Foram inauguradas, na manhã do dia 28 de novembro, a nova ETAR Intermunicipal de Faro-Olhão e o Sistema Elevatório de Olhão-Faro da «Águas do Algarve, S.A.», um investimento superior a 21 milhões de euros que contou com financiamento do Fundo de Coesão no âmbito do Programa Operacional Temático Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR). Recorde-se que, até à data, parte significativa das águas residuais geradas na cidade de Faro eram tratadas na antiga ETAR de Faro Nascente, ao passo que parte substancial das águas residuais produzidas na cidade de Olhão eram tratadas na ETAR de Olhão Poente. As duas infraestruturas de tratamento encontravam-se, contudo, subdimensionadas em relação às condições de afluência (qualitativa e quantitativa), assentando em sistemas de lagunagem que se revelavam desadequados face aos níveis de qualidade atualmente exigidos para o efluente tratado a descarregar no meio recetor, nomeadamente a Ria Formosa. As duas instalações de tratamento emanavam ainda um odor muito ativo em determinadas épocas do ano, penalizando os estabelecimentos hoteleiros e habitações construídas nas suas proximidades.
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A esta situação acresce o esforço efetuado no âmbito do reforço e ampliação da obra, de modo a integrar as afluências dos aglomerados populacionais de Estoi, Conceição, S. Brás de Alportel e da zona Poente de Olhão, e à construção de um sistema elevatório de forma a desativar a ETAR de Olhão Poente, integrando os seus efluentes na ETAR de Faro Nascente. Tratou-se, por isso, de um avultado investimento da «Águas no Algarve» no concelho de Faro e que envolve, para além da construção da ETAR de Faro-Olhão e do Sistema Elevatório de Olhão-Faro, a reabilitação das Estações Elevatórias de Águas Residuais de Faro e de Olhão, orçado em quase quatro milhões de euros. Esta empreitada incluiu a reabilitação de sete estações elevatórias de águas residuais situadas nos dois concelhos e que integram os subsistemas que agora afluem à Estação de Tratamento de Águas Residuais de Faro-Olhão.
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Rogério Bacalhau, Presidente da Câmara Municipal de Faro |
A nova ETAR Intermunicipal era um sonho de há quase uma década e vai servir mais de 113 mil habitantes a título permanente, “sem macular aquilo que temos de mais sagrado do ponto de vista ambiental, a nossa Ria Formosa”, destacou Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro. “O Algarve pretende consolidar uma marca de diferenciação e que potencia a associação da identidade de cada concelho com o ambiente na construção de um sistema mais saudável e sustentável. Por isso, saudamos todos os investimentos realizados, na última década, pelas «Águas do Algarve», que se constituem como um fator de competitividade económica, em particular na área do turismo”, reforçou o edil, recordando um tempo assim não tão distante em que a água era escassa nas torneiras e o saneamento básico era um privilégio de alguns.
Rogério Bacalhau considera, então, bastante positiva a jornada iniciada em 1986 quando, sob a presidência de João Negrão Belo, a Câmara Municipal de Faro adquiriu o terreno onde esta infraestrutura veio a ser construída, “dando um salto tecnológico colossal e conferindo aos nossos concelhos uma melhor qualidade ambiental, bem como à nossa Ria Formosa”. “Naquele tempo, as águas da Ria Formosa eram praticamente inacessíveis, o lixo acumulava-se nas margens e despejávamos as nossas águas sujas diretamente para a Ria, sem qualquer tratamento. Os autarcas de então preferiam investir em tudo menos no Ambiente”, lamentou Rogério Bacalhau, situação que se inverteu por completo no passado recente. “No espaço onde nos encontramos respira-se ar puro e a envolvente apresenta-se limpa. A área adjacente, devido às lagoas que aqui existem, representa um dos principais pontos de concentração de avifauna selvagem do Algarve e de Portugal. Faro tem uma água certificada com o selo de excelência; taxas de cobertura de água e saneamento de 96 por cento e ao nível do que de melhor se faz na Europa; um sistema municipal de recolha e depósito de resíduos elogiado por todos; e, agora, mais uma ETAR de topo, que se soma à da freguesia de Montenegro”.
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António Miguel Pina, Presidente da Câmara Municipal de Olhão |
“Um dia felicíssimo”, assim descreveu António Miguel Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão, embora entenda que as ETAR’s de Faro-Olhão e da Companheira, em Portimão, deveriam ter sido construídas há mais tempo. “O Algarve é, hoje, uma região melhor do que era há 20 anos e estamos todos de parabéns, especialmente o Grupo Águas de Portugal”, salientou, antes de usar da palavra o Presidente do Conselho de Administração da «Águas do Algarve», Joaquim Peres. “Não é em todo o lado que podemos beber água da torneira com 100 por cento de segurança, em resultado do trabalho desenvolvido ao longo do tempo por todos aqueles que estão presentes, diariamente, nas ETA’s e nas ETAR’s, operando e mantendo. Podemos dizer que encerrou o ciclo da «Águas do Algarve» de construção das grandes infraestruturas, mas há outros ciclos para desenvolver, em virtude da sua conservação e manutenção”, indicou Joaquim Peres, adiantando que a Investigação e o Desenvolvimento vão marcar o futuro da empresa. “Ontem inauguramos um datacenter que finalmente saiu de um vau de escada e ocupou, de uma forma digna, as instalações das «Águas do Algarve». Saímos quase da Idade da Pedra para a Idade Moderna, o que nos permite agregar os trabalhos de telegestão”.
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Joaquim Peres, Presidente do Conselho de Administração da «Águas do Algarve» |
Joaquim Peres reconheceu ainda que, quando se fazem estes tratamentos de águas residuais, há subprodutos que vão surgindo, um deles as lamas, falando da necessidade de se fazer “uma intervenção inteligente nestes materiais”. “Graças ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas temos a possibilidade de, por detrás destas instalações, implantarmos umas estufas para secagem solar dessas lamas. E porque o espaço ainda é generoso, vamos igualmente introduzir um parque fotovoltaico”, revelou o presidente do Conselho de Administração da «Águas do Algarve», sem esquecer a questão da educação ambiental. “Temos aqui uma sala em open space que pode ser visitada por escolas para que os mais novos aprendam a fazer um uso inteligente da água. Estamos aqui com uma visão de futuro, porque novos desafios se lançam”, concluiu.
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João Nuno Mendes, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Águas de Portugal |
Presente na cerimónia esteve também o Presidente do Conselho de Administração da «Águas de Portugal», até porque o grupo estava a festejar os 25 anos precisamente no Algarve. “Esta infraestrutura é um testemunho do nosso espírito de serviço aos portugueses e tenho que agradecer o esforço extraordinário da equipa da «Águas do Algarve», por tornarem possível que este ano, no Algarve, tenhamos concluídas a ETAR de Faro-Olhão e a ETAR de Portimão, que revolucionam o saneamento da região”, salientou João Nuno Mendes. “Continuamos em reuniões com os presidentes das Câmaras Municipais do Algarve para tentarmos encontrar a solução do nosso «casamento» até 2048. Temos consciência das questões estratégicas de cada concelho, tomamos conhecimento do amplo estudo que a AMAL tem desenvolvido para perceber quais serão as alterações climáticas e o seu impacto na região e na atividade turística e vamos procurar incorporar, em equipa, essas conclusões no trabalho conjunto que estamos a realizar”.
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O Ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes |
A inauguração da ETAR Intermunicipal de Faro-Olhão e do Sistema Elevatório de Olhão-Faro da «Águas do Algarve, S.A.» foi presidida pelo Ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, para quem “é impressionante como se consegue construir uma infraestrutura como esta num local tão sensível em termos ambientais e valorizando o próprio território envolvente”. “Todos nos devemos orgulhar do que tem sido feito em Portugal no domínio da recolha e tratamento de efluentes. Passar de, em 1996, 50 por cento de água segura na torneira para os 98,7 por cento atuais só foi possível porque ninguém virou a cara ao problema, porque todos os governos quiseram que tivéssemos melhores infraestruturas. E, quando falamos no tratamento de águas residuais, esta evolução ainda é mais expressiva”, garantiu João Pedro Matos Fernandes.
Fechado o ciclo das grandes construções, outros se abrem, concordou o Ministro do Ambiente e da Transição Energética, da manutenção e valorização destes investimentos, da eficiência energética, de que os produtos tratados nas ETAR tenham uma vida circular e possam vir a ser reutilizados. “Acreditamos que o próximo quadro comunitário vai ter ainda uma fatia expressiva de verbas para investimento no ciclo urbano da água, mas isso não se vai prolongar por muitos anos. Neste setor foram investidos 10 mil milhões de euros, boa parte deles financiados por fundos comunitários, nos últimos 25 anos, mas não podemos ter a ilusão, nem sequer a expetativa, de que isso se vai manter no futuro”, alertou o governante, não escondendo, porém, a sua satisfação pela boa forma como estes dinheiros comunitários foram utilizados para se assegurar a qualidade da água que todos bebemos no nosso dia-a-dia.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina