Ana Mendes Godinho, Rui André, João Fernandes e Fátima Catarina

A Secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, deslocou-se a Monchique, no dia 15 de janeiro, para presidir à cerimónia de assinatura dos projetos «Revitalizar Monchique - o turismo como catalisador» e «SustenTUR Algarve - preservação do património natural e cultural da região do Algarve», bem como de um protocolo de colaboração entre o Turismo de Portugal e a Safe Communities Portugal. Um momento que foi particularmente importante para o concelho, declarou Rui André, Presidente da Câmara Municipal de Monchique, para quem olhar para o futuro é a melhor forma de ultrapassar a tristeza que se seguiu aos incêndios que afligiram este território no Verão de 2018. “Monchique soube posicionar-se naquilo que é a estratégia regional de complementaridade da oferta tradicional do «Sol e Praia», com quatro produtos muito fortes que, na altura, associamos à marca do «Topo do Algarve». Mas Monchique não pode ser apenas o «jardim» e o «pulmão» do Algarve e em boa hora iniciamos um trabalho em parceria com a Almargem para a criação de um conjunto de percursos pedestres para a valorização do Turismo de Natureza”, lembrou o autarca.

Forte aposta foi feita igualmente nas vertentes do Turismo Gastronómico e Turismo Cultural, com Rui André a defender uma estratégia de promoção dos «circuitos curtos» entre a produção e a restauração e hotelaria, “o que tornaria provavelmente o Algarve na região mais sustentável da Europa”. “A região tem um grande número de dormidas ao longo do ano e o «outro Algarve», onde existem produtos agrícolas de imensa qualidade, só nos falta passar a Via do Infante para sul. A A22 divide o Algarve em dois, física e economicamente, e os responsáveis políticos precisam ser capazes de criar as pontes e sinergias entre este «outro Algarve» e o Algarve da hotelaria e restauração”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Monchique, acreditando que, desse modo, se aumentaria a produção na zona serrana.

João Fernandes, Rui André, Ana Mendes Godinho e Carlos Abade
Rui André sabe, porém, que esta mudança não acontece de um dia para o outro, porque as unidades hoteleiras têm cadeias de compra e estratégias de comercialização perfeitamente cimentadas. “No entanto, com incentivos fiscais, e não só, da parte do Governo, acredito que essas empresas consumiriam os produtos locais. E, se tivermos pessoas a viver neste território, com as suas atividades económicas, certamente que é mais fácil prevenir e combater o flagelo dos incêndios”, sublinhou, acrescentando ainda outros produtos que se pretende dinamizar ainda mais em Monchique: o Turismo de Saúde e o Turismo de Bem-Estar. “Cada vez mais as pessoas das grandes cidades vão para estes territórios mais tranquilos à procura delas próprias, o mindfulness é um conceito a crescer a olhos vistos no mercado turístico e Monchique, pelas suas características, pode proporcionar uma oferta de qualidade nessa matéria”.

A finalizar a sua intervenção, Rui André falou da lição que a Natureza está a dar ao ser-humano, com a floresta já a regenerar-se após os incêndios de 2018. “Agora, há que perder pouco tempo com os processos burocráticos, embora nem tudo se possa acelerar. Não queremos que se repitam os erros em Pedrogão, por isso, é preferível que se façam as coisas de forma clara e transparente, envolvendo todos os intervenientes, para que, no final, não haja um dedo a apontar ao modo como tudo foi conduzido. E as pessoas são o mais importante de Monchique, porque muitas delas saíram dos seus países de origem e vieram investir os seus recursos neste território”.

Anabela Santos, João Fernandes, Rui André e Ana Mendes Godinho
Apoiado com um financiamento de 431 mil e 856 euros, o projeto «Revitalizar Monchique – o turismo como catalisador» é promovido pela Associação Turismo do Algarve, a Almargem – Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve e o Município de Monchique, com o objetivo de dotar Monchique e Silves de condições atrativas para o desenvolvimento da atividade turística por via da intervenção em zonas que foram atingidas pelo incêndio que fustigou estes dois concelhos no Verão de 2018. “A Via Algarviana tem dois setores icónicos no concelho de Monchique, pelos quais se sobe até à Picota, passando-se pela Foia, que foram muito afetados pelos incêndios, quer na parte da sinalética como da paisagem. Vamos ver se é preciso alterar os setores ou se basta voltar a sinalizar, porque muitas pessoas continuaram a percorrer estes setores, com recurso a GPS”, declarou Anabela Santos, da Almargem.

A estes somam-se cinco percursos pedestres circulares dentro do concelho e duas rotas temáticas, pelo que as expetativas são muitas em relação ao futuro. “Vamos precisar da ajuda dos agentes locais para sinalizarmos cinco a sete novos percursos, para dar a conhecer partes do concelho que não arderam, para transmitir uma imagem positiva de Monchique. Para além disso, há intenção de criar uma plataforma – «Visit Monchique» – desenvolvida pela Câmara Municipal de Monchique, para se agregar toda a informação turística do concelho e desenvolver produtos comercializáveis”, adiantou Anabela Santos. Assim, até dezembro de 2019 há muito a fazer, desde o reforço da rede de percursos pedestres e cicláveis de Monchique à implementação dessa plataforma agregadora de experiências inovadoras, culturais e criativas, articuladas com a rede de percursos pedestres, visando a valorização dos produtos turísticos e do território. Vai-se também desenvolver a oferta de programas e pacotes turísticos integrados, a realizar pelos agentes locais, envolvendo o Turismo de Natureza, Turismo Cultural e Criativo, bem como apostar-se na capacitação dos profissionais do setor no sentido de qualificar a oferta regional, com vista ao aumento do número de turistas e visitantes em Monchique e no Algarve, especialmente durante a época baixa. “E vamos avançar para um novo Festival de Caminhadas para se juntar aos três já existentes no resto do Algarve (Ameixial, Alcoutim e Lagos). Quem gosta de caminhar tem que vir a Monchique, que possui cantos e recantos para se descobrir e apaixonar-se por eles”, revelou ainda a representante da Almargem.

