10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, mas também o dia de aniversário de António João Bento, ou «Bento Algarvio», como o conheço há coisa de 20 anos, o melhor pugilista português de todos os tempos. E um dos melhores da Europa da sua geração e da sua categoria de peso, superplumas, não tendo voado mais alto porque, como em tudo na vida, nem sempre basta ser bom, ou mesmo o melhor, é preciso ter a ajuda certa no momento certo para abrir as portas certas. E foi isso que faltou ao farense quando estava no auge da carreira e que o impediu de pisar os ringues dos Estados Unidos da América, onde realmente o boxe é rei e senhor.

Mas hoje não falamos de boxe, mas sim da aposta de António João Bento na restauração, tendo aproveitado a festa dos seus 43 anos para comemorar igualmente um ano à frente do restaurante do Grupo Naval de Olhão, a que se junta também o restaurante da VIVMAR - Associação de Viveiristas e Mariscadores da Ria Formosa, em Faro. “A minha mãe foi chefe de cozinha e ensinou-me muito desse ofício. Depois, ao longo da minha carreira de boxeur, os meus maiores contratos sempre foram feitos à mesa. Toda a gente gosta de comer e beber bem, a nossa gastronomia é fabulosa, foi uma aposta natural”, explica-nos «Bento Algarvio», durante o almoço no restaurante do Grupo Naval de Olhão. “Já em 1999, quando estava num estágio com vários ingleses, era eu que tratava do almoço, carapaus fritos com tomate que eles adoravam. O meu apartamento tornava-se praticamente num restaurante e foi assim que assinei um grande contrato para lutar em Inglaterra”, recorda. 



«Bento Algarvio» com a esposa Fátima Botelho


O gostinho pela restauração foi ficando de lado porque, na altura, os dias do farense eram totalmente consumidos pelo boxe, mas agora essa paixão foi reatada, assim como o seu outro grande hobbie, a restauração de móveis antigos. “Daqui a dois meses vou abrir um novo restaurante em Olhão, o primeiro de um franchising ligado aos churrascos, principalmente o frango assado com piripiri”, revela, em primeira mão, depressa esclarecendo que não pretende ser um campeão na restauração, como o foi no boxe profissional. “É um mundo completamente diferente, com uma concorrência enorme, mas vou tentar aplicar a experiência que ganhei nos vários países e culturas por onde passei nestas últimas duas décadas no «Bento’s Chicken Piripiri». Ainda em 2018 vou abrir também um restaurante na Argentina, em mais uma parceria que nasceu à mesa. Portugal é um país maravilhoso para se viver mas, para se vingar nos negócios, é preciso sair das nossas fronteiras”, justifica.

Nesta cadeia nacional «Bento Algarvio» terá como sócio Aníbal Silva, empresário com vários restaurantes de alta gastronomia em Montreal, no Canadá, e outros negócios em Portugal e que está precisamente a dar formação aos funcionários do restaurante do Grupo Naval de Olhão. “Implantou o frango assado com piripiri no Canadá, tem a estrutura e um know-how imenso nessa matéria e é um homem que gosta de trabalhar com quem fiz amizade há alguns anos, quando lá fui combater”, contou, confirmando, ainda, que os seus dias dentro dos ringues estão a chegar ao fim. “Estive parado um ano e meio e comecei a treinar há umas semanas para os meus dois últimos combates. No final do ano vou jogar em Las Vegas e, depois, faço a despedida em Faro, a cidade onde nasci. Após isso, a ideia é agarrar em jovens talentos para lhes proporcionar uma carreira desportiva a sério. Portugal tem bons atletas e treinadores, faltam empresários com conhecimentos e estrutura financeira para os guiar, caso contrário, os pugilistas portugueses vão continuar a ser uns sacos de batata”, desabafa. 



Entretanto, lá conseguimos apanhar o Chefe Aníbal Silva para dois dedos de conversa. “Estou habituado a um serviço de qualidade e estou a dar a formação, até final de setembro, aqui no Grupo Naval de Olhão”, confirma o empresário lisboeta que foi com os pais para o Canadá ainda em criança. “Foi lá que cresci como homem e profissional, mas Portugal é a minha terra e adoro o Algarve. Aliás, já tive restaurantes em Vilamoura e na Quinta do Lago, mas a minha vida pessoal, na altura, obrigou-me a regressar ao Canadá”, refere, mostrando-se fascinado pela vista panorâmica do restaurante do Grupo Naval de Olhão e pela forma como a Cidade da Restauração está a crescer. “Não é por acaso que temos cá o único hotel de cinco estrelas no sotavento. Olhão tem lugar para um restaurante de alta gastronomia, este possui uma vista deslumbrante, os barcos à nossa frente, o cheirinho a mar, e acredito que, a curto prazo, será o melhor da cidade”, declarou, sem meias-palavras. 



Uma dificuldade que já estava à espera de encontrar prende-se com os recursos humanos, porque o Algarve ainda não venceu a sazonalidade da atividade turística e os bons funcionários normalmente têm contratos ao ano noutros pontos do país ou nos principais estabelecimentos do Algarve, nomeadamente em Vilamoura, Quinta do Lago ou Vale do Lobo. “Mas as pessoas que encontrei no Grupo Naval de Olhão são humildes, querem verdadeiramente aprender e eu estou aqui para lhes transmitir os meus conhecimentos. O objetivo é estar aberto o ano inteiro e a formação de alto nível é uma das minhas responsabilidades nesta parceria com o «Bento Algarvio». Na ementa não se pode mexer muito, é o peixe e marisco”, disse, confessando que não dispensa uma ida ao sábado de manhã ao Mercado de Olhão. “Quero fazer eu as compras para saber o que estou a oferecer aos clientes e é por isso que eles voltam. O turismo oscila, vai e vem, nós pretendemos cativar os olhanenses e os algarvios, porque é assim que se mantém as casas abertas no Inverno”.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina