Cinco fotógrafos – Júlio Bernardo, Luís Torres, Nuno de Santos Loureiro, Filipe da Palma e José Carlos Carvalho – reuniram-se com uma ideia em comum, fotografar a pesca da sardinha no Algarve, e o resultado do «The Sardine Photo Experience» foi uma exposição de fotografias, que tem estado em itinerância por vários pontos do Algarve ao longo de 2018, e um extraordinário livro de fotografia, «Faina Marítima», cujo lançamento aconteceu, no dia 19 de julho, no Sítio das Fontes, em Estômbar, no concelho de Lagoa.

Os ENFOLA – Encontros de Fotografia de Lagoa surgiram, há cinco anos, de uma parceria do Município de Lagoa com a Universidade do Algarve, com o objetivo de reconhecer a importância e a transversalidade da fotografia relativamente a todos os aspetos da vida contemporânea. Sem esconder a existência de um «olhar» pragmático neste projeto, há uma crença inabalável, da parte da organização dos ENFOLA, nas mais-valias que existem para o Algarve quando se promovem iniciativas inovadoras de turismo cultural em torno da identidade algarvia, da singularidade dos seus espaços naturais, da grandiosidade da luz meridional, da dieta mediterrânica e de tantos outros aspetos do dia-a-dia desta região conhecida mundialmente. “Mas, num ano em que Lagoa se assume como Cidade Educadora, já não nos é suficiente mostrar fotografia. Queremos criar públicos para as diversas vertentes da fotografia, queremos acolher fotógrafos consagrados e, quase literalmente, queremos embarcar no espírito das mensagens veiculadas pelas obras fotográficas, sobretudo no contexto desta «The Sardine Photo Experience». E temos a ambição de marcar uma posição de destaque em todo o Algarve, relativamente à fotografia enquanto forma de expressão cultural e meio de comunicação”, declarou Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa. 




Após os anos temáticos em que o Município de Lagoa se envolveu de 2014 a 2017, dedicados ao Vinho e à Vinha, ao Mar, à Nossa Gente e ao Património, pretendeu-se, em 2018, abraçar a educação global, “aquela que não se esgota nas salas de aula, aquela que desafia e intervém em toda a sociedade”, explicou o edil lagoense, entendendo que a fotografia estimula e educa o olhar, incentiva o pensamento e a conquista do conhecimento e abre novos horizontes. “Sendo os livros objetos educadores por excelência, não poderíamos deixar de apostar neste registo da Faina Marítima que revela uma faceta pouco conhecida de alguns algarvios, na pluralidade do olhar de fotógrafos de diferentes gerações. Aqui vemos um Algarve visitado e olhado a partir de uma multiplicidade de formas, algumas de singular criatividade, que valorizam visitantes e anfitriões. O Algarve que acolhe turistas e também viajantes. O Algarve que fomos e somos e de que nos orgulhamos sempre”, destacou Francisco Martins. “Em boa hora tive o bom-senso de acolher a ideia que o José Vieira e o Nuno de Santos Loureiro me apresentaram para estes Encontros de Fotografia de Lagoa e este é o segundo livro que editamos”, salientou ainda o autarca durante a inauguração da exposição. 


E, de acordo com Nuno de Santos Loureiro, a fotografia documental é mesmo indispensável para a identidade de um povo e de uma região, pois cada imagem é um instante da realidade e consequência de um registo fotográfico intencional ou acidental. “Foi e será sempre uma interação complexa entre realidades, tecnologias e fotógrafos. No passado analógico e nos primórdios do digital, esses três eixos já existiam, embora fossem distintos dos do presente. Hoje, as realidades podem ser semelhantes ou diferentes, os equipamentos fotográficos são mais «potentes», o fotógrafo documental tem desafios mais complexos a enfrentar”, entende o fotógrafo e mentor dos ENFOLA, consciente de que, atualmente, ser um fotógrafo documental é bastante mais exigente do que noutros tempos. “Mais em termos de domínio das tecnologias de registo, muito mais em termos de escolha das imagens que constituirão e consolidarão o corpo do trabalho mostrado ao público, muito mais ainda no que se refere à sensatez exigida durante a pós-edição dos ficheiros digitais saídos das máquinas”, justifica. 


É neste contexto que se insere o projeto fotográfico «The Sardine Photo Experience», de fotografia documental contemporânea, regional e universal, orientada para um tema abrangente e multidisciplinar. “Ambicionamos contribuir para uma descrição interpretada do povo a que pertencemos. Este é um projeto coletivo, com numerosos olhares, que um dia findará, em oposição com a realidade e a identidade registadas, que são e serão inesgotáveis”, frisou Nuno de Santos Loureiro, aproveitando para agradecer a José Gameiro, Diretor Científico do Museu Municipal de Portimão, pela cedência de uma coleção de fotos de Júlio Bernardo sobre este tema para fazer parte da exposição e do livro. “Desafiamos vários fotógrafos para entrar numa traineira, a «Arrifana», para experimentar ao vivo, ver, registar, uma noite de pesca de sardinha na costa algarvia. Com a particularidade de o estarem a fazer pela primeira vez, portanto, sujeitos a um conjunto de surpresas e imprevistos que fizeram com que fossem descobrindo, passo-a-passo, o que ia acontecendo”, descreveu.

Agradecimentos formais deixou igualmente a André Dias, filho do proprietário da traineira, bem como ao Mestre Joaquim Manuel Dias, ao Contramestre Joaquim Manuel Ramos e a toda a tripulação da «Arrifana», pela oportunidade de concretizar o «The Sardine Photo Experience». “Para além da exposição e do livro, este projeto tem uma terceira valência, a possibilidade de outras pessoas assistirem, ao vivo, à pesca da sardinha, uma experiência que é, verdadeiramente, fantástica, única e inesquecível. Não só estamos a oferecer fotografia, mas a promover experiências de turismo fotográfico e a criar uma nova oferta de turismo ativo e cultural para o Algarve”, finalizou Nuno de Santos Loureiro.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina