Um em cada dez agregados familiares portugueses já sentiu
algum grau de insegurança alimentar, ou seja, devido a problemas económicos,
teve dificuldade em propiciar aos seus membros alimentos saudáveis e em
quantidades adequadas. Para fugir a este problema, muitas famílias abandonaram os
saudáveis padrões alimentares tradicionais - como o Mediterrânico - e adotaram práticas
alimentares desequilibradas que produzem impactos sérios na saúde,
particularmente dos jovens e idosos.
O panorama nacional é grave: já mais de metade da população
tem excesso de peso ou é obesa, segundo o Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade
Física 2015-2016, recentemente publicado, revelando também que a obesidade e
doenças relacionadas, como a diabetes, “são mais comuns nos mais pobres” e “os
que mais estudaram são, normalmente, os que comem melhor”. De acordo com Pedro
Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da
Direcção-Geral da Saúde, são evidentes as influências das desigualdades sociais
nas doenças de origem alimentar.
O Algarve não está imune a este problema nacional e
apresenta mesmo, nos resultados do inquérito de insegurança alimentar INFOFAMILIA,
aplicado pela DGS desde 2011, elevados fatores de risco e valores preocupantes
de abandono da Dieta Mediterrânica, particularmente nos jovens. Foi neste
contexto que a DGS desafiou a Associação In Loco para dinamizar a realização de
um projeto-piloto na região do Algarve que leve à criação de um Observatório de
Segurança Alimentar e de uma estratégia de combate às situações de insegurança
alimentar, passível de ser posteriormente disseminado por todo o País.
Em parceria com a Administração Regional de Saúde, com todos
os municípios da região integrados na AMAL – e responsáveis pelas Comissões
Locais de Ação Social - com a Universidade do Algarve e com a Segurança Social,
terá início em agosto um ambicioso programa de avaliação regional do estado de
insegurança familiar, de capacitação dos técnicos envolvidos nesta importante
matéria e, fundamentalmente, de demonstração prática aos agregados familiares
que se encontrem em situação de maior risco, como é simples e fácil
proporcionar uma alimentação saudável e económica aos seus membros, tendo como
princípios orientadores os da Dieta Mediterrânica. O programa de ação deste
projeto-piloto terá uma duração de um ano e contará com uma equipa
pluridisciplinar envolvendo nutricionistas, chefs, antropólogos, sociólogos e o
apoio empenhado de uma rede regional de técnicos municipais e das entidades
privadas e públicas operando na área social.
Para mudar comportamentos e atitudes com impacto negativo no
bem-estar dos agregados familiares, será necessário um esforço de toda a região
para fazer chegar junto das famílias um conjunto de princípios simples e práticas
fáceis de concretizar, mas que produzem efeitos de grande impacto na saúde dos
seus elementos.