Turismo de mãos-dadas com Monchique

Promovido pela Entidade Regional de Turismo do Algarve, o projeto «SustenTUR Algarve» tem como propósito a promoção da sustentabilidade do património natural e cultural da região junto dos visitantes e residentes, em estreita parceria com atores públicos e privados, através da realização de um conjunto de ações de capacitação, informação e sensibilização, com o intuito de fortalecer uma cultura de turismo na região. O projeto é apoiado com 204 mil euros e a sua execução decorrerá até 30 de novembro de 2020, com João Fernandes a destacar a rapidez com que foi possível desenvolver um plano estratégico e de ação concertado com os vários parceiros. “A primeira vertente do projeto passa pela capacitação «bike & walk friendly» para alojamentos, uma sequência de uma consultadoria à medida de pequenas empresas que já temos vindo a realizar em termos de Via Algarviana, Ecovia do Litoral, Grande Rota do Guadiana e a Rota Vicentina. Houve um bom feedback dos participantes, pelo que vamos reforçar este trabalho”, apontou o presidente da Região de Turismo do Algarve.  

João Fernandes e Carlos Abade, vogal do Turismo de Portugal

Sensibilizar para a importância da preservação e respeito pelo património natural e cultural é outra das linhas de orientação do «SustenTUR Algarve» e vão-se desenhar programas de formação à medida dos operadores turísticos. “Temos assistido, por exemplo, a algumas práticas menos informadas no contato com os cavalos-marinhos e outras espécies marinhas, e queremos que as empresas sejam agentes ativos da preservação desse meio, o que já acontece na esmagadora maioria dos casos”, declarou João Fernandes. Mas os próprios residentes têm de cuidar melhor do seu território, com o lixo no chão a continuar, infelizmente, a ser uma prática corrente. “Haverá ainda uma ação dirigida especificamente aos turistas das autocaravanas, pois sabemos de algumas práticas menos saudáveis nessa matéria. No que toca aos recursos cicláveis, e numa parceria com a Federação Portuguesa de Ciclismo e com o Turismo de Portugal, definimos uma rede para ciclismo de estrada, com percursos para diferentes níveis de desempenho que servem para o cicloturista, estagiários ou profissionais de alto rendimento”, indicou.

Rui André e Carlos Abade, vogal do Turismo de Portugal
Quanto à última linha de atuação do «SustenTUR Algarve», o combate à turismofobia, João Fernandes reconhece que essa realidade é mais conotada com grandes centros urbanos como Lisboa e Porto, lembrando que o Algarve convive naturalmente com o turismo praticamente desde 1965, aquando da abertura do Aeroporto Internacional de Faro. “Apesar de tudo, devemos estar atentos a este fenómeno e evidenciar, junto dos residentes, que o turismo também gera bem-estar e que é o mote para toda a economia local. Este projeto, por todas estas características, aplica-se na perfeição a Monchique e estamos totalmente disponíveis para trabalhar com os agentes locais na sua implementação”, concluiu o presidente da Região de Turismo do Algarve e da Associação de Turismo do Algarve.

Ana Mendes Godinho
Após a assinatura dos vários protocolos coube a Ana Mendes Godinho encerrar a sessão, recordando que, logo após os incêndios de 2018, houve um manifestar de intenção da parte do Governo em se criar um mecanismo financeiro extraordinário, com 100 por cento do investimento assumido pelo Turismo de Portugal, “para se olhar para o dia seguinte”. “Foi no Algarve que desenvolvemos o projeto-piloto do «Cycling & Walking» para afirmar Portugal como um destino que é muito mais do que o mero «Sol e Praia» e queremos aproveitar os ativos naturais que Monchique possui para serem fatores chave de diferenciação. Quem nos procura deseja experiências diferentes, que não existem em mais lado nenhum do planeta, com as pessoas e os produtos endógenos, com o medronho, os enchidos e as camélias de Monchique. É isso que está a posicionar Portugal no Mundo como um destino imperdível”, salientou a Secretária de Estado do Turismo.

Neste programa de ação havia que identificar e reposicionar o que tinha sido destruído com os incêndios, mas aproveitar para se ir mais longe, explicou Ana Mendes Godinho, pensando em novos produtos, percursos e eventos para somar aos já existentes. “Hoje, devemos ter a preocupação em criar conteúdos digitais para se comunicar e promover aquilo que temos de uma forma inteligente. Em 2017, através da promoção digital, o Turismo de Portugal chegou a 157 milhões de pessoas. Se queremos cada vez mais abrir o mapa turístico de Portugal, e não estarmos apenas entornados para o litoral, precisamos de conteúdos que façam a diferença e que cheguem a milhões de pessoas por via de um simples clique”, avisou a governante.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve Informativo®