A Câmara Municipal de Faro e o CCMAR apresentaram, no dia 2 de junho, a «Farformosa», um projeto visionário que pretende unir a ciência e o turismo para revitalizar toda a zona do Porto Comercial de Faro. O investimento é audaz, para cima dos 170 milhões de euros, contemplando uma marina, um aquário, uma incubadora de empresas, um centro de investigação, um centro de congressos, residências assistidas, espaços comerciais e de restauração e três unidades hoteleiras. A bola está agora do lado da APS – Administração dos Portos de Sines e do Algarve, a quem pertence a jurisdição daquela zona geográfica.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Ao todo são 18 hectares situados junto ao Cais Comercial de Faro que se pretendem revitalizar com a «Farformosa», um projeto superior a 170 milhões de euros que criará mais de 1.500 postos de trabalho diretos. Além da necessária requalificação urbana, apresenta como eixos fundamentais o conhecimento e as ciências do mar, estando prevista a construção de um Aquário e do Centro de Investigação do CCMAR - Centro de Ciências do Mar do Algarve, onde mais de 300 investigadores possam trabalhar com qualidade.
O Centro de Investigação do CCMAR será, sem dúvida, o coração da «Farformosa», mas o projeto é bem mais ambicioso e incluirá um Centro de Congressos, com auditório principal com capacidade para 1.200 lugares, uma aposta da Câmara Municipal de Faro face à inexistência de um equipamento semelhante na região. Serão ainda criadas três unidades hoteleiras, um centro de incubação de microempresas na área da biologia marinha, um polo de desenvolvimento da Universidade do Algarve e uma área para residências sénior assistidas. Para garantir a qualidade e multifuncionalidade do espaço urbano introduziu-se uma marina com 400 lugares de amarração e, nas suas imediações, funcionará uma escola de vela e um estaleiro para pequenas reparações navais.
O projeto começou a ganhar contornos mais fortes desde que, há sensivelmente um ano, o Porto Comercial de Faro ficou praticamente inativo, por ter findado o transporte de cimento para o Norte de África. Aliou-se a isso a vontade de requalificar toda a antiga zona industrial do Bom João e a necessidade de ampliação do Centro de Ciências do Mar do Algarve e assim começou a crescer este projeto visionário, que passou depois para o papel pelas mãos do arquiteto Pedro Vaz. “Este é um contributo para a requalificação daquela zona cujas ideias já foram comunicadas à APS – Administração dos Portos de Sines e do Algarve”, explicou Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro.

Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, e Adelino Canário, diretor do CCMAR

Por outro lado, o trabalho do CCMAR é sobejamente reconhecido, a nível nacional e além-fronteiras, assim com as características especiais da Ria Formosa que a tornam num foco de grande interesse científico. “Pretendemos atrair e criar empresas e que os resultados do trabalho dos nossos investigadores tenham impacto na economia regional e nacional. Desde há alguns anos que também pensamos num aquário público e numa maior ligação do Centro de Ciência Viva com o mar e o CCMAR. A nossa estação de biologia marinha do Ramalhete sofre igualmente de alguns constrangimento em termos de espaço e de pormenores ambientais e sentimos a necessidade de mudar de localização”, revelou Adelino Canário, diretor do CCMAR.
Das conversas entre a Câmara Municipal de Faro, o CCMAR e o arquiteto Pedro Vaz surgiu a «Farformosa», onde ficariam concentradas todas as atividades da Universidade do Algarve relacionadas com o mar, desde as licenciaturas e pós-graduações à investigação. “E esta faz-se de investimento em equipamentos de última geração que nos permitam competir com investigadores de todo o mundo, mas também da capacidade para se atrair os melhores investigadores, e esses só vão para onde existem as condições mínimas para desenvolverem o seu trabalho. Aqui, temos as condições naturais, o aeroporto, um ambiente ótimo para se pensar calmamente nos assuntos”, descreveu Adelino Canário, acreditando que Faro e o Algarve se podem tornar num centro de excelência em investigação na área do mar. “A Sul de Lisboa, o CCMAR é o único centro de dimensão significativa e tem um impacto enorme na estratégia da própria Universidade do Algarve. Se o CCMAR fechasse, desaparecia metade da UALg e o Algarve é a região do país onde se investe menos em investigação em relação ao PIB produzido”, salientou o professor.

