A performance de dança contemporânea «Num Vale do Aqui», criada, concebida e dirigida por Daniel Matos, vai a cena no Centro Cultural de Lagos, nos dias 27 e 28 de abril, pelas 21h30, numa produção do Teatro Experimental de Lagos e com interpretação de Adriana Xavier, Lia Vohlgemuth, Mélanie Ferreira, Rodrigo Lemos e Rodrigo Teixeira. O espetáculo é uma cocriação de Adriana Xavier, Lia Vohlgemuth, Margot Suzi, Mélanie Ferreira, Rodrigo Lemos e Rodrigo Teixeira, com Composição Musical de Daniel Matos e Nelson Nunes; Desenho de Luz de Daniel Matos e Gi Carvalho; Conceção Plástica, Cenografia e Adereços de Daniel Matos; Apoio à Dramaturgia de Francisco Pedro; Figurinos de Bruna Porto; Fotografia e Vídeo de António Coelho, Joaquim Leal e Teresa Lopes da Silva; Direção de Produção de Joana Flor Duarte e Assistência à Produção de Davide Vicente.

De acordo com Daniel Matos, «Num Vale do Aqui» surge da raiz da palavra pertencer, da necessidade de estar ligado, da procura de um lugar e de alguém, da procura de NÓS aqui. O projeto é a resposta a um desafio proposto pela Unidade Curricular de Projeto na Escola Superior de Dança, sendo desenvolvido um exercício coreográfico de 15 minutos sob orientação de Francisco Pedro, João Fernandes e Isabel Duarte. Foi tomada como ímpeto a palavra pertencer e a exploração do criador e dos cinco intérpretes (dois masculinos e três femininos) partiu da génese dessa mesma palavra. “A partir da vastidão de possibilidades presentes no conceito base, a opção tomada como caminho a seguir foi idealizada na sequência do que se espelha hoje em dia entre nós, na constante procura de um sítio onde possamos ancorar-nos como indivíduos e na fuga constante, na procura constante de um encontro pessoal, reforçando a ideia de necessidade e pertença dos outros e aos outros, sendo a ânsia pela necessidade tomada como ímpeto para a energia central do objeto coreográfico”, explica Daniel Matos.


«Num Vale do Aqui» tem como base musical o minimalismo repetitivo, reforçando o carácter cíclico e exaustivo da peça, atribuindo uma especificidade interpretativa aos bailarinos necessária ao desenvolvimento da busca pela pertença e do eu singular. “O facto da secção coreográfica apresentada se iniciar no para lá do palco, no lado do espectador, provém desta ideia do inconfortável, mas obrigatório (no entanto não literal). Existe como que um confronto interno de não pertença que no entanto é aceite e é resolvido pelos intérpretes através de uma imposição pacífica e do êxodo populacional para um grupo restrito, gerando uma bolha isolada dentro de uma célula maior, passando de uma dispersão para uma acumulação por parte dos intérpretes”, descreve o criador.

O corpo é então responsável pela estruturação coreográfica desde o princípio, sendo este um veículo social portador de livre arbítrio capaz de agir diretamente sobre um espaço/situação de uma maneira direta e eficaz. “O intérprete, ao longo do objeto coreográfico, apresenta-se como uma matéria viva potenciadora de transmissão, de comunicação e de pictorismo necessários ao desenvolvimento da dramaturgia inerente à criação coreográfica sendo possível, através do desenvolvimento de uma linguagem específica do objeto artístico, alcançar uma plasticidade necessária à união dos intérpretes como individuais e como coletivos, estando esta união intimamente ligada ao sentido de pertença e à relação dos intérpretes com o termo chave da criação”.

O surgimento da nudez no objeto coreográfico provém da necessidade do encontro da plasticidade inerente a cada intérprete, propondo uma acentuação na fisicalidade e na aparência estética e dinâmica de cada um que, através da pesquisa, levou à condução de pensamentos acerca do que é o nude e não o naked, e do que este representa, contribuindo para a pesquisa da temática central.

Fotos: Teresa Lopes da Silva