No Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina (DCBM) da
Universidade do Algarve desenvolve-se um trabalho pioneiro em Portugal e apenas
realizado em poucos centros de neurociências da Europa e dos Estados Unidos da
América, que permite reduzir o risco cirúrgico de remoção das lesões e,
sobretudo, aumentar a probabilidade de preservação intacta das funções dos
nervos cranianos comprimidos pelos tumores. Este trabalho, coordenado por Pedro
M. Gonçalves Pereira, médico e professor de Neurorradiologia no DCBM, inclui um
desenvolvimento avançado da técnica de Tractografia por Ressonância Magnética
(RM) que é aplicada no planeamento cirúrgico dos tumores da base do crânio,
para identificação e preservação dos nervos cranianos durante o ato operatório.
“Em relação aos restantes centros que também desenvolveram técnicas
equivalentes, a nossa abordagem tem a vantagem de poder ser realizada num
intervalo de tempo que é compatível com um exame de Ressonância Magnética
normal. Por exemplo, existem centros que demoram 40 minutos a adquirir as
imagens; o método que desenvolvemos permite obter a mesma informação em seis
minutos, com todas as vantagens de conforto para os pacientes, além de
conseguirmos diagnósticos superiores também devido aos restantes parâmetros
técnicos utilizados”, distingue Pedro Gonçalves Pereira.
Mais recentemente foi criado outro método, designado
por CICE e que é complementar à Tractografia, destinado
a reforçar a sensibilidade do diagnóstico, particularmente em casos de
tumores de grandes dimensões ou com invasão anatómica multicompartimental. Neste
âmbito, o professor Pedro Gonçalves Pereira representou a UAlg na cerimónia
científica anual do Instituto Burdenko, em Moscovo, na Rússia, com o alto
patrocínio do Ministro da Saúde da Federação Russa, onde apresentou os
resultados das investigações clínicas em cerca de 70 doentes já operados
em diversos hospitais portugueses (Lisboa, Porto e Funchal). O
Instituto Burdenko tem a particularidade de ser o hospital universitário com
maior casuística neurocirúrgica em todo o mundo e também o mais antigo.
Na cerimónia estiveram presentes dezenas de médicos,
diretores dos vários serviços (Neurocirurgia de Crânio, Coluna Tumoral e Coluna
Degenerativa, Radiocirurgia, Cirurgia Funcional, Base do Crânio, Vascular,
Cirurgia Endoscópica, Orbita, Neuro-oncologia) e das especialidades conexas
(Anestesia, UCI, ORL, Radiologia geral e Neurorradiologia, Neurologia). O
trabalho desenvolvido na academia algarvia foi muito bem recebido,
fundamentalmente porque está focado na implementação de um protocolo eficiente
e adaptado ao dia-a-dia das rotinas pesadas da Neurorradiologia e
Neurocirurgia. “Desse modo, estamos a conseguir dar resposta ao planeamento
cirúrgico com um protocolo de 27 minutos, onde está incluída a nova técnica
CICE que é muito rápida a providenciar a localização dos nervos cranianos
pré-op”, explica Pedro Gonçalves Pereira. Do encontro resultou uma proposta
para instalar o CICE no Instituto Burdenko com fins clínicos e num contexto
onde todos os dias fazem exames RM para estudo de tumores da base do crânio. “Demorou
três anos para ter 40 doentes para poder testar este desenvolvimento (CICE). Os
colegas do Instituto Burdenko têm esta estatística num mês”, destaca o professor
da UAlg.
Adicionalmente, também foi solicitado um suporte para
translação do protocolo de Tractografia. Saliente-se, a título de exemplo, que
os principais centros que aplicam a técnica de Tractografia de nervos cranianos
necessitam de 40 minutos para obter essas imagens. Com a técnica
desenvolvida no DCBM da UAlg, o mesmo exame é otimizado para cerca de seis
minutos, utilizando conceitos de reconstrução de imagem, que eliminam
artefactos e potenciam o sinal-ruído dos tecidos nervosos.