O Observatório Internacional de Direitos Humanos atribuiu, no dia 10 de dezembro, à Fortaleza de Sagres, em Vila do Bispo, o título honorífico de «Lugar Internacional de Cultura e Paz». A distinção insere-se num cordão mundial de solidariedade, na esfera da cidadania global a favor da Paz e no reconhecimento pelo OIDH de alguns monumentos notáveis, hoje espaços de Cultura e de Paz, transmitindo tranquilidade, bem-estar e conhecimento a todos os que o visitam, promovendo os valores da interculturalidade, da igualdade e da paz. A cerimónia foi igualmente uma celebração dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos 40 anos da adesão de Portugal à Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

O Observatório Internacional de Direitos Humanos, com sede mundial em Portugal, é uma organização sem fins lucrativos, livre e independente, que, através dos seus diversos núcleos, promove e participa em diferentes ações nacionais e internacionais, tendo como princípio fundamental a dignidade da pessoa humana como valor inalienável e como objetivo primordial a defesa incessante dos princípios consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem. “Acreditamos que é possível termos, na nossa vida quotidiana, atitudes de defesa dos direitos humanos, nomeadamente das pessoas que estão à nossa volta. Este tema pode parecer muito distante, mas, infelizmente, todos nós, de alguma forma, também violamos os direitos humanos, cada vez que descriminamos alguém, que a desprezamos, que dizemos algo sobre ela pessoa que sabemos que não é verdade”, frisou Maria Luísa Francisco. 


A representante da OIDH recordou, a esse propósito, uma campanha das Nações Unidas de 2016 que tinha como título «Manifeste-se pelo Direito de alguém hoje», algo que podemos, e devemos continuar a fazer no nosso dia-a-dia. “Passados 70 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem como um ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, importa insistir no apelo à razão e à consciência dos seres humanos, para assumirem o dever fundamental de agirem, uns com os outros, em espírito de fraternidade, condição essencial para a liberdade, a justiça e a paz”, apontou Maria Luísa Francisco, antes de entregar o título honorífico de «Lugar Internacional de Cultura e Paz» à Fortaleza de Sagres. “Sagres foi um lugar estratégico no início dos Descobrimentos Portugueses e é um monumento e lugar principal da história da Europa e do Mundo, tendo, por isso, sido distinguido, em 2015, pela União Europeia com a Marca do Património Europeu. Mas também é um lugar que associamos à paz. O patrimonium sacrum foi um local mítico e místico onde o mundo conhecido terminava e onde, desde sempre, a espiritualidade sobressaiu”, descreveu Maria Luísa Francisco. 


A edilidade de Vila do Bispo foi representada pelo Vereador Armindo Vicente, que avisou que “é muito fácil, hoje, pegarmos nos óculos da atualidade, com todo o seu crescimento e evolução, e fazermos juízos sobre o que aconteceu no passado”, numa alusão ao facto da Fortaleza de Sagres ter estado ligada, noutros séculos, à escravatura. “Quase toda a gente se esquece que este foi um equipamento militar e se transformou num equipamento de paz e união aonde toda a gente vai ter. Este património e espaço tem algo de diferente, basta pararmos e escutarmos o mar, somos completamente sugados pela força da natureza. Há aqui a conjugação da natureza e da vontade do homem para tornar a Fortaleza de Sagres ainda mais especial”, afirmou. E, à semelhança do que já tinha feito Maria Luísa Francisco, Armindo Vicente deixou uma palavra de enorme gratidão a Alexandra Rodrigues Gonçalves por tudo o que fez, ao longo dos últimos cinco anos, como Diretora Regional de Cultura do Algarve. “Antes das pessoas partirem dos seus cargos é que devemos agradecer o que foi feito”, justificou o também Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo, entregando-lhe a medalha da instituição e uma placa em reconhecimento da ajuda prestada neste período. 


Sem esconder a emoção pelo gesto, Alexandra Rodrigues Gonçalves admitiu que, nestes cinco anos, “se construíram bastantes parcerias e se fez muito trabalho”. No seu último ato público na Fortaleza de Sagres, a Diretora Regional de Cultura do Algarve destacou o apoio da equipa sediada neste equipamento cultural, coordenado por Luciano Rafael. “Todos deram o seu contributo e só assim é possível fazer mais e melhor. Certamente que há muitas iniciativas por desenvolver, mas hoje estamos aqui para assinalar um reconhecimento internacional da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Convenção Europeia dos Direitos Humanos. A Fortaleza de Sagres é um Monumento Nacional desde 1910, é um lugar de memórias e uma referência universal cujos valores simbólicos, históricos e naturais lhe dão uma maior visibilidade”, indicou. “Nesta finisterra do barlavento algarvio, território e espaço mítico da Antiguidade, o cabo do fim do mundo, ou do início, deu lugar a um espaço de santuários e de peregrinações. Aqui foi fundada a Vila do Infante, morada última do Infante D. Henrique, o iniciador dos Descobrimentos Portugueses, o percursor da globalização”, enfatizou Alexandra Rodrigues Gonçalves. 


De acordo com a Diretora Regional de Cultura do Algarve, a Fortaleza de Sagres é um dos lugares físicos que a memória europeia e universal associa ao início de importantes mudanças históricas, aos desenvolvimentos técnicos e científicos, ao englobamento de várias áreas do mundo que passaram a estar em intercomunicação, “contribuindo para novos diálogos entre mundos e civilizações e para o intercâmbio de valores humanos”. “Sentimo-nos muito honrados por esta distinção simbólica de «Lugar Internacional de Cultura e Paz». Muito se fala da Fortaleza de Sagres dos tempos da escravatura, da pirataria e dos corsários, de momentos menos felizes da história da humanidade, mas que são hoje exemplos de aprendizagem daquilo que não deve continuar a acontecer”.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina