“De onde vimos e para onde estamos a ir?” é o pensamento subjacente a «Sweet Home Europa», um texto original de Davide Carnevalli, traduzido por Tereza Bento e encenado por João Pedro Mamede, que foi a cena, no dia 30 de junho, no Teatro Municipal de Portimão, numa produção do Teatro Nacional Dona Maria II.

Nesta fábula interpretada por João Vicente, Isabel Costa e João Pedro Mamede, o amor é o ato político que calibra o bem-estar económico da comunidade; cada indivíduo, a memória de um povo; o capital, o prato na mesa. «Sweet Home Europa» é um projeto da Europa em crise, em que sentimos o tremor da sua estrutura, sendo-nos revelada a sua singularidade. Davide Carnevali descreve o extremo em que o Velho Continente se encontra, o crepúsculo, talvez o sítio de onde podemos ver melhor de onde vimos e para onde estamos a ir, numa visão cáustica do sonho europeu.

Na obra, o dramaturgo italiano fala de uma Europa que aceita estrangeiros e refugiados e que os integra, para logo depois os abandonar e desprezar, enredo que é protagonizado pelos três atores num estrado inclinado com pregos no chão. No cenário apenas se vislumbram, para além dos pregos no chão, uma mesa azul e duas cadeiras, mas também flores amarelas de papel espalhadas pelo chão que simbolizam um jardim. E é nesta envolvência que dois homens e uma mulher vão representando várias personagens anónimas, com música clássica interpretada, ao vivo, num piano no canto esquerdo do palco, quase escondido.

Ao longo da peça estão em colisão constante o interior e o litoral, a pesca e a agricultura, as diferentes culturas e religiões, mas abordam-se também os problemas das mulheres dos tempos modernos, os salários inferiores aos seus colegas masculinos, a igualdade ilusória, aparente, que depois não se concretiza no mundo real. Em suma, retrata-se uma Europa que todos acolhe, mas que joga para o lixo quem não lhe interessa, um cenário bem atual pela problemática dos refugiados, mas que também já se vislumbrou noutros momentos da sua história.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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