Uma equipa
de investigação do Centro de Investigação em Biomedicina
(CBMR)/Universidade do Algarve e do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), liderada por Rui Gonçalo Martinho
(UAlg) e Paulo Navarro-Costa (UAlg e IGC), identificou o mecanismo através do
qual o óvulo fertilizado coloca «em pé de igualdade» os cromossomas herdados da
mãe e do pai. O estudo agora publicado na revista científica EMBO reports pode
abrir caminho a novas abordagens clínicas em casais inférteis.
O
desenvolvimento de uma nova vida inicia-se após a fusão entre o óvulo e o
espermatozoide, porém, muitos dos mecanismos moleculares por detrás deste
extraordinário processo têm permanecido um enigma. Há muito que se sabia que
mãe e pai transmitem de forma diferente a sua informação genética para a
descendência. Enquanto que os cromossomas maternos contidos no óvulo estão
bloqueados em pleno processo de divisão, os cromossomas paternos transportados
pelo espermatozoide não só já completaram a sua divisão, como também foram
compactados para caberem no pequeno volume desta célula. Contudo, a forma pela
qual o óvulo fertilizado é capaz de promover a igualdade entre os cromossomas
oriundos dos dois progenitores - um aspeto essencial para o desenvolvimento do
novo ser vivo - é algo que tem intrigado a comunidade científica.
A estreita
parceria entre as equipas da Universidade do Algarve e do Instituto
Gulbenkian de Ciência facilitou
a descoberta de uma proteína chamada dMLL3/4, que permite que o óvulo
fertilizado seja capaz de assegurar não só a correta divisão dos cromossomas
maternos, como também a descompactação da informação genética paterna. “Tal é
possível pois dMLL3/4 é um regulador da expressão génica, ou seja, tem a
capacidade de instruir o óvulo a desempenhar diferentes funções. Neste
contexto, dMLL3/4 atua durante a formação do óvulo, promovendo a expressão de
um conjunto de genes que serão, mais tarde, essenciais para eliminar as
diferenças entre os cromossomas herdados da mãe e do pai”, explica Paulo
Navarro-Costa. “Estes resultados podem abrir caminho a novas abordagens no
diagnóstico da infertilidade de causa feminina, assim como para o
aperfeiçoamento dos meios de cultura embrionária atualmente utilizados em
reprodução medicamente assistida”, acrescenta o investigador.
De acordo
com Rui Gonçalo Martinho, “a proteína dMLL3/4 foi identificada usando
mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster) como organismo modelo, o que novamente
reforça a importância da investigação fundamental e do uso de organismos modelo
como um importante trampolim para a investigação translacional e a uma eventual
melhoria da saúde humana”. O estudo foi desenvolvido no contexto dos
laboratórios de Rui Gonçalo Martinho (CBMR, Universidade do Algarve) e Jörg
Becker (Instituto Gulbenkian de Ciência) e foi financiado pela Fundação
para a Ciência e a Tecnologia.