O centro histórico da cidade de Silves recuou ao passado, de 10 a 19 de agosto, por ocasião da XV Feira Medieval de Silves, que recriou a primeira tomada pelos cristãos da antiga capital do Algarve, em 1189. Muitas dezenas de milhares de visitantes tiveram oportunidade de viver aventuras únicas e experiências memoráveis, como torneios a cavalo e a pé, animação no Castelo de Silves, manjares medievais e muita dança e música, que retrataram a importância incontornável que Silves teve na história da região.
A azáfama nas ruas do centro histórico foi uma constante, respirando-se uma atmosfera com características muito particulares, num ambiente e cenário únicos constituídos pelo traçado peculiar do tecido urbano e pela imponência dos seus monumentos. E, por estes dias, o calendário marcava a data de 20 de julho de 1189, quando os cristãos tomaram a cidade aos mouros. Este relevante episódio da história assume particular interesse porquanto o cerco da cidade, que antecedeu a conquista e que teve a duração de 45 dias, foi integralmente relatado sob a forma de diário, por um dos cruzados que no mesmo tomou parte. Tal circunstância permite, com a distância a que obriga o sentido crítico e a cuidadosa leitura de outras fontes que se assumem como contraditório, ter uma noção muito completa deste evento.
O cruzado, que não assina o documento, é conhecido como «Cruzado Anónimo» e o seu escrito, encontrado numa biblioteca da cidade italiana de Turim, é publicado pela primeira vez em 1844 e tem por título «Relação da Derrota Naval, Façanhas e Sucessos dos Cruzados que Partirão do Escalda para a Terra Santa no Ano de 1189». Em 1189, a cidade era dominada pelos Almóadas, tribo berbere que se organiza a partir de Marrocos, com o objetivo de unificar o Império Muçulmano, algo fragmentado, após tentativa reunificadora perpetrada com insucesso pelos Almorávidas.
À frente da cidade está Abu Becre Ibn Wazir, a quem os cruzados chamavam Albainus. Aparentemente, este Ibn Wazir era filho de Mahomed Ibn Wazir, senhor de Évora, que também governou Beja, Silves e Badajoz. Numa primeira fase partidário de Ibn Qasí, que dominou o reino de Silves durante a primeira metade do século XII, torna-se seu opositor e, após a sua morte, em 1151, chefia a cidade até os Almorávidas o destronarem, em 1157. O seu filho, também conhecido por Abu Becre Ibn Wazir Al-Xelbi, é um dos mais importantes personagens do cerco de 1189. Guerreiro bem treinado, homem forte e persistente, resiste heroicamente durante um longo período de tempo, a um exército composto por mais de 70 embarcações e um número incontável de cavaleiros.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vítor Pina e Daniel Pina
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