O Centro Hospitalar do Algarve apresentou, no início de
2017, um Plano de Investimentos de cerca de 20 milhões de euros, no espaço
temporal de três anos, para assegurar a melhoria dos cuidados de saúde
prestados, e duas dessas intervenções foram apresentadas à comunicação social,
no dia 20 de julho, no Hospital de Faro, nomeadamente uma de apoio à Via Verde
Coronária e outra na área dos meios complementares de diagnóstico, mais
concretamente da Imagiologia.
Com um investimento total de cerca de 430 mil euros, a
Cardiologia de Intervenção foi uma das áreas prioritárias definidas pelo
Conselho de Administração para iniciar a requalificação e reposição da
capacidade técnica do Centro Hospitalar do Algarve, através do upgrade do equipamento de Hemodinâmica,
vital para garantir a continuidade da prestação de cuidados de saúde
diferenciados nesta especialidade e, mais especificamente, no apoio à única
unidade do Algarve com Via Verde Coronária. A intervenção consistiu
essencialmente na reabilitação e atualização da atual plataforma tecnológica
para a tecnologia mais recente no mercado, com melhores especificações ao nível
da capacidade térmica e taxa de dissipação, o que leva a um melhor desempenho
durante a realização de exames e uma imagem com maior resolução e eliminando a
necessidade de paragens durante os exames para arrefecimento da ampola.
Dr. Vítor Brandão, responsável pelo Laboratório de Hemodinâmica do Hospital de Faro |
Recorde-se que o Laboratório de Hemodinâmica foi instalado,
no Hospital de Faro, há 14 anos, com os utentes algarvios a deixarem de ter que
rumar a Lisboa para realizar os exames de diagnóstico. Entretanto, Vítor
Brandão trouxe de Coimbra para a capital algarvia o sistema de Via Verde
Coronária e aqui passaram a ser efetuados os tratamentos de um «motor» que,
conforme explicou o cardiologista de intervenção, “precisa da gasolina que lhe
chega por uns tubos, as coronárias”. “Quando uma delas se fecha, perdemos uma
parte do músculo cardíaco e temos uma janela temporal muito curta, à volta de
90 minutos, para reabrir esse vaso. Normalmente, tratamos à volta de 200 doente
por ano em urgência, ou seja, com enfartes agudos coronários”, apontou.
O problema é que, ao fim de 14 anos de atividade, o
equipamento existente já não tinha a substituição de peças assegurada pelo
fabricante, o que motivou o investimento agora realizado. “A população do
Algarve e de parte do Alentejo não podia ficar sujeita ao risco de deixar de
ter acesso a um tratamento que faz a diferença entre a vida e a morte. A
mudança foi feita em tempo recorde e, embora não seja o topo de gama, o novo
aparelho responde a 100 por cento das necessidades do Laboratório”, garantiu
Vítor Brandão. “A mortalidade do enfarte desce de 50 por cento para 3 ou 4 por
cento se este tratamento for realizado atempadamente e como deve ser”,
reforçou.
No que se refere aos dois principais investimentos em curso
no Serviço de Radiologia da unidade de Faro do CHAlgarve, consistem no upgrade da Ressonância de 1.5 Tesla e
nas obras de instalação de um novo aparelho de Tomografia Computorizada (TAC).
A valorização da Ressonância Magnética implicou um investimento global de 400
mil euros e permitirá a realização dos exames de forma mais agilizada e com
maior produtividade, bem como a realização de técnicas de exame de maior complexidade
diagnóstica que, até à data, não se podiam efetuar no CHAlgarve. “A operação de
upgrade foi cumprida ao milímetro,
não houve quaisquer atrasos ou percalços. Aliás, o prazo de execução terminava
no dia 24 de julho e amanhã (21 de julho) já deveremos realizar os primeiros
exames”, começou por destacar Jorge Pereira, coordenador da unidade de Faro do
Serviço de Radiologia do CHAlgarve.
O upgrade, na
prática, resulta quase num equipamento novo, pois apenas o núcleo foi mantido.
De resto, passou-se de quatro para 18 canais, aumentou-se a potência e
diminuiu-se o tempo de realização dos exames para praticamente metade. “Um
exame ao tórax, abdómen ou pélvis, por exemplo, já não exige que se mexa no
doente para se mudarem as antenas do aparelho. A consola também foi
reposicionada de maneira que o técnico que está a realizar o exame consiga ver
diretamente o utente”, descreveu Jorge Pereira, adiantando que o Hospital de
Faro tem um movimento assistencial avassalador nesta matéria e que, até à data,
estava dependente de apenas um aparelho. “Sempre que há uma manutenção ou
avaria, ficamos completamente «descalços». Quanto a tempos de espera, os exames
da urgência têm, naturalmente, prioridade, seguindo-se os doentes internados e
os exames oncológicos de diagnóstico e de follow-up.
É uma sobrecarga inacreditável, em termos de equipamento e de pessoal médico e
técnicos”, admitiu o coordenador da unidade de Faro do Serviço de Radiologia do
CHAlgarve.
Para aliviar esta situação dá-se o segundo investimento, que
passa pela instalação, no final de 2017, de um equipamento de Tomografia
Computorizada (TAC) de última geração, com 128 cortes, num investimento de
cerca de 500 mil euros e que possibilitará a realização de exames especiais nas
áreas de Pediatria, Angiologia e Cardiologia, sendo também o único equipamento
desta nova geração existente no Algarve. Para além disso, o equipamento evitará
que o CHAlgarve tenha que recorrer aos exames realizados no exterior,
nomeadamente nos períodos de paragem do equipamento de TAC de 16 cortes
atualmente em funcionamento, representando uma poupança anual de cerca de 300
mil euros. “Um doente em estado crítico, nos Cuidados Intensivos, não se
consegue deslocar ao exterior com facilidade e, para que tal não suceda, estão
lançados as condições para a aquisição do segundo TAC”, referiu Jorge Pereira,
com Joaquim Ramalho, presidente do Conselho de Administração do CHAlgarve, a reconhecer
os ganhos desta medida para os utentes. “Como podem ser avaliados mais
rapidamente, passam a ter períodos de internamento mais curtos. De futuro,
queremos atuar igualmente na ecografia e mamografia, outras áreas de
estrangulamento em termos de capacidade. Estão em execução 11 milhões de euros
de investimento em 2017, sete milhões para 2018 e o remanescente em 2019. Claro
que o desejável é que, no final de 2018, já estivesse tudo concluído”,
sublinhou Joaquim Ramalho.
Questionado sobre o porquê dos investimentos só agora
passarem das intensões para a realidade, o responsável respondeu que, das duas,
uma: ou o financiamento é assegurado pelo acionista, através de injeção de
capitais; ou as unidades apresentam cash-flows
positivos que consigam libertar meios de exploração para o autofinanciamento.
“Nós já pagamos muitas coisas com a nossa margem de exploração, tais como a
cedência de medicamentos para doentes oncológicos ou outras terapêuticas sem
financiamento próprio. A par disso, temos custos elevadíssimos com a nossa rede
de serviços de urgência, seja com equipamento ou com os recursos humanos, que
têm que estar disponíveis 24 horas por dia”, lembrou o presidente do Conselho
de Administração do CHAlgarve.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina