Wolfgang Link, investigador no Centro de Investigação em
Biomedicina (CBMR), da Universidade do Algarve, acaba de publicar na Revista «The
Lancet Oncology» um comentário que visa discutir e colocar em causa o elevado
preço pago pelos contribuintes pelos atuais medicamentos no mercado. Refletindo
sobre o facto de, nas últimas décadas, termos assistido a uma mudança de
paradigma - que leva a que grande parte dos novos fármacos dependam,
efetivamente, de um maior conhecimento e entendimento sobre a doença - só
conseguido através de anos de investigação básica (financiada, na maior parte
das vezes, pelo Estado e pelo setor público), o investigador problematiza sobre
o facto do setor privado, nomeadamente as empresas, se aproveitarem, mais
tarde, destas investigações e do conhecimento por elas produzido, para desenvolver
novos medicamentos com elevadas margens de lucro.
Wolfgang Link esclarece que, para minimizar os riscos, as
empresas privadas fazem uma espécie de outsourcing das fases mais arriscadas do
desenvolvimento de novos fármacos, deixando-as a cargo das universidades ou de
pequenas empresas de biotecnologia, para, posteriormente, tirarem partido do
conhecimento produzido por estas para desenhar medicamentos com pequenas
alterações, vendidos ao Estado a preços bem mais elevados. Abordando o modo
como o desenvolvimento de novos medicamentos tem permitido tratamentos cada vez
mais direcionados e abordagens mais personalizadas, o investigador assume que a
relação risco/recompensa, no que diz respeito à inovação farmacêutica, se
encontra altamente desequilibrada quando comparado o setor público com o setor
privado.
A partir do artigo parece ser possível sugerir que os
contribuintes estão a pagar duas vezes os medicamentos – a primeira vez -
através do financiamento público da investigação científica - e, mais tarde,
para obter acesso a estes medicamentos, a preços mais elevados do que seria de
esperar. De acordo com o investigador, “o atual sistema de desenvolvimento de
novos medicamentos é ineficiente e conduzir-nos-á, no futuro, a um cenário em
que o acesso às terapias inovadoras será um privilégio apenas dos mais ricos”. Partindo
da premissa de que o conhecimento não tem preço, Wolfgang Link, investigador da
Universidade do Algarve que, neste comentário contou com a consultoria do
reconhecido economista norte-americano Dean Baker, defende, então, um
investimento do Estado na área do desenvolvimento de novos fármacos,
permitindo, assim, um maior equilíbrio no preço dos medicamentos, e chegando
mesmo a apontar a gratuitidade como um dos caminhos a seguir para a nova
geração de fármacos.