A Galeria Trem, em Faro,
acolhe, até dia 16 de março, a exposição «Transmutações
Generativas», do artista e
colaborador do Centro de Investigação em Artes e Comunicação, Pedro Alves da
Veiga. A exposição inclui duas instalações - «Alchimia»
e «Ommandala» - que convidam à interação e à descoberta a partir do som ou
da imagem.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina e Pedro Alves da Veiga
«Transmutações Generativas» é o nome da nova exposição que
está patente na Galeria Trem, no Centro Histórico de Faro, até 16 de março. Da
responsabilidade do artista Pedro Alves da Veiga, tratam-se de duas
instalações, «Alchimia» e «Ommandala», que desafiam o visitante a
interagir e a tornar-se, ele próprio, parte da obra de arte. O nome da mostra é
fortemente influenciado por «Alchimia», já que a transmutação era um dos
processos alquímicos de transformar um material noutro completamente distinto,
sendo sobejamente conhecido o exemplo de se tornar chumbo em ouro. “Aqui,
realmente, trata-se de transformar um tipo de interação num tipo de resultado
diferente. Na maior parte das exposições interativas estamos habituados a
considerar essa interação através dos dedos, do toque. Neste caso, uma das
interações acontece pelo simples posicionamento do visitante em frente a um
objeto, que deteta o seu rosto, mistura-o com a bateria de rostos existente na
base de dados e gera uma sequência praticamente infinita de combinações, com
uma parte do rosto original e outra de outro rosto qualquer”, explica Pedro
Alves da Veiga.
«Alchimia» é, por isso, uma instalação projetada com base
no fascínio humano pelo autorreflexo, remontando ao mito de Narciso ou às
várias interpretações artísticas mais recentemente materializadas na selfie que tomou de assalto o nosso
quotidiano. «Alchimia» pretende estimular, assim, o público com visualizações
dos seus próprios rostos, processados e alterados, fora do seu controle
estético mas, apesar de tudo, retratando-os reconhecidamente. “Numa época em
que o racismo, a igualdade de género, as migrações, a transexualidade e a
cultura são objeto de tantas controvérsias, em que até o próprio software utilizado para a deteção e
reconhecimento facial é questionado, «Alchimia» transforma cada rosto detetado,
atribuindo-lhes traços diferentes: homem, mulher, andrógino, máscara tribal,
novo, velho, indescritível, cómico, aterrorizador”, refere o artista.
A segunda instalação de «Transmutações Generativas» também
não utiliza o toque manual e nasceu como uma representação do nosso cosmos
doméstico. «Ommandala» recorre, então, ao som como única fonte de interação, regenerando-se
em função dos sons e oferecendo uma nova coleção de estímulos. De acordo com
este investigador e artista transdisciplinar, licenciado em Engenharia
Informática pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de
Lisboa, o nome é a composição de duas palavras. Por um lado o Om ou Aum, o som
sagrado e um ícone espiritual, bem como o mantra mais importante do hinduísmo.
Diz-se que ele contém o conhecimento dos Vedas e é considerado o som do
universo e a semente que fecunda os outros mantras. Por outro, a mandala, um
símbolo espiritual e ritual nas religiões Hindus que representa o universo e é
construída de acordo com um conjunto de regras bem definido, tal como a arte
generativa.
Originalmente, as mandalas eram usadas para focalizar a atenção dos
praticantes e adeptos, como ferramentas auxiliares de orientação, e para
estabelecer um espaço sagrado, ajudando na indução de transes. “Pode ser um
cosmo universal ou um cosmo doméstico e foi sobre este que me centrei, com
escovas de dentes, candeeiros, lápis, contas de colares, frigideiras, imagens
de santos. São objetos que encontrei na minha casa e a verdade é que, desde que
os coloquei nesta instalação, há dois anos, não senti a falta deles. Não
estavam lá a fazer rigorosamente nada, mas o certo é que fazem parte das nossas
vidas”, comenta Pedro Alves da Veiga.
Leia a entrevista completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__143