Depois de muitos anos de atividade em Coimbra, onde tirou, em 1995, o curso de Construção de Instrumentos Tradicionais Portugueses, o luthier de cordofones Manuel Amorim mudou-se de malas e bagagens para o Algarve, onde teve ateliê em Faro, sendo agora uma das mais recentes apostas do programa «Loulé Criativo» da Câmara Municipal de Loulé. Uma paixão que nasceu, em miúdo, em Vila Nova de Gaia, por curiosidade, quando decidiu desmanchar um banjo do pai para ver como ele era por dentro. Nos anos 80 aprendeu música, mas o seu fascínio não era tocar instrumentos, mas sim perceber as suas dinâmicas e formas, como eles nasciam. Por essa altura já ia fazendo alguns biscates para amigos, nada de muito sério, o que mudou quando se tornou aprendiz do mestre Fernando Meireles. “As madeiras para mim não têm segredos, estava bastante envolvido na etnografia e sempre senti que os nossos instrumentos tradicionais eram a maior riqueza que nós tínhamos. Fui convidado para frequentar esse curso em Coimbra, só três é que chegaram ao fim, e comecei a trabalhar nisto a tempo inteiro na minha própria oficina”, recorda.

Em 2001 participou na construção, no Porto, da maior guitarra portuguesa da história e no ano seguinte veio para Faro. Depois, sentiu na pele a crise que o turismo algarvio atravessou e que se traduziu, por exemplo, no menor número de músicos a tocar na hotelaria. “Fui dar aulas de música, embora o curso que tirei não dê equivalência ao Ensino Superior, apesar de ter sido patrocinado pela Universidade de Coimbra e pelos Ministérios da Educação e da Cultura. Mas nunca deixei de fazer restauros e de construir peças, porque não nos podemos afastar muito tempo desta arte, não podemos «perder a mão» para isto”, indica. “Vamos crescendo instrumento a instrumento, todos são diferentes, têm características específicas. E um pequeno erro cometido no início da construção, depois vai-se notar no produto final”, avisa o luthier.

Ter tato, conhecimento, experiência, tudo é fundamental nesta arte, mas também paz e sossego, ainda mais quando todo o processo é manual, como acontece com Manuel Amorim, que apenas usa uma máquina de fazer furos para colocar os carrilhões nos instrumentos. “Cortar e dobrar madeira, preparar as colas quentes, é tudo feito à mão, à moda antiga. Aliás, muitas vezes fazemos as nossas próprias ferramentas, porque não existem em Portugal, temos que ir comprá-las à Alemanha, França ou Espanha”, conta, acrescentando que, neste ofício artesanal, conhecer as madeiras a fundo é outro fator chave. “A nogueira funciona muito bem para os instrumentos tradicionais portugueses. Para as guitarras clássicas ou guitarras portugueses já usamos o pau-santo do Brasil ou da Índia. A madeira é como se fosse um ser vivo, reage com o calor, a humidade, com o estado de espírito do artesão”.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina