Vinte anos depois de Artur Pastor ter realizado a sua última exposição em vida, precisamente na Galeria de Arte Pintor Samora Barros, em Albufeira, com a exposição «Algarve (anos 50-60) – Alguns Apontamentos», inaugurada a 28 de abril de 1998, cerca de um ano e meio antes da sua morte, o Município de Albufeira volta a exibir o seu trabalho, prestando-lhe uma justa homenagem pelo legado que deixou a uma terra com a qual estabeleceu uma relação muito especial.

Era em Albufeira que Artur Pastor gostava de fazer férias e todos os dias fotografava, na companhia da mulher, Rosalina. Ali comprou casa, em 1960, e ao longo de seis décadas foi revelando a cidade através do seu olhar, estreitando relações com o espaço e com os seus habitantes, por via de fotografias que constroem uma identidade com a qual se identificam. «Albufeira por Artur Pastor» apresenta-se como uma cidade paralela que não se esgota nas imagens expostas e dá-nos a conhecer a passagem do tempo através da linha condutora da sua poesia visual.


Das mais de 100 mil fotografias de Artur Pastor, apenas quatro mil estão digitalizadas. O seu espólio foi adquirido em 2001, quase na sua totalidade, pelo Arquivo Municipal de Lisboa – Núcleo Fotográfico, entidade parceira da Câmara Municipal de Albufeira na realização da presente mostra. Perto de uma centena de albufeirenses estiveram presentes na inauguração, alguns dos quais guardam ainda memórias do dia-a-dia de Artur Pastor em Albufeira, nomeadamente vários pescadores que recordaram com carinho o riso e a boa disposição do artista. Um momento muito especial foi registado quando Ália Jacinto, a menina retratada nos anos 60, encostada a um muro, na Rua da Igreja Velha, abraçou de forma emotiva Rosalina Pastor.


A vereadora Cláudia Guedelha deu as boas vindas, salientando “a importância de Artur Pastor para a memória coletiva de Albufeira, não só pelas centenas de registos fotográficos que nos ajudam a compreender e a interpretar a paisagem, a arquitetura, as pessoas e os modos de vida da época, mas também pelas amizades que aqui deixou”. Artur Pastor, filho, contou que, quando passava férias em Albufeira, “o pai era o primeiro a chegar à praia para ver os pescadores a regressar do mar”. Já o irmão Luís Pastor sublinha que “a fotografia é imutável, transporta o tempo”, recordando: “Corri Albufeira de uma ponta a outra com o meu pai. Recordarei para sempre esta exposição, pois faz jus à memória do meu pai”. “O que o Artur mais apreciava em Albufeira era a arquitetura, seduzia-o as linhas das casas tradicionais”, referiu Rosalina, que acompanhava sempre o marido nas suas saídas fotográficas, tendo confidenciado num texto alusivo à exposição «O Algarve de Artur Pastor» (cujo excerto consta do catálogo da presente exposição), que quando lhe mostrava as fotografias dizia sempre “Rosalina vê as fotografias que fizemos”.

Por ser Dia Internacional dos Arquivos, a mostra contou também com a participação da Diretora do Arquivo Distrital de Faro, Luísa Pereira, que referiu que “são os arquivos o que nos identifica perante tudo”. Ana Pífaro, vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira e vereadora responsável pelo pelouro da Cultura, referiu estar “muito grata por poder representar a Autarquia nesta homenagem a Artur Pastor, um fotógrafo muito acarinhado pelas gentes da terra, que na década de 60 escolheu Albufeira para passar férias e acabaria por adotar esta terra como sua segunda casa”. A vereadora destacou que “a exposição é constituída por dois núcleos expositivos que, sendo complementares, são indissociáveis na leitura da obra e na visão de Artur Pastor sobre Albufeira”.


O núcleo expositivo patente no Museu Municipal «O Mar e as suas Gentes» é constituído por 35 fotografias das décadas de 40-60 e 80 e pela exibição do documentário «A Paisagem de Artur Pastor», de 2014, realizado por Fernando Carrilho. Pastor capta a fauna piscatória, o espírito das gentes de Albufeira e o ambiente turístico da época através da sua lente e sensibilidade apurada. No Arquivo Histórico, a mostra é composta por 42 fotografias, tiradas entre 1940 e 1990, sendo complementada pela exibição de um exemplar do álbum «Algarve», de Artur Pastor de 1965 e de um exemplar do catálogo da exposição «Motivos do Sul», de 1946.