A Câmara Municipal de Loulé, no âmbito da exposição «LOULÉ: Territórios. Memórias e Identidades», prestou uma homenagem pública aos doadores e guardiões da identidade de Loulé numa cerimónia que teve lugar, no dia 29 de setembro, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em Loulé, inserida nas Jornadas Europeias do Património de 2018, sob o tema «Partilhar Memórias». Para além dos homenageados, o momento contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, e do diretor do Museu Nacional de Arqueologia, António Carvalho.

António Carvalho, Diretor do Museu Nacional de Arqueologia

Integrado na exposição «LOULÉ. Territórios, Memórias, Identidades», o núcleo «Identidades», da autoria de Pedro Barros, regista mais de 40 «louletanos» singulares, cidadãos anónimos que doaram benemeritamente centenas, se não milhares, de peças arqueológicas que hoje fazem parte do acervo do Museu Municipal de Loulé. Outros ainda porque zelam pelos locais onde ainda existem fragmentos da memória louletana e identidades futuras, alguns dos «donos» de verdadeiras cápsulas do tempo que são os mais de 160 sítios arqueológicos do Concelho de Loulé. E elogios aos louletanos e ao seu edil Vítor Aleixo não faltaram no discurso de António Carvalho, ao falar dos mais de 230 mil visitantes que teve, num ano e três meses, a exposição «LOULÉ: Territórios. Memórias e Identidades», do valor que foi reconhecido ao seu catálogo e da relação de enorme proximidade que aconteceu entre o Museu Nacional de Arqueologia e o Município de Loulé. “É um momento sublime e único de aprofundamento, do ponto onde se pode levar a relação íntima entre duas instituições”, enalteceu. 


O Diretor do Museu Nacional de Arqueologia lembrou que, durante os meses de maio e junho do corrente ano, por virtude da realização do Campeonato do Mundo de Futebol na Rússia, o turismo abrandou em Portugal e isso mesmo se constatou no número de visitantes dos Museus, Palácios e Monumentos Nacionais. “A afluência ao Mosteiro dos Jerónimos, muito embora tenha superado o meio milhão de pessoas no Claustro, está 9,2 por cento abaixo do valor homólogo do ano anterior. Contudo, o Museu Nacional de Arqueologia subiu 14,1 por cento face a 2017, o que significa que a exposição «LOULÉ: Territórios. Memórias e Identidades» tem uma corrente própria de visitantes para além da normal afluência turística que existe na Praça do Império”, revelou António Carvalho. “Qualquer pessoa que lá vá consegue facilmente identificar quais são os grupos de cidadãos louletanos que percorrem a exposição, lado a lado com os normais turistas nacionais e estrangeiros. E isso é reflexo de um excelente trabalho que tem sido feito pelos setores da Educação, Cultura e Transportes da Câmara Municipal de Loulé”


De forma informal e sorridente, o diretor contou à assistência o episódio de uma criança que, durante a inauguração de «LOULÉ: Territórios. Memórias e Identidades», perguntou até quando a mostra estaria patente, com Vítor Aleixo e António Carvalho a responderem prontamente: 'Até que o último louletano a tenha visitado'. De igual modo acredita que um acontecimento desta natureza não será fácil de repetir, mas garante que a exposição foi feita a pensar no futuro. “Desde a primeira hora que foi idealizada para contar os sete mil anos de história de Loulé, sem a qual não se pode falar da história da Europa e da Península Ibérica, sendo um verdadeiro «Portugal arqueológico em miniatura» e retratando temas com um grande alcance. E tudo aquilo foi «desenhado» para que pudesse ser, no futuro, remontado noutro espaço”, afirmou, dando o exemplo concreto de um núcleo que já foi desmontado do Museu Nacional de Arqueologia e remontado no Museu Municipal de Loulé. “A exposição é constituída por uma informação absolutamente credível e num suporte contemporâneo muito apelativo, pelo que aquele investimento pode ser perfeitamente reutilizável e adaptado a outras circunstâncias”, destacou António Carvalho. 


Certo é que, mesmo após a sua saída do Museu Nacional de Arqueologia, a exposição «LOULÉ: Territórios. Memórias e Identidades» jamais será esquecida, uma vez que o seu premiado catálogo estará na Biblioteca Nacional e nas múltiplas bibliotecas públicas e escolares de norte a sul de Portugal. “Continuará a ser uma fonte de consulta essencial e poderá dar azo, daqui a 50 ou 100 anos, a uma atualização da própria mostra”, frisou António Carvalho, confessando ainda o seu entusiasmo por verificar que a exposição serviu, igualmente, para um despertar da atenção do cidadão anónimo para a importância de se preservar o património histórico dos lugares. E não quis terminar sem dirigir uma palavra especial aos mais de 40 louletanos que constam do módulo «Identidades». “Vocês são centrais na nossa exposição, fizeram a diferença, porque os visitantes olham para os vossos rostos e compreendem a dimensão humana, palpável, tátil, de «LOULÉ: Territórios. Memórias e Identidades». Em muitas exposições tradicionais não se sabe quem é que recolheu as peças, perdeu-se a «biografia do objeto», o que não acontece nesta mostra sobre a história de Loulé”, salientou o Diretor do Museu Nacional de Arqueologia. 


Herança cultural é um ativo fundamental

Emocionado falou Vítor Aleixo perante os seus conterrâneos, ele que sempre demonstrou um carinho especial pela valorização e tratamento do património cultural e histórico e da memória coletiva dos louletanos. “São temas que certamente vão estar no coração da política autárquica de Loulé nos próximos tempos, porque, com esta extraordinária exposição, ficamos com uma motivação adicional para fazermos mais e melhor no futuro”, assegurou o presidente da Câmara Municipal de Loulé, elogiando de imediato todos os louletanos que contribuíram para a realização de «LOULÉ: Territórios. Memórias e Identidades» “com o seu conhecimento e generosidade”. “Algumas pessoas, na sua simplicidade, não têm bem a noção da importância daquilo que fizeram quando encontraram um pedaço de uma ânfora, uma asa de um vaso, uma estela, e as guardaram de forma espontânea, por entenderem que aquilo carregava uma história muito significativa. Prestaram à nossa comunidade um serviço de grande relevância”

António Carvalho, Dália Paulo, Pedro Barros, Marilyn Zacarias e Vítor Aleixo

Para Vítor Aleixo, o património é um dos recursos mais importantes que os Municípios têm à sua disposição, sobretudo daqueles que olharem para ele numa perspetiva de investimento nas gerações vindouras. Daí que eleja, sem qualquer hesitação, a exposição «LOULÉ: Territórios. Memórias e Identidades» como a maior realização do seu primeiro mandato à frente da Câmara Municipal de Loulé. “Não é uma obra material, não é nenhuma ponte, estátua ou pavilhão, mas tratou-se de recuperar, estudar, sistematizar e organizar, de forma sólida e cientificamente estruturada, a nossa história de mais de sete mil anos. E já passaram por ela 230 mil pessoas num ano e três meses, adultos e crianças, muitos deles louletanos a quem a autarquia tem ajudado na deslocação a Lisboa”, lembrou o edil. “O primeiro ativo diferenciador do território são as pessoas, assim como o património cultural que elas nos vão legando ao longo dos tempos. A nossa herança cultural é um ativo essencial para o desenvolvimento económico e para a coesão territorial e social do concelho”, enfatizou Vítor Aleixo. 


O autarca adiantou ainda que este trabalho e postura não terminaram após a inauguração de «LOULÉ: Territórios. Memórias e Identidades». “Num mundo global onde as referências são muito diluídas, se liquefazem no dia-a-dia e não marcam, as nossas gerações têm ali uma excelente oportunidade para perceber o que é ser «louletano». É bastante importante sermos pessoas de paz e abertas aos outros povos e culturas, mas não devemos perder a consciência fortíssima das nossas identidades e raízes. O património é um veículo de paz, compreensão e aceitação de todos os homens e mulheres que passam por esta vida”, defendeu, antes de falar da candidatura apresentada ao CRESC Algarve 2020 para a valorização das Antas do Ameixial e da Escrita do Sudoeste, o que permitirá criar roteiros temáticos por aquele território do interior do concelho, assim como da georreferenciação dos sítios arqueológicos, mais uma mais-valia para dinamizar o turismo cultural. “Estamos ainda em conversações com o «Vilamoura World» para resgatarmos o Cerro da Vila para a gestão municipal e, em Loulé, estamos a preparar o «Quarteirão Cultural», que integra a reestruturação do Museu Municipal de Loulé”, desvendou Vítor Aleixo.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina