A AZUL – Rede de Teatros do Algarve apresentou, no dia 16 de março, na Galeria Municipal de São Brás de Alportel, o seu plano de atividades para 2018, denotando-se, de imediato, uma forte aposta na formação, mas também mudanças no que concerne ao apoio à criação. Recorde-se que a Rede surgiu, em 2016, como uma estrutura cultural informal que visa o estímulo e facilitação da criação, circulação e promoção da oferta cultural de qualidade existente no Algarve ao nível das artes performativas e das suas derivações e diálogos. É igualmente intenção da AZUL fomentar uma desejável e útil articulação entre os vários equipamentos culturais da região algarvia, nomeadamente no que diz respeito às suas estratégias, metodologias e práticas de programação em determinadas áreas e segmentos, contribuindo, deste modo, para a formação, consolidação e circulação de públicos na região para as áreas musical, teatral, performativa e coreográfica.

A formação é, de facto, um dos pilares da AZUL, rede que esteve um pouco mais «adormecida» em 2017 mas que surge este ano com uma maior dinâmica e algumas novidades. “Pretendemos fazer formações para capacitar os nossos técnicos, para que estes possam desempenhar melhor as suas funções. A primeira ação será desenvolvida no Teatro das Figuras pela equipa que está afeta a esse equipamento cultural, já durante os meses de abril, maio e junho, estando aberta aos técnicos da rede, mas também a outras pessoas que estejam interessadas nas vertentes da luz, som e imagem”, adiantou Gil Silva, Diretor do Teatro das Figuras, acrescentando que a comunicação e marketing, a programação e a produção serão igualmente abordadas nestas sessões de formação.

Gil Silva, Diretor do Teatro das Figuras

O apoio à criação e circulação é outro dos pilares da Rede e pretende-se reforçar financeiramente esta vertente, dirigida às estruturas culturais do Algarve no intuito de criar novos objetos artísticos a serem apresentados, ao longo de 2018, nos diferentes espaços que integram a AZUL. “Em 2016 foi feita uma Open Call, ou seja, convidamos as estruturas da região a concorrer e a experiência foi boa. Este ano optamos por fazer uma encomenda direta a um coletivo de artistas composto pelo João Frade, Gijoe (Rafael Correia) e Ana Perfeito, acompanhados pelos músicos Paulo Machado, João Guerreiro e Emanuel Marçal, para que criassem um espetáculo para circular na rede, mas que possa igualmente ser visto a nível nacional e internacional. O objetivo é que o Algarve seja, de alguma forma, representado nesta criação”, revelou Gil Silva. “A encomenda deverá estar pronta para ir a palco durante o último trimestre do ano, estendendo-se as suas apresentações ao primeiro trimestre de 2019”.

Antes de prosseguir com a apresentação do plano de atividades para o corrente ano da AZUL, Dália Paulo recordou o falecido Joaquim Guerreiro, um dos precursores da Rede de Teatros do Algarve. Dos que já não se encontram entre nós, a Diretora Municipal da Câmara de Loulé passou para os que ainda estão por chegar, para as novas gerações, falando da importância do serviço educativo. “Não é uma área fácil, pois implica refletir muito no que queremos apresentar de arte aos mais novos, do melhor que se faz na região, e não só. São espetáculos que, de facto, trazem pouco retorno financeiro para os equipamentos culturais, o que às vezes condiciona as opções de quem os tutela. No entanto, se criarmos sinergias e trabalharmos em conjunto a educação pela arte, tudo fica mais fácil. Por isso, a programação em rede da AZUL, em 2018, vai-se centrar exclusivamente no campo do serviço educativo”, indicou.

Dália Paulo lembrou, porém, que os serviços educativos não trabalham meramente com crianças, mas sim com todo o tipo de público, incluindo os portadores de algum tipo de deficiência ou em situação social mais fragilizada. “Isto é deixar sementes para o futuro e pensamos melhor em conjunto do que sozinhos”, salientou, antes de virar as atenções para um seminário sobre «Periferias» a ter lugar, provavelmente, em novembro de 2018. “Não é a partir das periferias que se tem arriscado e promovido a mudança? Não é nas periferias que se erra para se conseguir avançar? As periferias hoje dão-nos uma coisa que as grandes cidades não dão: tempo para refletir e criar”, defendeu a antiga Diretora Regional de Cultura do Algarve e ex-Comissária do programa «365 Algarve».

Gil Silva, Vítor Guerreiro, Dália Paulo e João Frade

Ao abordar as periferias geográficas nas artes, o intuito da Rede AZUL é refletir e debater o afastamento geográfico das regiões em relação ao poder central e como isso condiciona toda uma política cultural das regiões e do país. “Mas, quando falamos em arte, não devemos pensar apenas na questão demográfica, em massa crítica. É na questão da criação que nós mais precisamos da ajuda dos autarcas, nomeadamente no apoio ao surgimento de comunidades criativas, porque elas não são apenas cultura, mas sim desenvolvimento regional, economia, emprego qualificado e ao longo de todo o ano”, salientou Dália Paulo. “O desafio é sairmos daqui todos inquietos para agirmos de modo diferente ao que temos feito até agora e conseguirmos colocar a cultura e as artes na agenda de política do Algarve”, enfatizou.

Sobre o espetáculo a ser criado pela AZUL em 2018, deseja-se que seja uma nova e questionadora abordagem à música tradicional algarvia, assente na reinvenção e experimentação aos níveis musical e visual, dirigindo-se, assim, a um público generalista, mas não descurando segmentos de público mais minoritários. “Será um projeto multidisciplinar chamado «Moda Vestra», uma convergência que derivará de vários confrontos criativos. E, conforme foi referido, é importante que nos seja permitido errar e, com isso, chegar a algum lado, a um espetáculo mais interessante”, destacou o conhecido acordeonista e produtor musical João Frade, que será um dos Diretores Artísticos do projeto.

Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel

Na ocasião, Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, destacou a importância da Rede AZUL para a partilha da programação das iniciativas culturais algarvias, mas também do conhecimento e da formação de técnicos especializados. “O Algarve é um destino turístico de excelência e temos que continuar a criar incentivos para que seja apetecível 365 dias por ano. Foi com muito agrado que abraçamos este projeto desde a primeira hora, porque é uma forma de conseguir maximizar o que se faz na região, aproveitando os recursos que estão disponíveis”, referiu o edil. “O Município de São Brás está cá para que esta parceria dê frutos e também para lançar sementes para o futuro”, reforçou Vítor Guerreiro.

A Rede AZUL é, presentemente, formada pelo Auditório Municipal de Albufeira, Auditório Municipal de Lagoa, Auditório Municipal de Olhão, Casa do Sal (Castro Marim), Centro Cultural António Aleixo (Vila Real de Santo António), Centro Cultural de Lagos, Cine-Teatro António Pinheiro (Tavira), Cine-Teatro Louletano, Cine-Teatro São Brás de Alportel, Teatro das Figuras (Faro), Teatro Mascarenhas Gregório (Silves) e TEMPO – Teatro Municipal de Portimão.


Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina