Setembro viu nascer a revista LÓGOS – Biblioteca do Tempo, dando corpo, em formato papel, às reflexões de uma comunidade virtual sobre o panorama literário nacional. Um panorama que não é sorridente e as dificuldades são transversais aos mais diversos estilos literários e às várias regiões de Portugal, conforme contaram os editores Adília César e Fernando Esteves Pinto.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Num século XXI onde o papel cada vez mais vai sendo substituído pelo impalpável mundo virtual, não é habitual assistir-se ao lançamento de uma nova revista, muito menos uma dedicada à literatura, mas é esse o caso da LÓGOS – Biblioteca do Tempo, que abarca diversos estilos literários ao longo das suas 142 páginas, desde o ensaio e a entrevista à literatura, poesia e ilustração. À frente do projeto estão Adília César e Fernando Esteves Pinto, com Adão Contreiras como Assistente Editorial, e o primeiro número já está disponível, contando com as colaborações de Adão Contreiras, Adília César, A. Dasilva. O., Catherine Dumas, Cristina Carvalho, Fernando Esteves Pinto, José Carlos Barros, Joana Emídio Marques, Miguel Real, Reinaldo Barros, Sérgio Ninguém e Tiago Nené.
Na génese do projeto esteve a vontade, a necessidade, de refletir sobre o estado da literatura em Portugal, primeiro num grupo restrito de amigos, depois, numa comunidade virtual que foi crescendo rapidamente. “A literatura é muito mal tratada no nosso país, apesar de haver imensa gente a escrever. O problema é que, a par dos bons escritores, dos bons produtores de cultura, também há quem faça um mau trabalho, mas vivemos numa democracia e todos têm o direito de fazerem o que querem e de mostrarem aquilo que fazem”, afirma Adília César, à conversa no carismático Café Aliança, na baixa de Faro.
Estas conversas e desabafos iam-se multiplicando nas apresentações de livros ou festivais literários que acontecem com alguma regularidade e onde se reúnem os verdadeiros apaixonados pela literatura, tanto aqueles que a produzem, como aqueles que a consomem. E depressa se constatou que os problemas eram comuns aos vários estilos literários e às diferentes regiões, inclusive nas cosmopolitas cidades de Lisboa e Porto. “A LÓGOS foi o reflexo desse descontentamento em relação ao estado da cena literária no Algarve, que nasceu em força, em 2005, com a Revista Sulscrito, o Encontro de Escritores Palavra Ibérica e a Editora 4Águas. Sempre trabalhei com autores de todas as regiões de Portugal, sejam poetas, romancistas, ensaístas ou filósofos, daí ter sido fácil a criação deste projeto”, conta Fernando Esteves Pinto. “As pessoas que escrevem estão sempre interessadas em ver o seu trabalho publicado numa revista e, se conhecerem e tiverem confiança nos responsáveis, ainda melhor”, salienta. 
Antes do papel apareceu, contudo, a comunidade virtual na rede social Facebook, onde se começaram a fazer algumas entrevistas a pessoas da área com valor e qualidade, “personalidades interessantes e relevantes para a cultura”, descreve Adília César, explicando que o passo seguinte foi a criação de um blogue, com o mesmo nome, onde a informação estaria disponível de uma forma mais «arrumada». “Para a revista ficar mais completa incluíram-se, para além das entrevistas, ensaios, poemas, textos de reflexão, o que a torna bastante diversificada”, analisa a escritora, com Fernando Esteves Pinto a indicar que boa parte do material é original, ou seja, foi escrito de propósito para a LÓGOS. “É verdade que os jornais e as revistas em papel estão a desaparecer, mas o que passa mais depressa é o que escrevemos numa rede social. Uma revista, ou um livro, ficam para sempre, são eternos. Qualquer autor que se preze quer ter um livro seu numa estante”, assegura.