Depois de obras de recuperação e requalificação com arquitetura e museografia de Rui Orfão, a antiga Capela do Paço Episcopal de Faro reabriu ao público, no dia 3 de novembro, agora transformada em Núcleo Histórico da Imprensa de Gutenberg e do Pentateuco de Faro, num projeto que teve a direção do Círculo Teixeira Gomes, da Editora Sul Sol e Sal, da DFK SROC, da Fundação Portuguesa das Comunicações e da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve. Os conteúdos chegaram da Fundação Portuguesa das Comunicações, da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra e de Faro, da Editora Sul Sol e Sal, de José Pacheco, do Seminário Diocesano S. José e da Biblioteca do Paço Episcopal, com o projeto a ter coordenação científica de Manuel Cadafaz de Matos, José Pacheco, Rui Orfão, Isabel Manteigas, Francisco Leiria Viegas e Luís Andrade.
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Manuel Brito, Teresa Salema, Guilherme d'Oliveira Martins, Rogério Bacalhau, Paulo Neves e Manuel Célio Conceição |
A par da requalificação da Capela, que foi ocupada, em 1913, com um ginásio militar, aquando da implantação da República, o espaço conta com a musealização do primeiro livro imprenso em Portugal, em 1487, precisamente em Faro, e com o prelo de Gutenberg que o reproduziu, além de uma breve história da escrita desde a pedra coniforme e do Scriptorium Medieval de um monge copista até à atualidade. “Pretende-se fomentar, com esta exposição, o encontro de culturas, a tolerância, os fundamentos da nossa civilização, que fizeram de Faro o berço da imprensa em Portugal com a impressão do Pentateuco em hebraico, como já antes tinha sido o berço da Cristandade com a Igreja de Ossónoba, a diocese mais antiga do que viria a ser o território português. Outras regiões tentarão obter este título, porque têm mais força do que nós, porque o afirmam de há muitos anos, mas Faro tem a razão do seu lado”, frisou Paulo Neves, presidente do Círculo Teixeira Gomes, no início da cerimónia oficial de inauguração do Núcleo Histórico da Imprensa em Faro.


Paulo Neves destacou a postura do Bispo do Algarve ao abrir as portas de sua casa para a instalação deste novo espaço cultura le enalteceu a Fundação Portuguesa das Comunicações pela cedência do prelo de Gutenberg, mas também Manuel Brito, da «Sul, Sol e Sal», “que teimosamente persiste na ideia de no Algarve fazer difundir o conhecimento e que tomou em mãos a dupla missão de participar na dinamização deste núcleo e de apresentar uma grande edição, nacional, com a obra de José Pacheco sobre os 500 anos da imprensa e das artes gráficas em Portugal”. A confluência de várias boas-vontades que permitiram que este projeto se tornasse realidade foi realçada por Teresa Salema, presidente da Fundação Portuguesa das Comunicações, nascida há mais de duas décadas para estudar e preservar toda a história e património do setor das comunicações. “Esta história que contamos no Museu das Comunicações em Lisboa tem quase 500 anos, começa com o estabelecimento dos correios em Portugal, em 1520, por D. Manuel I, e cruza-se com o desenvolvimento das redes de comunicação no nosso país. Mas da nossa missão faz parte também o desvendar o futuro das novas tecnologias e o seu impacto no nosso quotidiano e na construção da sociedade do conhecimento, daí estarmos aqui, com muita honra, a partilhar algum do património da fundação”, referiu Teresa Salema.
Na exposição encontra-se, então, uma réplica do prelo de imprensa criado, em 1450, por Johannes Gutenberg, mas também um Telégrafo Morse de Damasquino, de 1879, um dos primeiros serviços de comunicações à distância e que funciona como uma tipografia; uma máquina de escrever Olivetti, de 1930; e uns velhinhos ZX Spectrum e Macintosh do final da década de 80 do século passado. “Foi a partir dessa data que assistimos a uma vertigem tecnológica em várias áreas: a massificação dos computadores pessoais e dos telemóveis; o crescimento explosivo das redes e da internet; o aumento exponencial da capacidade de computação e armazenagem da informação; e o consumo dos média de informação nos diversos formatos em qualquer lugar e por qualquer pessoa. Estamos numa era tecnológica que permite que todos tenham acesso e partilhem, de forma instantânea, os mais variados conteúdos, todos podem ser produtores e consumidores de informação”, salientou a presidente da Federação Portuguesa das Comunicações. “Não sabemos qual vai ser o destino, mas sabemos que o caminho passa, certamente, por uma integração e equilíbrio entre as novas tecnologias, a ética e os valores humanísticos universais”, terminou Teresa Salema.

Presente na cerimónia esteve igualmente o Coordenador Nacional da Comissão do Ano Europeu para o Património Cultural, Guilherme d`Oliveira Martins, que partilha das opiniões de que a história da comunicação é a história da humanidade e de que Faro teve um papel pioneiro na história da comunicação europeia e mundial. “Há um desafio fundamental que a comunidade científica ainda tem que abraçar, a descoberta da Escrita do Sudoeste, que está por revelar e interpretar plenamente. Sabemos alguma coisa ao articular essa escrita com a fenícia, mas há muito ainda por conhecer”, manifestou. “Património cultural é tanto o material como o imaterial e os instrumentos não são maus ou bons, o que pode ser má ou boa é a sua utilização. É fundamental colocar a pessoa e a dignidade humana no centro das nossas preocupações e o Algarve é um lugar especial por ser uma encruzilhada de culturas”.
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O Bispo do Algarve D. Manuel Neto Quintas |
Dúvidas não tem também Rogério Bacalhau de que a história e a cultura portuguesas são riquíssimas, ainda que nem sempre se lhes dê o devido valor. “Temos todas as razões para nos orgulharmos de muitas coisas que fizemos e hoje celebramos aqui o conhecimento e a sua comunicação. O tempo passa num instante, as tecnologias têm evoluído bastante no passado recente, mas a nossa história e conhecimento permanecem na memória”, sublinhou o presidente da Câmara Municipal de Faro, edifício que é vizinho do Núcleo Histórico da Imprensa de Gutenberg e do Pentateuco de Faro. E, a finalizar as intervenções oficiais, o Bispo D. Manuel Neto Quintas exprimiu o seu regozijo pela presença de tantas dezenas de pessoas na antiga capela da casa dos Bispos do Algarve. “Desde a primeira hora que manifestamos a nossa total adesão a esta iniciativa, disponibilizando este espaço e toda a colaboração ao nosso alcance no sentido da concretização deste projeto, certos de que, assim, estávamos a contribuir para dar a conhecer uma exposição notável do património da cidade de Faro. A impressão do Pentateuco fez de Faro a cidade berço da imprensa em Portugal, daqui se difundindo para outras partes pela utilização do prelo de Gutenberg”, destacou D. Manuel Neto Quintas.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina