Foi no seu gabinete na Escola Superior de Educação e
Comunicação, no Campus da Penha da Universidade do Algarve, em Faro, que
encontramos Bruno Mendes da Silva, professor e vice-coordenador do CIAC –
Centro de Investigação em Artes e Comunicação, de volta do computador e de
«Cadavre Exquis», um filme em que os espetadores podem intervir, em tempo real,
na narrativa. Prefere falar em investigação e filmes, não propriamente em
realizador de cinema, e a aventura começou com o projeto «Os Caminhos se
Bifurcam», do CIAC, que faz experiências práticas a nível de filmes
interativos. E assim surgiu, em 2014, «Neblina», que foi, inclusive,
selecionado para participar, em 2015, no FILE - Festival Internacional de Arte
Eletrónica de São Paulo, no Brasil, um dos certames mundiais de topo em termos
de arte digital. “A partir daí fomos continuando com as experiências que, em
última instância, nos ajudam a perceber se existe alguma hipótese de evolução
da própria linguagem audiovisual, que se cimentou bastante depressa no início
do século passado, com realizadores como Eisenstein e Porter, mas depois
estagnou até aos tempos modernos”, conta o investigador.
A ideia é que, se o público tiver uma posição ativa em
relação à obra, e não passiva, como é tradicional, talvez se abram novos
horizontes. Por isso, «Neblina» desmonta o conto «Se numa noite de inverno
um viajante», de Italo Calvino, em fragmentos sonoros e visuais que se repetem
até perderem significado, ou ganharem um novo significado. “Pretendia-se oferecer
ao espetador o estatuto de espetador-protagonista e, através de distintos
recursos morfológicos, este podia tornar-se na personagem principal da história.
É utilizada uma voz off que entra em discurso direto com o
espetador/utilizador e que o ajuda no seu processo de imersão através de
conselhos e confidências. Com o desenrolar da narrativa, a distinção entre os
dois intervenientes vai-se tornando cada vez mais ténue, ajudando a adensar o
ambiente obscuro e misterioso”, explicou Bruno Mendes da Silva.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
Leia a entrevista completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__180