O Seminário Diocesano de
Faro acolheu, no dia 30 de junho, o lançamento de uma edição comemorativa do
Pentateuco, o primeiro livro impresso em Portugal, há 530 anos, precisamente na
capital algarvia. Entre as muitas individualidades presentes, destaque para a
participação na sessão da Embaixadora de Israel em Portugal, Tzipora Rimon.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
A impressão do Pentateuco, em Faro, em 1487, marcou o início
da tipografia em Portugal, facto que foi recordado, no dia 30 de junho, com a apresentação
de uma edição comemorativa da passagem dos 530 anos da impressão, realizada por
Samuel Gacon, do incunábulo depositado na British Library, em
Londres. Trata-se de um dos momentos mais significativos da história da
região pelo que tem de inaugural e, em simultâneo, pela evocação de um tempo em
que o Algarve estava em coincidência com os movimentos de vanguarda
intelectuais e tecnológicos, inscrevendo a cultura portuguesa no quadro amplo
do Renascimento, aproveitando, pela primeira vez, o prelo e carateres móveis de
Gutenberg.
A publicação da obra resulta da coincidência de vontades
e do esforço conjunto da editora «Sul, Sol e Sal» e do Círculo Teixeira Gomes –
Associação pelo Algarve, e o local escolhido para a ocasião foi a Biblioteca do
Seminário Diocesano de Faro, em consideração à entidade de pertença do
incunábulo, da qual foi retirado durante a incursão do Conde de Essex por
terras algarvias. A obra é acompanhada por
um estudo introdutório de Manuel Cadafaz de Matos,
da Academia Portuguesa da História, que contextualiza a edição
na história da imprensa incunabular hebraica portuguesa e que foi
traduzida para inglês por Ana Isabel Soares, do CIAC – Centro de Investigação
em Artes e Comunicação, da Universidade do Algarve.
Em simultâneo com o lançamento da versão fac-simile do
Pentateuco, foi publicado um texto escrito e ilustrado pelos alunos das
escolas E.B. Alto de Rodas e E.B. do Carmo, de nome «Uma Grande Aventura… No
rasto do tesouro perdido», que tem como pano de fundo a incursão da
armada que saqueou e incendiou Faro, levando, entre outras
coisas, parte da biblioteca do Bispo do Algarve, D. Fernando Martins
Mascarenhas, da qual constava precisamente o Pentateuco. Outra
novidade foi o anúncio pela Fundação
Portuguesa das Comunicações de que parte do acervo do seu museu será emprestado
a um núcleo museológico a ser criado no Seminário Diocesano de Faro, sobre a
escrita e a imprensa, e de onde sobressairá uma réplica do prelo de Gutenberg.
Recorde-se que a Fundação
Portuguesa das Comunicações foi criada, em 1997, tendo como instituidores a
ANACOM – Autoridade Nacional de Comunicações, os CTT - Correios de Portugal e a
Portugal Telecom, sendo herdeira do antigo Museu dos CTT. “A nossa missão é
guardar, preservar, promover e divulgar o património histórico, científico e
tecnológico das telecomunicações em Portugal, sendo que a comunicação sempre
foi o cerne da atividade humana em todas as esferas da vida. As sociedades
fundam-se na comunicação e a história da evolução do homem espelha-se nos meios
e modos de comunicar”, destacou Luís Andrade, presidente do conselho executivo desta
fundação privada sem fins lucrativos.
Luís Andrade lembrou que a
escrita permitiu ao ser humano fixar acontecimentos, conhecimentos, reflexões,
memórias, pensamentos e emoções, mas o seu valor só aumentou quando houve
possibilidade de replicá-la, primeiro através dos copistas e, mais tarde, da
imprensa. Depois, houve que vencer as distâncias e o primeiro serviço de
correio nasceu, em Portugal, em 1520, pelas mãos de D. Manuel I. “Antes disso,
o povo não tinha acesso à troca de informação e conhecimento, que estava
limitada à Igreja Católica e às Universidades”, recordou. “Hoje, temos tudo, ou
quase tudo o que precisamos, em matéria de informação e conhecimento, na palma
das nossas mãos, num telemóvel”, acrescentou o presidente da FPC. “Com base
naquilo que se passou antes e no que está a acontecer agora, é muito importante
que consigamos refletir e antecipar tendências do que será este mundo global
onde todos falaremos com todos diariamente”.
A finalizar a sessão, o Bispo
do Algarve D. Manuel Neto Quintas sublinhou que a Igreja se interessa por tudo
o que tenha a ver com a Cultura, motivo pelo qual prontamente se associou a
esta iniciativa. “A Igreja está no Algarve desde o início do Século IV, somos
protagonistas e devemos preservar, defender e desfrutar da cultura, em geral, e
da cultura que tem particularmente a ver connosco. Estamos abertos para
colaborar na promoção deste livro, bem como para criar espaços para acolher, se
for possível e necessário, a réplica do prelo de Gutenberg”, afirmou,
satisfeito por ver o auditório repleto de pessoas provenientes de vários pontos
do Algarve. “A Diocese do Algarve e a Câmara Municipal de Faro estão a estudar
a possibilidade de criarmos um Museu da Imprensa, na antiga Tipografia, que é
uma fonte de cultura centenária impressionante”, confirmou ainda D. Manuel Neto
Quintas.