Albufeira comemora, a 20 de agosto, o seu Dia do Município, desta feita sem o mesmo peso político e institucional de outras ocasiões, mas com as emoções à flor da pele, recordando o seu ex-presidente de Câmara Municipal, Carlos Silva e Sousa, que faleceu, de forma inesperada, a 23 de fevereiro do corrente ano.

Com uma longa carreira política, Carlos Silva e Sousa foi eleito presidente da Câmara Municipal de Albufeira a 29 de setembro de 2013, tendo sido reeleito para novo mandato a 1 de outubro de 2017. Antes disso, tinha sido presidente da Assembleia Municipal de 2001 a 2013 e, em 1996/97, foi Vereador da Câmara Municipal de Albufeira. Em 2012/13 foi deputado da Assembleia da República pelo PSD/Algarve, desde o final de 2013 que desempenhou funções no Conselho Intermunicipal da AMAL e, de 2005 a 2013, foi membro da Assembleia Intermunicipal da AMAL. Advogado bastante respeitado pelos seus pares e no concelho de Albufeira, nunca deixou de lado a sua paixão pela agricultura, nomeadamente pelo vinho e laranja do Algarve, e foi igualmente o sócio número 1 e ex-presidente da Assembleia Geral da AHSA – Associação Humanitária Solidariedade de Albufeira. 


O Chefe da Casa Militar, Tenente-General João Vaz Antunes

Um homem, de facto, singular, a quem o executivo liderado por José Carlos Rolo decidiu atribuir a Medalha de Honra da Cidade. Uma sentida e mais que merecida homenagem a que se associou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não presencialmente, mas pelas palavras lidas pelo Chefe da Casa Militar, Tenente-General João Vaz Antunes. “Devemos homenagear o exemplo dos nossos maiores e ver nos seus percursos de vida – mesmo quando súbita e tragicamente interrompida – uma lição do presente e do futuro. É justíssima a atribuição, a título póstumo, da Medalha de Honra do Município de Albufeira, por aquilo que fez em defesa das populações e das legítimas pretensões do Algarve. Por aquilo que fez, muito em particular, pelo bem-estar das populações deste concelho e pelo seu contínuo e sustentado desenvolvimento”, leu o Chefe da Casa Militar. “Pelo que fez enquanto deputado à Assembleia da República e como autarca, pelo que fez enquanto advogado e cidadão empenhado na defesa do bem comum e no serviço aos outros. Mas, acima de tudo, pelo que fez enquanto personalidade integral e multifacetada, que se dedicou, como poucos, à salvaguarda da nossa cultura, da nossa economia e da justiça social. E fez tudo isto até ao último minuto da sua vida, com sacrifício da saúde e, por ventura, da própria vida. Para sempre recordarei a sua derradeira intervenção, horas antes de nos deixar, arrebatada, em cerimónia a que quis comparecer, apesar do estado preocupante da sua saúde. Para sempre recordarei também o aluno de há tantas décadas, o amigo leal, o colaborador devotado e teimoso, o trabalhador incansável e apaixonado”, prosseguiu a leitura o Tenente-General João Vaz Antunes. 

Os presidentes das Câmaras Municipais de Aljezur, Faro, Lagos e Tavira não faltaram à homenagem a Carlos Silva e Sousa

De Carlos Silva e Sousa falou igualmente o Cônsul-Honorário do Reino de Marrocos, José Alberto Alegria, lembrando que os «mundos» do antigo edil não se confinavam ao concelho de Albufeira em que residia há várias décadas, “nem tão pouco ao Algarve e a Portugal que tanto amava e serviu”. “A sua cultura, vasta e diversificada, chamava-o a conhecer e compreender outros territórios e gentes, sempre numa perspetiva de enriquecimento pessoal e de melhor compreensão das pessoas da sua terra. Não terá sido por acaso que este nosso conterrâneo exerceu, com brio e em tempos sucessivos, funções consulares ao serviço de dois países de dois continentes tão diferentes – São Tomé e Príncipe e Lituânia”, recordou o arquiteto de profissão. “Todas as suas ações estavam associadas ao equilíbrio do seu núcleo duro, constituído por uma família que preenchia os seus afetos. A sua esposa Rosário, o filho Ricardo, a filha Teresa, o genro, os irmãos e, ultimamente, o seu querido neto Henrique. A sua partida do nosso convívio físico deixou-nos profundamente perplexos e momentaneamente na busca de uma difícil compreensão que agora se nos afigura mais clara. O nosso amigo e colega Carlos Silva e Sousa está seguramente numa outra viagem, por mundos e estados que desconhecemos, mas aonde um dia iremos também aceder. Mas certamente que está, inteligente e afetuosamente, atento a tudo o quanto por aqui vamos cumprindo”, finalizou José Alberto Alegria. 