Um projeto bom para a cidade e para a universidade

Da apresentação realizada à comunicação social e às forças vivas do concelho saltou logo à vista o referido Centro de Investigação com capacidade para 300 investigadores e um aquário com uma área de cerca de sete mil metros quadrados, bem como o Centro de Congressos para 1.200 pessoas e uma incubadora com espaço para 20 empresas. Depois, um Centro Náutico de 3.050 metros quadrados, uma marina com 400 lugares de amarração e uma área vocacionada para reparação naval ligeira com 3.900 metros quadrados.

O que poderá vir a ser a zona industrial do Bom João

Some-se a tudo isto três unidades hoteleiras, 63 moradias e 40 quartos para residências assistidas direcionadas para os investigadores, mais de 23 mil metros quadrados para empresas de comércio e serviços e 11 mil e 500 metros quadrados para espaços comerciais e restauração. “Tudo com volumetrias sempre muito baixas, alturas máximas de três pisos, num claro posicionamento de evitar a especulação imobiliária. O objetivo é garantir a existência e a vivência urbana deste território e dar sustentabilidade financeira a toda esta operação”, frisou Pedro Vaz. “A navegabilidade do canal até se chegar ao local está atestada, os aterros encontram-se consolidados, os solos não carecem de tratamentos específicos, os fundos têm calado suficiente, não se anuncia a necessidade de dragagens recorrentes, seja para fazer esta operação ou para a sua manutenção futura, e não haverá qualquer alteração dos caudais da Ria Formosa”, acrescentou ainda o arquiteto responsável pelo projeto da «Farformosa». 
Rogério Bacalhau esclareceu, entretanto, que o projeto foi concebido de modo a que o investimento privado possa alavancar, ou mesmo pagar, o investimento público, pois os equipamentos de carater público, como sejam as instalações do CCMAR, ocuparão apenas 25 por cento da área total de construção. “É uma lógica privada, controlada e definida pelos poderes públicos. Podia ser uma visão meramente imobiliária, em que queríamos lugares para ter barcos, com hotéis e apartamentos em redor para viabilizar financeiramente o projeto, mas não, queremos algo que sirva a cidade e que traga valor acrescentando à universidade, nomeadamente na vertente da investigação e estudo do mar”, salientou o presidente da Câmara Municipal de Faro, mostrando-se convicto de que, no dia em que se decidir avançar com o projeto, não faltarão investidores interessados em participar nele.

Pedro Vaz é o responsável pelo projeto da «Farformosa»

Quanto aos custos envolvidos, cerca de 170 milhões de euros, são, evidentemente, relativos e dependentes de diversos fatores, logo a começar pela tipologia das unidades hoteleiras ou pelas características do aquário. “Aquela zona é da jurisdição da APS e caberá a ela, ou a quem o Governo decidir, fazer a sua gestão. Nós não definimos aqui nenhum modelo de negócio, somente uma visão do que poderia ficar naquela área geográfica e que, na nossa opinião, seria útil para a região. Quanto ao valor de investimento apresentado, é bastante incipiente, resulta apenas do custo médio do metro quadrado de construção”, indicou Rogério Bacalhau. Por seu lado, Adelino Canário partilha da opinião de que não faltarão interessados em investir neste projeto. “Portugal está na moda, há bastante investimento privado a ser feito no nosso país e julgo que haverá, certamente, um mecanismo para se levar este conceito à prática”, considerou o diretor do CCMAR.
Tudo está, agora, nas mãos da tutela, designadamente da Administração dos Portos de Sines e do Algarve, e o futuro do Porto de Recreio de Faro poderá influenciar também o rumo a dar à zona industrial do Bom João. “São 225 mil metros quadrados de área de construção para um investimento entre os 220 e os 250 milhões de euros, 23 hectares de território no Bom João”, indicou o arquiteto Pedro Vaz. Já Adelino Canário garantiu que ciência se faz em qualquer parte do mundo e que não haveria qualquer inconveniente do CCMAR estar implantando junto a uma marina e hotéis. “A forma como o projeto está pensado não implica impactos ambientais acrescidos em relação ao que se verifica atualmente”, assegurou.