Dois anos após o álbum de
estreia, Vítor Bacalhau está de regresso ao mercado discográfico com «Cosmic
Attraction», um disco de blues, com umas pitadas de rock, gravado em estúdio
sem rede, ao sabor dos sentimentos, porque são os sentimentos que pautam a vida
de um músico, especialmente deste género bastante sui generis que começa a
conquistar o seu espaço em Portugal.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Tiago Xavier
É lançado, a 3 de novembro, «Cosmic Attraction», o novo
disco de Vítor Bacalhau, o terceiro registo discográfico do algarvio, depois do
EP «Alive Again», de 2014, e de «Brand New Dawn», de 2015, já com produção de
Budda Guedes. Mas a música acompanha Vítor desde os 10 anos e, aos 15, já fazia
parte de bandas, primeiro do tradicional rock, antes de descobrir os blues,
quando esteve a estudar em Londres, em 2010/2011. “Fui exposto a uma série de
situações que me fizeram querer seguir uma carreira a solo dentro deste estilo
do blues-rock. Vi lá um concerto do norte-americano Philip Sayce que me virou
por completo a cabeça, numa altura em que eu estava precisamente a tentar
descobrir o que pretendia fazer no mundo da música”, recorda.
Um estilo que, como se sabe, não é dos mais consumidos em
Portugal, nem sequer por esse mundo fora, mas isso pouco importou para Vítor
Bacalhau. “O que procuro na música é que ela me toque, que mexa comigo
emocionalmente, mas o rock sempre me influenciou desde pequeno. O primeiro
disco que ouvi foi o «Nevermind» dos Nirvana – tinha para aí uns quatro anos –
por isso, este disco está um pouco mais rockeiro, mas a génese continua a ser o
blues”, conta, explicando que avançar em nome próprio foi uma decisão natural.
“Eu quero realmente fazer isto durante muito tempo, até ao resto da minha vida,
e as bandas formam-se hoje e acabam amanhã. Para além de, supostamente, me
permitir uma maior longevidade, uma carreira a solo garante-me uma total
liberdade criativa para fazer aquilo que acho melhor em cada momento”.
Outra opção natural, inconsciente, foi a língua adotada, o
inglês, confessando que nunca conseguiu criar um tema em português. Isso não
significa que o blues não possa ser cantado na língua lusitava, com Vítor
Bacalhau a dar os bons exemplos de Rui Veloso e Jorge Palma, mas a esmagadora
maioria das suas influências cantam, de facto, em inglês. “Nem sequer é algo
que eu force. Quando me sento para escrever as letras, dou logo por mim a
pensar em inglês”, concede, sorrindo quando confrontado com a ideia de que o
blues fala, normalmente, de coisas tristes e deprimentes. “O blues sempre falou
de ultrapassar-se as adversidades da vida, o que não é, necessariamente, uma
coisa triste. Todos nós arranjamos uma maneira ou outra de vencer os problemas
que nos surgem no quotidiano. É verdade que os assuntos de certas músicas são
um bocadinho pesados, mas a mensagem que fica é de superação das dificuldades e
não de transmitir uma imagem de coitadinho”, sublinha.
Músicas que nascem de todas as maneiras e feitios, admite
Vítor Bacalhau. Umas vezes aparecem primeiro as letras, noutras, são as
melodias que surgem inicialmente, a partir de um riff de guitarra. “O título do
disco, que é também o nome de um dos temas, aconteceu do nada e comecei a
cantarolar logo o refrão da música. Não tenho uma fórmula rígida para compor”,
considera o entrevistado, não entendendo que o blues seja mais exigente, em
termos instrumentais, que outros estilos. “A minha música não é muito complexa
na sua essência, antes pelo contrário, gosto de coisas simples. Um tema tem que
ter um bom riff, que seja orelhudo, que entre depressa no ouvido, não é preciso
complicar em demasia. Quando chega a parte do solo de guitarra, aí sim, abalo
para outros sítios”, confessa, com uma risada.