O Magusto é uma festa popular, celebrada a dia 11 de novembro, e que, para além de conotações religiosas – da qual resulta a igualmente popular expressão do Verão de S. Martinho, relacionada com a lenda deste cavaleiro – é também uma data com fortes implicações no vinho, porque a ela está associada o dia em que se prova o vinho novo feito em setembro. Daí advém, aliás, a outra popular expressão: No dia de S. Martinho, vai a adega e prova o vinho.
E foi isso mesmo que fizemos no Algarve Informativo. Neste caso fomos à Adega do Cantor, em Albufeira, normalmente conhecida como a adega do Cliff Richard, um dos pioneiros na produção de vinho algarvio e na sua colocação no mercado estrangeiro. Atualmente, a produção e a gestão do espaço estão a cargo de Nigel Birch, residente há mais de 30 anos no Algarve e que já fala bem o português com aquele caraterístico sotaque britânico. “Pretendemos retomar uma tradição que já tivemos há alguns anos de celebrar o Magusto e que depois foi interrompida. Desta vez fomos um pouco mais longe e convidamos um outro produtor que também tem vinhas em Albufeira – o Malaca Wines – e em conjunto aqui estamos”, explica Nigel Birch.
Ao falarmos depois com o Luís Cabrita (filho) da Quinta da Malaca, ele destaca precisamente o aspeto da parceria no evento, salientando que “pela primeira vez temos um evento entre dois produtores, realizado no espaço de um deles”, concordando assim com Nigel Birch no que toca à necessidade de haver maior união e projetos comuns entre os produtores algarvios.
Em relação a novidades, pois sendo dia de S. Martinho é suposto provar o novo vinho, temos o Vale de Parra, o primeiro blend da Quinta da Malaca que, com este lançamento, assume o conceito de ter a designação de Malaca reservada para os seus monocastas e de apresentar o Vale de Parra como marca para os vinhos de lote (blends). Para já, temos apenas um tinto disponível mas, segundo Luís Cabrita, haverá depois um rosé, passando o famoso rosé Malaca a ser um monocasta feito com Negra Mole.


Isto são os projetos futuros, no presente temos o Vale de Parra, feito de Negra Mole, Castelão e Aragonês, castas que, de acordo com Luís Cabrita, foram escolhidas por serem tradicionais da região. “Quisemos neste vinho fazer uma homenagem aos nossos antepassados, em geral, e aos meus avós em particular, daí o vinho ter um slogan: Terra de grandes homens, terra de grandes vinhos”. O próprio nome tem uma raiz familiar pois é a zona da qual a família tem as suas origens, tendo este produtor a curiosidade de ter vinhas tanto em Albufeira como em Silves e de as ir vinificar na Cabrita Wines, que tem por coincidência o mesmo nome de família. Uma série de pormenores apenas curiosos.
No que toca ao Vale de Parra, o vinho está muito elegante, apresentando uma profunda cor rubi resultante da Aragonês, revelando-se na boca muito harmonioso e macio, com os taninos bastante sedosos e envolvidos na fruta madura e muito bem integrados na madeira onde estagiou por pouco tempo, de modo a amaciar o suficiente, mas não a esconder em demasiada o resto. É um vinho muito agradável e fácil de beber, não sendo muito pesado nem encorpado, o que lhe permite uma ligação fácil com uma grande diversidade gastronómica. Creio que será um sucesso de vendas e que rapidamente as pouco mais de seis mil garrafas irão esgotar, pelo que, se estiver curioso em provar, o melhor será começar a procurar numa garrafeira perto de si.

Texto: Vico Ughetto | Fotografia: Vico Ughetto