura de linguagens foi
interessante”, descreveu Pedro Abrunhosa, poucos minutos depois do apagar das
luzes de palco. “Para mim, foi um regresso a uma ideografia e a um imaginário
que me são familiares e, da parte deles, houve uma adaptação ao meu repertório,
que é mais pop, mais literário. A canção é sempre uma estrutura que assenta na
palavra, enquanto o jazz se baseia no improviso e noutro tipo de dinâmica”,
reconhece.