A edição de 2019 da Mostra de Cinema América Latina acontece
de 24 a 27 de janeiro (quinta-feira a domingo), no Cine-Teatro Louletano, e
resulta de uma coapresentação com o Cinema São Jorge, sendo Lisboa e Loulé os únicos
locais de Portugal onde tais obras são exibidas. A 9.ª edição desta mostra
cinematográfica traz, assim, a esta sala de espetáculos uma seleção de cinema
ibero-americano, com quatro filmes e dois documentários.
A programação arranca com «Alanis», do realizador argentino
Anahí Berneri. Alanis trabalha como prostituta. Vive com o seu bebé e Gisela,
uma mulher mais velha, no chamado «apartamento-privado» da baixa de Buenos
Aires, onde recebe os clientes. Um dia, dois inspetores municipais, disfarçados
de clientes, entram no apartamento, encerram o espaço e prendem Gisela, acusada
de tráfico humano. Alanis, carregada de mentiras e «vestida» com roupa de
trabalho, procura a ajuda da tia, a viver na Praça Miserere. A partir deste
bairro multirracial e violento, Alanis tenta sobreviver, ao mesmo tempo, que
cuida do seu filho e arranja maneira de ajudar a amiga. Na rua tenta vender o
melhor que sabe fazer. Mas a rua tem regras e Alanis tem que encontrar o seu
lugar. A exibição terá lugar a 24 de janeiro, quinta-feira, pelas 21h.
Na sexta-feira, dia 25, também pelas 21h, é exibida «Yo no
me llamo Ruben Blades», de Abner Benaim (Panamá, Argentina, Colômbia). Ruben
Blades é um ícone latino-americano. Na década de 70 do século passado, o cantor
e compositor panamenho, a viver na cidade de Nova Iorque, revolucionou o mundo
da Salsa com as suas letras sociais e ritmos explosivos. Com um estilo
classificado de «salsa intelectual» e, em muitos países, conhecido como o «poeta
da salsa», Blades tem mais de 20 álbuns gravados e, por 17 vezes, viu o seu
trabalho reconhecido e premiado com um Grammy. Paralelamente à carreira
musical, Ruben Blades participou como ator em diversas produções de Hollywood e
cinema independente. Em 1994, foi um dos candidatos à presidência do seu país
e, entre 2004 e 2009, foi Ministro do Turismo do Panamá.
Destaque para «Oscuro Animal», de Felipe Guerrero (Colômbia,
Argentina, Holanda, Alemanha, Grécia), que é apresentado a 26 de janeiro,
sábado, pelas 17h, e que conta a história de três mulheres que fogem da selva
em direção à cidade para escapar à guerra que assola os territórios rurais
colombianos. Cada uma empreende uma viagem em busca de tranquilidade e sossego.
Mas uma vez chegadas a Bogotá, estas mulheres deparam-se com um cenário adverso
à sua realidade e costumes.
Pelas 21h do mesmo dia é exibido «Puntos de Reencuentro», da
realizadora mexicana Valentina Pelayo, documentário que pretende homenagear o
artista mexicano Felipe Ehrenberg (1943-2017), cujo trabalho ultrapassou
fronteiras e catapultou o nome do artista e de toda a cena artística e social
do México para o mundo. Recorrendo a imagens de arquivo, o filme mostra a
trajetória artística de Ehrenberg até à atualidade. A obra de Ehrenberg, classificada
de inquieta e muito ativa, é igualmente eclética, cheia de humor e
profundamente comprometida com a situação mexicana. O documentário, conduzido
por uma entrevista da realizadora ao artista, acaba por ser uma reflexão em
forma de ensaio, insistindo na ideia que os reencontros representam sempre
novas possibilidades, tal como a que teve Valentina Pelayo: começou um novo
caminho inspirado na generosidade e poder comunicativo de Ehrenberg.
No que diz respeito a documentários, destaque ainda para «X500»,
do cineasta colombiano Juan Andrés Arango Garcia, uma obra que relata a vida de
três jovens migrantes, a viver em três cidades diferentes e que enfrentam os
mesmos problemas com base numa existência desenraizada. Na sessão de
encerramento, pelas 21h, do dia 27 de janeiro, domingo, «Severina» de Felipe
Hirsch (Brasil/Uruguai) retrata a vida de um livreiro, melancólico e aspirante
a escritor, que é abalada pelas aparições e ausências da sua nova musa, que
rouba na sua livraria e nas livrarias de outros livreiros. O jovem começa a
viver um delírio amoroso onde a ficção e a realidade se confundem. Quanto mais
ele se aproxima dela mais indescritível se torna: por que rouba e que valores
defende? Quem é o homem mais velho com quem vive? O que é verdadeiro ou falso
nesta história? E que lugar poderá ele ocupar na vida dela? Perguntas às quais
tenta dar respostas à medida que se afasta da sua própria vida. Uma adaptação
do romance homónimo do escritor guatemalteco Rodrigo Rey Rosa.
Na 9.ª Mostra de Cinema da América Latina uma das
preocupações dos curadores foi a abordagem de temas como as migrações, as
questões indígenas. É a edição de um cinema de contágio produtivo entre
regiões, que nos traz também música, literatura e artes plásticas, olhando de
frente para as mudanças políticas, geográficas e migracionais
latino-americanas. Os bilhetes mantêm-se com o preço do ano passado, ou seja, três
euros por sessão/filme.