O Cônsul-Honorário do Reino de Marrocos, José Alberto Alegria

Projetos de Carlos Silva e Sousa são para cumprir

Seguiu-se o emotivo momento da entrega da Medalha de Honra da Cidade à viúva de Carlos Silva e Sousa, Rosário Silva e Sousa, perante os aplausos sinceros da plateia. Depois, José Carlos Rolo recordou que o dia 20 de agosto assinala a entrega do foral a Albufeira, por D. Manuel I, em 1504, ato esse transposto, nos anos 80 do século passado, para uma tela de Álvaro Motta e Sousa que se encontra no Salão Nobre da Câmara Municipal de Albufeira. “É um quadro que Carlos Silva e Sousa gostava sempre de mostrar aos visitantes. Lá estão os homens mais importantes do reino, temos simbologias do poder e de Deus, como era normal, da lealdade e da honra, e todos os seus olhares intersetam os olhares de quem os observa, como se fosse uma mensagem de futuro. Sentimos orgulho no que somos e fazemos e contribuímos, não só com rendimentos para o PIB de Portugal, mas com a identidade e caráter de Albufeira que nos distingue de todos os outros”, frisou o edil albufeirense. “Um caráter da paz, do empreendedorismo, do receber todos os cidadãos de um modo afável, sem preconceitos de ordem alguma. Albufeira, muito antes de haver outorgado o foral, já era uma terra liberal e tolerante, recebendo viajantes de toda a parte do mundo. E já não somos aquela terra pobre de pescadores, de homens da agricultura, nem há as hierarquias bem vincadas de outrora. Hoje, temos cidadãos na plenitude dos seus direitos e deveres”, declarou José Carlos Rolo. 


José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira

“Carlos Silva e Sousa foi um homem arrojado, lutador, que sonhou com o futuro”, lembrou ainda o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, confirmando que o inesperado falecimento do antigo autarca e amigo foi para todos uma situação difícil de ultrapassar. “Foi um homem justo e bom, um cidadão exemplar, um político com percurso discreto, mas de grande importância. Temos uma dívida para com ele e os seus grandes projetos terão continuidade, tendo em conta as circunstâncias de cada momento. O Plano de Drenagens está em andamento e encontram-se na fase final as sondagens do terreno por onde irá passar o túnel. Depois, teremos a elaboração dos projetos e o lançamento dos concursos para que as grandes obras aconteçam”, garantiu José Carlos Rolo. 

Paulo Freitas, presidente da Assembleia Municipal de Albufeira

No plano habitacional, os projetos de Carlos Silva e Sousa serão ampliados, para que, dentro de pouco tempo, nasçam, em cada zona do concelho, entre 20 a 30 habitações de caráter social. “Estamos a identificar igualmente espaços para que haja um Parque Industrial e Comercial que sirva para aumentar a diversidade económica do concelho e para que Albufeira se torne mais sustentável. Brevemente iremos apresentar, também, um novo Plano de Reabilitação e Requalificação dos Espaços Urbanos”, revelou José Carlos Rolo, sublinhando ainda que a Educação e Cultura são pilares do desenvolvimento de qualquer povo, daí serem áreas onde se apostará fortemente. “Queremos, com o nosso trabalho, honrar todos os cidadãos e devolver a Carlos Silva e Sousa tudo aquilo que ele nos deu. Fazemos isto em nome de todos aqueles que aqui vivem, trabalham e sonham, que fazem de Albufeira um lugar de partida com rumo ao futuro. Albufeira continua a ser um porto de abrigo de todos aqueles que honram a nossa cidade, um porto de acolhimento dos valores democráticos e um porto de reconhecimento de quem é nosso amigo”, frisou José Carlos Rolo. 


A colocação da foto de Carlos Silva e Sousa no Hall dos Presidentes de Câmara Municipal de Albufeira

O genro, os filhos e o neto de Carlos Silva e Sousa, durante a colocação do retrato do antigo edil albufeirense no Hall dos Presidentes de Câmara

A cerimónia terminou com as palavras, também elas bastante emocionadas, de Paulo Freitas, presidente da Assembleia Municipal de Albufeira, num dia em que se festejava o Dia de Albufeira, mas também a vida de Carlos Silva e Sousa. “Um homem que deixa marcada a cidade, o concelho, a vida de todos nós. Sempre a brincar e a sorrir e, para ele, eramos todos boas pessoas. Foi, para mim, mais do que um amigo. Foi um mentor, um companheiro e um crítico, partilhámos desde o fato aos calções, das motos à pesca, com cumplicidade nos momentos e uma enorme alegria pela vida”, recordou, de palavras tremidas. “Muitas vezes não damos valor àquilo que temos. Vivemos apegados ao negativismo e à crítica e esquecemo-nos de nos divertirmos, algo que ele sempre tentou fazer à sua maneira. Um amigo, um irmão perdido, um companheiro das coisas”, descreveu Paulo Freitas, com um elogio final à viúva, Rosário Silva e Sousa. “É uma SENHORA. Que força esta mulher tem, que força esta mulher teve”

Terminados os discursos oficiais, uma verdadeira multidão subiu ao primeiro piso do edifício dos Paços do Concelho para assistir à colocação do retrato de Carlos Silva e Sousa no hall dos Presidentes de Câmara.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina