Publicado pela Chiado
Editora, «Crónicas dos Emergentes» é uma descrição cronológica da realidade dos
países emergentes da Eurásia entre 2005 e 2015, ilustrada com cenas do
quotidiano vividas na primeira pessoa por Edgar Prates e por elementos
históricos compilados por este farense que foi designer, dj e dirigente
partidário antes de sair de Portugal e se tornar num prestigiado consultor
internacional. Volvida mais de uma década, entende que Portugal não está a
aproveitar a sua universalidade e as suas ligações culturais e históricas com o
Sudeste Asiático, por medo de acordar alguns fantasmas do passado.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
A última conversa em pessoa que tive com Edgar Prates data
de 20 de janeiro de 2005. Na altura, era o coordenador distrital e presidente
da Juventude Popular de Faro, licenciado em Design de Comunicação pela
Universidade do Algarve e a tirar um curso de Relações Públicas nos Estados
Unidos da América. Antes disso, conhecia-o dos tempos da Rádio Antena Sul e da
Super FM, mas também das cabines de DJ das principais discotecas do Algarve.
Volvidos mais de 12 anos, reencontramo-nos precisamente no mesmo sítio, na Doca
de Faro, por um motivo diferente, o lançamento de «Crónicas dos Emergentes – De
Lisboa a Malaca 500 anos depois», publicado pela Chiado Editora. “Trabalhei
como consultor durante seis anos na Europa de Leste, a fazer gestão de contas e
a desenvolver novos negócios. Quando a crise atingiu o Velho Continente, muitas
empresas e organizações mudaram-se para o Sudeste Asiático, um mercado bastante
maior em termos geográficos e demográficos, e com uma população bem mais jovem.
As multinacionais pretendiam quadros qualificados móveis, que vão conhecer os
clientes, apresentar soluções inovadoras e assinar contratos no terreno, daí a
minha partida para a Ásia”, conta o entrevistado.
Por essa altura, Edgar Prates já estava bem habituado a
lidar com diferentes culturas, com as questões legais e burocráticas que variam
de país para país, com regimes políticos e sistemas financeiros distintos. “A
Europa de Leste foi um modelo inicial de expansão económica, em que 12 países
se juntaram de uma vez. O Sudeste Asiático está, neste momento, numa situação
semelhante, mas a área é muito maior, os entraves são de outra dimensão, pelo
que as empresas querem consultores experientes para atuarem na Tailândia, Indonésia,
Malásia, Filipinas, Birmânia, Sri Lanka. Não podemos olhar apenas para a China,
Índia e Japão, há todo um novo mercado a crescer”, explica o profissional da Accenture,
especialista em fornecer apoio logístico, legal e de recursos humanos às
multinacionais, embaixadas e organizações internacionais que se expandem para o
Sudeste Asiático.
Negócios que, como se adivinha, movimentam muitos milhões de
dólares porque, naquela zona do globo, tudo é feito em quantidades gigantescas,
indica Edgar Prates. “Singapura e Hong Kong tornaram-se muito caros e nota-se
um segundo nível de deslocação das multinacionais, que vão para locais como
Jacarta ou Manila, mais baratos e com abundância de recursos humanos. Manila
tem 15 milhões de habitantes, em Jacarta são 20 milhões, e projetos que
poderiam ser geridos do Japão, Singapura ou Londres, são enviados diretamente
para essas cidades. Depois, de um momento para o outro, temos que contratar
milhares de pessoas para montar a estrutura”, conta, adiantando que esta
realidade é um reflexo da crise que se viveu recentemente no mundo ocidental,
com as empresas à procura de compensarem as perdas financeiras que tiveram. “A
solução é ir para os mercados emergentes, que crescem rapidamente, e há
empresas que já estão de regresso ao lucro e a expandirem-se para a África e
América do Sul. São negócios à escala global, nomeadamente nos setores
financeiro e de prestação de serviços, mas também de produção industrial, por
causa da mão-de-obra barata”, descreve.