Os alunos do segundo ano dos cursos de «Intérprete de Dança Contemporânea» e de «Artes do Espetáculo – Interpretação», do Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira, levaram a cabo, nos dias 18 e 19 de julho, no Anfiteatro do Parque Ribeirinho de Faro, o espetáculo «Sagração da Ria».

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Sob a direção de Ana Filipa Antunes e Manuel Neiva, o Anfiteatro do Parque Ribeirinho de Faro recebeu, nos dias 18 e 19 de julho, os alunos do segundo ano dos cursos profissionais de «Intérprete de Dança Contemporânea» e de «Artes do Espetáculo – Interpretação», o equivalente ao 11.º ano de escolaridade, do Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira, de Faro, para protagonizarem «Sagração da Ria». A obra foi inspirada no espetáculo «A Sagração da Primavera», de Vaslav Nijinsky, de 1913, com música do compositor russo Igor Stravinsky, e nas posteriores adaptações feitas de dança moderna (de Maurice Béjart, em 1959) e de dança contemporânea (Pina Bausch, em 1975), e pretendia dar um novo significado, reinterpretar, através de processos de contextualização geográfica, cultural e artística, os conceitos da terra, paixão e morte, quer em universos pessoais, como coletivos.
Partindo destes conceitos, mas depois tendo por base a Ria Formosa, despoletou-se um processo de pesquisa conceptual e coreográfica onde se colocaram as questões «como é que jovens algarvios perspetivam algumas vivências em torno da sua herança ambiental e cultural?», «como é que o corpo de cada um e de um coletivo se inscreve e escreve, a partir de técnicas corporais, em ambientes arquitetónicos pretensamente naturais?» ou «que possibilidades metamorfósicas pode o corpo perseguir para representar uma simbiose entre a natureza e o humano?». Deste modo, o projeto traduziu-se numa oportunidade de formação e de criação na fusão de duas linhas de pensamento-ação, entre a essência de algumas versões do espetáculo «A Sagração da Primavera» e a valorização cultural da Ria Formosa, em que se entende o corpo como instrumento e objeto de múltiplos discursos e representações simbólicas.


Por detrás do curso está uma formação de 600 horas que procura ser uma aproximação ao que poderá vir a ser a vida profissional de alguns destes adolescentes. Quanto ao processo criativo, a primeira decisão foi a escolha do palco, ou seja, o Anfiteatro do Parque Ribeirinho de Faro, um espaço esplendoroso ao livre com a Ria Formosa como pano de fundo. “Cruzamos as influências da música de «A Sagração da Primavera» com as coreografias muito características da Pina Bausch, mas abstraindo-nos desses dois mundos e situando a ação na Ria Formosa”, explicou Manuel Neiva. “Houve uma investigação coletiva sobre a formação da Ria, da sua fauna e flora, conjugando depois elementos da história original. Depois, inspirámo-nos na versão da Pina Bausch por se tratar de dança-teatro, é onde os dois cursos se podem ligar”, acrescentou Ana Filipa Antunes.
De salientar que «A Sagração da Primavera» tem uma narrativa muito própria, com rituais ligados à Terra e à Água, culminando num sacrifício, que depois foi combinada com histórias respeitantes à Ria Formosa trazidas pelos próprios alunos dos dois cursos profissionais, até nascer «Sagração da Ria». “Desenvolvemos várias etapas com objetivos específicos e o espetáculo foi crescendo aos poucos, normalmente até sem o acompanhamento da música. E os alunos foram eles próprios construtores, criadores, foi um trabalho de equipa, uma cocriação, embora dirigida por dois professores”, indicou Ana Filipa Antunes. “Algumas fases de movimentos, coreografias, foram concebidas a partir de fotografias que eles nos traziam, ou de memórias de infância que partilhavam. Isso serviu para motivar mais os alunos, para se identificaram imediatamente com algo que, depois de construído, pode parecer abstrato”, confirmou Manuel Neiva.
Uma performance com perto de 45 minutos que arrancou numerosas palmas do público que, num belo final de tarde, assistiu a «Sagração da Ria». Quanto ao futuro, é como tudo na vida, não há certezas de nadas. “Infelizmente, neste momento, não há mercado de trabalho para todos em nenhuma atividade. Quem não se aplicar, não vai a lado nenhum. Se eles quiserem ir mais além, têm potencial para o conseguir”, entende Ana Filipa Antunes. Manuel Neiva observa igualmente que o interesse pela área artística é transversal a todos estes alunos e compreende que alguns deles criem expetativas de rumar, depois de concluído o 12.º ano, para uma escola superior de dança ou curso de teatro. “O certo é que todos levam competências e outros saberes para o resto da vida, mesmo que depois não prossigam uma via artística”.

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