A Associação ArQuente apresentou, no dia 15 de novembro, na Sociedade Recreativa Artística Farense «Os Artistas», a sua produção «Scroll», uma performance que testa as fronteiras, que vai mais além do teatro convencional, completamente «fora da caixa», se assim se pode dizer. E os espetadores que esgotaram a sala deixaram-se envolver e aceitaram o desafio para, por momentos, se tornarem eles próprios participantes ativos deste «Scroll».

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

A associação cultural farense ArQuente já nos habituou a produções fora do normal, que não seguem os padrões convencionais do teatro, porque o seu objetivo é espicaçar as pessoas, fazê-las pensar, até sair incomodadas de algumas performances. E «Scroll» é disso um perfeito exemplo, como se assistiu, no dia 15 de novembro, n’ «Os Artistas» de Faro.
O espetáculo conviveu muito diretamente com o público, sendo construído sobretudo com a improvisação dos sete intérpretes em palco. Palco que também é diferente, já que os atores e o público estavam sentados numa roda de cadeiras e foi no seu interior que se desenrolou toda a cena, num formato arrojado, questionador e sem rede da autoria de Gil Silva, com Teresa Silva no apoio à direção. As interpretações estiveram a cargo de Alejandra Rodrigues, Ana Nunes, Armando Batista, Fúlvia Almeida, Henrique Prudêncio, Maria Adelaide Fonseca e Tata Regala, mas também o responsável pela luz, Jorge Pereira, e o sonoplasta Cláudio Felisberto desempenharam um papel primordial, pois nem a música nem a luz estavam previamente definidos.
Num improviso praticamente total, há apenas duas constantes em cada ida a cena de «Scroll»: sabe-se qual é a atriz que dá o «pontapé-de-saída» e sabe-se qual a música que indica que a peça entra na reta final. De resto, vai-se um pouco ao sabor da corrente, mas a ideia original não era esta, confessa Gil Silva. “O texto que tínhamos escolhido abordava as relações muito íntimas existentes no seio de um grupo e percebemos que precisávamos criar essa dinâmica no nosso conjunto de atores. Começamos por fazer perguntas para saber o que eles pensavam sobre temas mais ou menos fraturantes, depois, pedimos-lhes para irem para o palco e improvisarem sobre as coisas que tinham aprendido uns dos outros. Entretanto, eu e a Teresa Silva apercebemo-nos que esse material era espetacular e que seria um desperdício não o aproveitar”, conta Gil Silva.
A decisão de abandonar o texto original foi rapidamente tomada, mas com a consciência de que o trabalho iria ser bastante mais arriscado, para os encenadores e para os atores, devido à exposição a que se propunham. “No fundo, nem sequer há uma encenação, apenas uma ideia original e uma condução, da minha parte e da Teresa, para que este jogo funcione e tenha dinâmicas que possam ser partilhadas com o público geral”, explica. Contudo, não haver guião não significa que não seja necessário efetuar ensaios, antes pelo contrário, assegura Gil Silva. “Eles têm que se saber respeitar uns aos outros, perceber o espaço e os tempos de cada um, o que exigiu quase seis meses de preparação”.