Depois de uma pré-inauguração com algumas dezenas de alunos de escolas de Loulé, o Ministro da Cultura, Luís Castro Mendes, presidiu, no dia 22 de junho, à cerimónia de inauguração da Exposição «Loulé. Territórios, Memórias, Identidades», naquela que é uma das principais «montras» culturais do país: o Museu Nacional de Arqueologia, localizado numa das alas do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Durante aproximadamente um ano, a capital vai receber esta importante mostra evocativa de sete mil anos de História de ocupação do Homem no Concelho de Loulé, um momento que é para toda a comunidade louletana “feliz, de reconhecimento, de revisitação, de transformação, um momento mais de partida do que chegada”, como referiu o presidente da Autarquia, Vítor Aleixo.
Esta organização surge no âmbito do protocolo celebrado, em 2016, entre a Direção-Geral do Património Cultural e o Município de Loulé, no Museu Nacional de Arqueologia, e inscreve Loulé na lista de 24 municípios portugueses que, desde 1997, já realizaram exposições monográficas neste Museu. É agora a vez de Loulé mostrar toda a sua riqueza histórica, após um trabalho de 15 meses de preparação em sintonia absoluta entre as duas entidades, como referiu António Carvalho, diretor do Museu Nacional de Arqueologia. Envolvidos nesta montagem estiveram 50 técnicos das mais variadas especialidades para pôr de pé a exposição que apresenta uma nova e surpreendente abordagem do espaço que ocupa mais de 300 metros quadrados de um dos principais ex-líbris de Lisboa.


Sob a coordenação geral de António Carvalho, Dália Paulo e Rui de Almeida, «Loulé. Territórios, Memórias, Identidades» conta com cinco comissários científicos, de três importantes universidades públicas portuguesas, que selecionaram os bens culturais aqui apresentados: Victor Gonçalves, Amílcar Guerra e Catarina Viegas, da Universidade de Lisboa, Helena Catarino, da Universidade de Coimbra, e Luís Oliveira, da Universidade do Algarve. “São pessoas pertencentes a diferentes gerações, escolas e especialidades, com diferentes perspetivas, que nos deram a qualidade de investigação e a complementaridade e riqueza de olhares que nos interessava reunir”, sublinhou o diretor do Museu Nacional de Arqueologia.
Ao todo, foram inventariados 1200 bens culturais para a realização desta exposição, dos quais 504 bens foram selecionados e 166 restaurados. Os bens culturais provêm de 12 instituições distintas, entre as quais se destacam o Museu Municipal de Loulé e o Museu e Estação Arqueológica do Cerro da Villa – em Vilamoura – que emprestam mais de 80 por cento das peças à exposição, às quais se juntam o Museu Nacional de Arqueologia, o Arquivo Municipal de Loulé, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o Museu Municipal de Faro, o Museu Municipal da Figueira da Foz, o Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira, o Museu Municipal de Arqueologia Silves, a Universidade do Algarve, a Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova e o Museu da Lourinhã.


As peças estão expostas em 10 vitrines e nove ilhas, divididas em três secções e oito núcleos. O núcleo Território apresenta o Concelho na sua diversidade entre o Litoral, a Serra e o Barrocal. Depois são apresentados, por ordem cronológica, seis núcleos - Pré-história, Proto-história, Romano, Antiguidade Tardia, Islâmico e Medieval - e por fim, no núcleo Identidades dá a conhecer aos visitantes os rostos dos «guardiães do passado», cuidadores e doadores de bens culturais de Loulé, proprietários dos terrenos onde se localizam os sítios arqueológicos. A finalizar a visita, está patente um excerto de um texto da escritora louletana Lídia Jorge. Para além das vitrines e das ilhas, oito LCD’s estão espalhados pela galeria este/oeste do Mosteiro dos Jerónimos, para dar informação detalhada sobre os vários núcleos, e duas molduras digitais colocam em destaque cada um dos dois conjuntos de moedas que são apresentados.
Esta mostra retrata as estratégias de ocupação do Homem ao longo dos tempos, na serra, no barrocal e no litoral, do mais extenso município algarvio em área, que liga o Baixo Alentejo ao mar, em «Loulé. Territórios, Memórias, Identidades» destaca-se também os resultados das escavações de paleontologia que presentemente decorrem na Rocha da Pena, coordenadas pelo paleontólogo Octávio Mateus, da Universidade Nova de Lisboa, e que nos revelaram, no território português, o primeiro espécime do anfíbio metopossauro, que recebeu o nome de algarvensis, e de um fitossauro, permitindo-nos olhar para o território que é hoje Loulé há 227 milhões de anos, no Triásico. Refira-se que o Concelho de Loulé regista atualmente 154 sítios arqueológicos, estando 141 deles inseridos no intervalo temporal retratado nesta exposição.


Sendo a Cultura uma das áreas estratégicas para o desenvolvimento do Concelho de Loulé, Vítor Aleixo enunciou algumas das iniciativas levadas a cabo pela autarquia, designadamente: a credenciação do Museu Municipal de Loulé na Rede Portuguesa de Museus; a assinatura do protocolo com o Campo Arqueológico de Mértola para reativação das escavações dos Banhos Islâmicos e a sua posterior musealização; a inscrição da manifestação religiosa Mãe Soberana no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. Com a dinamização desta mostra, o edil acredita que novos projetos de investigação e de valorização do património arqueológico do Concelho surgirão, com homenagem aos dadores e achadores, com criação de roteiros patrimoniais, com ligação entre arte, património, gastronomia, paisagem e outros valores.
A concretização do «Quarteirão Cultural» em Loulé, que incluirá a remodelação do Museu Municipal de Loulé, com novas acessibilidades e funcionalidades e uma nova forma de contar a história do Concelho, será outra das ações alavancadas por esta Exposição. Pretende-se que, neste espaço, seja criado um novo polo dedicado à paleontologia, com os mais recentes achados arqueológicos.