Numa coprodução da Opera 2001, Fundação Pedro Ruivo e Teatro Municipal de Faro, o Teatro das Figuras, em Faro, acolheu, na noite de 2 de novembro, «A Flauta Mágica» de Wolfgang Amadeus Mozart. A fantástica opera foi produzida no século XVIII, um período histórico em que a linha de pensamento do homem sofria uma mudança radical através do Iluminismo, conjunto de ideais filosóficos que defendia a dissociação de pensamento com a Igreja e a valorização de uma visão do mundo racional, na qual a sabedoria surge como única possibilidade de justiça e igualdade entre os homens.

Este pensamento colocou de imediato em cheque as relações de poder e subordinação da sociedade da época e a legitimidade dos aristocratas e das tiranias. Por isso, «A Flauta Mágica» apresenta-se como uma ópera de formação e uma alegoria para as provações pelas quais o homem precisa passar para sair das trevas do pensamento medieval em direção da luz iluminista. Neste contexto, as principais personagens – Tamino e Pamina – enfrentam os obstáculos impostos pelos membros do Templo da Sabedoria para, no final da ópera, encontrarem a realização plena e a união ideal.

Nesta difícil jornada o casal conta com a ajuda de Sarastro, soberano que simboliza o homem racional que detém o poder por sua sabedoria, ao invés da força, e que é capaz de ser sempre justo com qualquer cidadão que busque seus conselhos. Mas Sarastro não é a resposta para a sabedoria, apenas o caminho para se chegar até ela, ao guiar o homem na sua jornada pessoal em busca da autonomia e liberdade de pensamento. Por isso, entra em contraste direto com a Rainha da Noite, a vilã da história que personifica tudo aquilo condenado pelo Iluminismo, nomeadamente a superstição, a irracionalidade, a aristocracia, a tirania e a subordinação, tanto social quanto intelectual, ao ditar tudo o que seus inferiores devem ou não pensar e fazer.

Algumas das árias de «A Flauta Mágica» tornaram-se muito conhecidas, como o dueto de Papageno e Papagena e as duas da Rainha da Noite. Os conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa transparecem em vários momentos na ópera, por exemplo quando o valor de Tamino é questionado por ser um príncipe e, como tal, talvez não conseguisse suportar as duras provas exigidas para entrar no templo. O final da história, porém, é feliz, com Tamino e Pamina a ficarem juntos.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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