Foi apresentado há algumas
semanas um projeto de requalificação urbana para o Porto Comercial de Faro em
que uma das pedras basilares seriam as novas instalações do CCMAR – Centro de Ciências
do Mar da Universidade do Algarve. O tema motivou uma conversa com o diretor
Adelino Canário, para ficarmos a conhecer um pouco melhor a realidade de um dos
centros de investigação ligados ao mar mais prestigiados do planeta.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: CCMAR
A azáfama é uma constante no Campus das Gambelas da
Universidade do Algarve, com as várias equipas de investigadores do CCMAR –
Centro de Ciências do Mar envolvidas em múltiplos projetos, daí o sonho da
construção de raiz de novas instalações, com um local onde se pudessem manter
organismos vivos em boas condições e que viria substituir o espaço situado no
Canal do Ramalhete, nas traseiras do Aeroporto Internacional de Faro. “Só a
«bicharada» mais resistente é que consegue lá estar, porque a zona está sujeita
a grandes rotações ambientais”, conta, em tom de brincadeira, Adelino Canário.
“Também há determinadas áreas de investigação que funcionam melhor junto ao mar
e gostaríamos de colocar equipas diferentes a trabalhar no mesmo sítio. Nas
Gambelas, estamos espalhados por vários edifícios que não foram pensados para
fins de investigação, portanto, seria bastante interessante termos instalações
que fossem desenhadas e planeadas, desde o início, para esse efeito”,
acrescenta o diretor do CCMAR.
Adelino Canário lembra que a ciência funciona muito por
cooperação, mas também por competição, de modo que é preciso estar sempre na
vanguarda do conhecimento e a trabalhar com as tecnologias mais atuais. Para
além disso, a possível mudança para o Porto de Recreio de Faro permitiria que
empresas ligadas ao setor do mar funcionassem numa maior proximidade com o
centro de investigação, o que traria benefícios claros para ambas as partes.
“Já para não falar de se concentrar naquele local toda a formação pós-graduada
da área do mar da Universidade do Algarve. Na realidade, seria quase como que
criar um novo campus universitário ligado ao mar, com todas as vantagens de
estar junto ao mar e de ligar pessoas com formações e competências muito
diferentes”, observa o entrevistado, considerando que esse polo seria bastante
atrativo para investigadores nacionais e estrangeiros. “A ciência tem esta
vertente de interação com pessoas que pensam de forma distinta ou que têm
outras perspetivas dos mesmos assuntos e isso contribuiria igualmente para a
captação de novos alunos”.
O Mar que constitui, de facto, uma fatia extremamente
importante do dia-a-dia da Universidade do Algarve, mais do que o comum cidadão
imagina, por associar mais rapidamente a região algarvia ao turismo, lazer,
hotelaria, desportos náuticos, do que propriamente à investigação científica.
“É evidente que o turismo é muito importante para o Algarve, representa 80 por
cento da economia da região, e ninguém está a pensar em acabar ou diminuir o
seu peso. A área ligada ao Mar desenvolveu-se rapidamente na Universidade do
Algarve por existirem condições naturais para tal e, hoje, mais de 50 por cento
da produção científica e do financiamento captado é feito através do CCMAR”, indica
Adelino Canário.
Financiamento que é sempre a parte mais complicada para quem
trabalha em ciência, sabendo-se que os projetos não podem estar muito tempo
parados à espera de meios financeiros, sob risco de, quando finalmente
avançarem para o terreno, já outras equipas terem chegado à meta. “Essa é a
nossa luta diária. Temos que ser eficientes e rápidos porque vivemos numa
eterna competição e, em determinadas áreas mais de ponta, às vezes há muitas
equipas a fazerem a mesma coisa. De qualquer modo, penso que houve uma grande
evolução em Portugal e não é justo dizer que o país não é «amigo» da Ciência.
Claro que as coisas poderiam funcionar melhor mas, no geral, até sobrevivemos melhor
à crise do que, por exemplo, os nossos colegas de Espanha, onde muitos
investigadores partiram para outros países”, analisa Adelino Canário.