O primeiro espetáculo a solo de Guilherme Duarte, autor do conhecido
blogue «Por Falar Noutra Coisa», ruma à capital algarvia para uma apresentação
no Teatro das Figuras, no dia 23 de novembro, pelas 21h30. Ao longo de mais de
hora e meia, o comediante promete fazer o público rir com o seu humor carregado
de ironia e sarcasmo, onde irá falar de várias e até de diversas coisas. E
tudo principiou há cerca de quatro anos, quando o engenheiro informático
decidiu passar a colocar cá para fora a sua visão sobre determinados assuntos
do quotidiano, através do blogue e de uma página de Facebook. “Com o decorrer
do tempo comecei a fazer alguns espetáculos de stand-up comedy em bares
pequenos para perceber se tinha jeito para isso ou não, depois fiz alguns
sketches, seguiram-se três livros, foi uma autêntica bola de neve. Em 2017
apostei, então, num espetáculo a solo, num processo gradual em que fui testando
diferentes formatos”, explica o entrevistado, poucos dias antes de rumar a
Faro.
Criar um blogue é, nos tempos modernos, uma tarefa
relativamente fácil, mais complicado é, porém, escrever com regularidade e até
conseguir fazer disso o seu sustento, a sua atividade profissional. Mas esse
foi o propósito de Guilherme Duarte, embora reconheça que o blogue, só por si,
não dá para pagar as contas ao fim do mês. “Contudo, por causa do blogue
apareceram as atuações ao vivo, as crónicas no «Sapo 24», as participações em
eventos empresariais. Como são muitas atividades, dá para não passar fome”,
assume, com um sorriso. “Até agora ainda não estou arrependido de me ter
despedido do trabalho anterior”, reforça.
Engane-se, todavia, quem pensa que viver da comédia se
resume a escrevinhar umas patetices e repeti-las na rádio, na internet, num
auditório ou teatro. “Antes de passar qualquer coisa para o papel tenho que
fazer a minha investigação, especialmente nas crónicas mais longas. Para além
disso, tenho que estar atento a tudo o que se passa ao meu redor e no plano
nacional e internacional, para manter um processo criativo constante. Estou
sempre a tomar notas daquilo que vejo no dia-adia e que acho que possa ter
interesse”, esclarece. “Mesmo quando não estou a escrever, estou a pensar no
que vou fazer a seguir, a imaginar piadas. Só estou parado quando estou a
dormir e, mesmo assim, às vezes sonho com isso”.
Para que tudo isto resulte é preciso, como é óbvio, ter
algum talento inato, poder de observação e sintetização, mas a stand-up comedy
é uma atividade extremamente competitiva e o que não faltam são pessoas a
escrever para blogues, jornais, rádios, livros ou programas de televisão. Como
é que se marca, então, a diferença, como é que nos destacamos da multidão,
questionamos. “É uma pergunta complicada de responder e quem nos segue é que
estaria mais avalizado para o explicar. Eu limito-me a escrever e a fazer
aquilo de que gosto, mas uma coisa importante é a recorrência, é criar material
novo quase todos os dias para fidelizar o público. Tocar em temas polémicos também
pode ajudar a ganhar popularidade, embora haja sempre pessoas que não gostam da
nossa maneira de falar disto ou daquilo, mas o certo é que começam a acompanhar
com mais atenção o que fazemos”, responde.
Guilherme Duarte acredita ainda que existe espaço para todos
os comediantes, até porque o público deste género de trabalho nas redes sociais
normalmente segue diversos humoristas, não se limitando ao que é difundido pela
rádio ou televisão. Já escrever livros é outra conversa, exige uma maior
preparação, mesmo quando se trata de uma simples compilação de textos já
escritos anteriormente. “O primeiro e o terceiro livros são apanhados das
melhores crónicas do blogue, que tiveram que ser reescritas e melhoradas, umas
foram cortadas, outras fundidas, a que juntei depois algum material original. O
segundo livro resultou do consultório que eu faço online, em que os leitores
colocam as suas dúvidas sexuais ou sentimentais. Em ambos os casos, tenho que escolher
os melhores textos e organizá-los de uma forma que faça sentido, onde a escrita
seja mais fluída e sem repetições”, sublinha.
O passo mais recente do comediante foi, então, o espetáculo
de stand-up comedy a solo, uma hora e meia em que pode ter algumas dezenas, ou
algumas centenas, de pessoas pela frente, o que é bem diferente do que estar
atrás do ecrã do computador. “Foi um salto complicado porque sempre gostei mais
de escrever sossegado em casa. Estar exposto perante tantas pessoas coloca uma
pressão imensa, mas pensei que estava na hora certa de avançar. O público vai
para os espetáculos com uma certa expetativa e não as posso defraudar,
portanto, preferi esperar até ter um produto consistente e de qualidade”,
aponta. “No início peço logo às pessoas para enviarem as suas dúvidas por email
ou por twitter para depois as responder no consultório, mas há também espaço
para o hip-hop e para responder aos comentários ofensivos da internet. Os
espetadores podem, inclusive, ir ao palco, em momentos de improviso que até têm
corrido melhor do que estava à espera. Cada espetáculo é diferente, porque vou
retirando o que funcionou menos bem e vou fazendo novas experiências”, termina,
deixando o convite aos seus fãs para rumarem, no dia 23 de novembro, ao Teatro
das Figuras.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Pau Storch