Desde o dia 10 de julho que é possível conhecer um pouco melhor o litoral do concelho de Lagoa a pé com a inauguração do Caminho dos Promontórios, percurso de descoberta da natureza entre a Praia do Molhe, em Ferragudo, e a Praia do Paraíso, no Carvoeiro. O Caminho dos Promontórios é a segunda fase do Caminho do Algar Seco e implicou um investimento na ordem dos 118 mil e 500 euros, estendendo-se ao longo de sete quilómetros de costa e incidindo sobre uma plataforma rochosa calcária com uma altura que varia entre os 2,5 e os 40 metros. 



O percurso é interrompido por vales suspensos, pequenas enseadas e areais (praias) e marcada ocasionalmente por cavidades verticais naturais designadas por «algares». A obra reflete o esforço da autarquia para dar a conhecer a maravilhosa orla costeira que Lagoa oferece, com condições de segurança que permitam desfrutar da incomparável paisagem, reconhecida pela sua beleza. “É um percurso que se pode fazer em qualquer altura do ano, seja época alta ou baixa do turismo, e que se vem juntar ao Percursos dos 7 Vales Suspensos, num reforço do município num turismo diversificado. A nossa costa é magnífica e queremos que todos possam usufruir dela, inclusive para potenciar a prática da atividade física”, considerou Luís Encarnação, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lagoa durante a inauguração. “Nestas caminhadas, para além de nos deliciarmos com as maravilhas que os percursos nos têm para oferecer, estamos a exercitar o corpo. Quem visita a Senhora da Rocha, por estes dias, fica estupefato com a quantidade de autocarros e viaturas particulares que ali deixam pessoas para fazerem este caminho, é já um cartão-de-visita do concelho de Lagoa”, enfatizou o autarca. 



Num «quadro» onde os elementos dominantes são as arribas, este percurso de sete quilómetros distingue-se pela sucessão de pontais ou pequenos promontórios que, a par da Ponta do Altar, moldam um relevo de singular beleza e foi este aspeto distintivo da paisagem que determinou a designação «Caminho dos Promontórios». Acrescem outros valores de reconhecido interesse para a observação e que fundamentam a implementação de um conjunto de sinalética informativa e de perigo de apoio à interpretação do ambiente costeiro. Preconizou-se ainda a dotação de estruturas de apoio à visitação e fruição do espaço natural, designadamente áreas de estadia.



O Caminho dos Promontórios complementa outros dois percursos pedestres: o Caminho do Algar Seco (perto de Carvoeiro, acessível a pessoas de mobilidade condicionada), e o Percurso dos 7 Vales Suspensos (entre a Praia de Vale Centeanes e a Praia da Marinha). “Não é um percurso demasiado complexo, mas estamos a falar de sete quilómetros com subidas e descidas, portanto, há que ter um mínimo de robustez. A um terço do percurso encontra-se a Torre da Lapa, um monumento de imenso significado histórico, sendo testemunho de uma época em que o Algarve era assolado por pirataria e em que era preciso manter uma vigilância constante da costa”, explicou o arquiteto paisagista José Vieira. 



Ainda sobre o Caminho dos Promontórios, José Vieira recordou a sucessão de ecossistemas ao longo dos sete quilómetros de percurso, fantásticos para os adeptos da observação de aves. “Passa perto de uma Zona de Proteção Especial – o Leixão da Gaivota – onde nidificam uma série de espécies já relativamente raras, entre as quais a garça branca. Para quem gosta mais dos percursos de Inverno temos uma pequena joia botânica, as Orquídeas Mediterrânicas, próprias da nossa flora, ninguém as trouxe para cá. Nas aves, temos ainda o Falcão Peregrino, que atinge os 400 km/h quando faz voo picado para comer os pombos e estorninhos que vão passando ao longo da costa”, destacou o arquiteto paisagístico. 



A segunda inauguração do dia foi a reabilitação da Torre da Lapa, estrutura militar erigida após a Reconquista Cristã, entre o Cabo de S. Vicente e a foz do Guadiana (e reforçada nos reinados de D. João III e D. Sebastião). O seu restauro, avaliado em 51 mil e 500 euros, pretendeu reverter a degradação acentuada do imóvel e dignificar um dos valores históricos mais relevantes do litoral de Lagoa, em vias de classificação como Imóvel de Interesse Nacional. “É uma decisão que assenta na visão de que a valorização e a proteção do território e dos seus valores naturais e patrimoniais potenciam uma visitação pedagógica, respeitadora e sustentável”, explicou o Vereador Jorge Pardal, revelando que seria colocada, a alguns metros da superfície do solo, uma cápsula do tempo com uma pen USB com um documentário relativo ao restauro para as gerações vindouras, uma fotografia polaroid com a comitiva que marcou presença na ocasião, um documento assinado por todos os elementos do atual executivo autárquico de Lagoa e uma moeda cunhada em 2018. 


Construída no século XVI, a Torre da Lapa pretendia assegurar a vigilância de um importante troço da costa do Algarve e é um singelo legado histórico, contudo, é também um testemunho eloquente de um passado atribulado que é importante revisitar. “Trata-se de um símbolo de um tempo em que o Algarve estava a «ferro-e-fogo» sob as investidas de piratas e corsários de várias proveniências, o que obrigou a um forte empenho na construção de uma complexa estrutura de defesa e vigilância ao longo de toda a costa, da qual este monumento faz parte”, pode ler-se na mensagem do executivo lagoense liderado por Francisco Martins que ficou guardada para a posteridade na cápsula do tempo. “A recuperação da Torre da Lapa era um sonho da Vereadora Anabela Simão e do Arquiteto José Vieira mas, há quatro anos, quando se começou a falar disso, inclusive numa sessão da Assembleia Municipal, toda a gente disse que tal não era possível. Ainda bem que há teimosos, porque é com bastante persistência e com trabalho que não se vê que nós conseguimos, efetivamente, fazer muita coisa. Todos os dias discutimos novas formas de preservar e valorizar o nosso património porque é uma missão que nunca está terminada”, frisou o presidente da Câmara Municipal de Lagoa. 



Após a visualização do documentário «A Torre de Atalaia de Vale da Lapa na defesa da costa algarvia», foi a vez de Alexandra Gonçalves, Diretora Regional da Cultura do Algarve, destacar a importância desta intervenção, mas também do trabalho de investigação que frequentemente passa despercebido ao cidadão comum. “Para além da preservação e da salvaguarda do património, é essencial criar mecanismos de interpretação que ajudem a quem nos visita, e à comunidade de proximidade, a perceber estas memórias. As pedras não falam, é preciso apostar na investigação, uma tarefa que raramente é devidamente valorizada”, defendeu Alexandra Gonçalves. “É um trabalho escondido, silencioso, horas a fio que não são perdidas, mas fundamentais, para que melhor possamos compreender a nossa história”.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina